A dificuldade que temos para conhecer as características do pensamento humano desde o início da humanidade é muito grande. Há quem, diga que a maior dificuldade está na inexistência de registros. Acredito que registro sempre houve, ou seja, nossa dificuldade está, sim, em encontrá-los e, uma vez encontrados, decifrá-los.
O trabalho de pesquisas evolui a cada dia. Equipamentos e métodos são desenvolvidos para facilitar o reconhecimento de idades cronológicas, elementos de formação, ligações genéticas e evolução biológica. As novas evidências encontradas a partir desse trabalho nos mostram pensamentos e conhecimentos tão complexos em civilizações tão antigas que sugerem, no mínimo, uma acentuada perda da memória científica e filosófica.
Mas o que mais nos interessa no estudo do pensamento filosófico é a evidência de um ciclo de tendências do pensamento mundial. Uma evidência tão acentuada que nos leva a crer que a liberdade de pensamento pode ser uma inverdade, ou seja, a depender da época em que vivemos, nossa tendência geral de pensamento segue um ciclo já previamente programado dificilmente de ser evitado.
Quando Edward Wilson sugeriu que o pensamento do Ser Humano é fruto de uma programação, muitos de nós iniciamos um trabalho interno de análise e contestação, descontentes com o fato de podermos ser encarados como apenas mais um robô construído por alguma civilização superior e em experiências de colonização em nosso planeta...
Mas o ciclo das tendências do pensamento mundial nos leva a idéias muito próximas às de Wilson, mas deixo isso para ser discutido mais tarde, depois que dermos um ligeiro giro pela produção do pensamento filosófico a partir dos pré-socráticos.
Para iniciar nosso estudo identificamos a filosofia como uma busca constante, de forma racional e metódica, das razões e dos princípios básicos da vida e do universo. Ela pode ser entendida também, em determinados momentos, como a tentativa do homem de encontrar uma explicação para as razões da existência e do universo por meio de um olhar para dentro de si mesmo, à procura de valores interiores teóricos e práticos que signifiquem sua vida.
Na sua essência, a filosofia tem atração especial pelo todo, adquirindo um caráter predominantemente universalista e generalizador. Os estudos filosóficos direcionam-se para a totalidade dos objetos.
A característica fundamental do filósofo é a sua atitude intelectual na busca permanente do conhecimento por meio do pensamento. Para o filósofo o encontro de uma resposta pode significar apenas o início de uma nova série de questionamentos sobre essa resposta.
Analisando as tendências do pensamento mundial a partir dos pré-socráticos e de uma forma bem generalizada, identifica-se que, a princípio, o pensamento voltou-se para o mundo externo, caracterizada como uma visão de mundo voltada para o objeto exterior e seu significado a partir de sua própria essência.
Com o aparecimento das idéias de Sócrates seguidas por seu discípulo Platão, a tendência do pensamento volta-se para a edificação da vida humana, criando a supremacia da consciência filosófica sobre os objetos práticos, os valores e as virtudes.
Platão ainda conseguiu estender o sentido de consciência filosófica, desenvolvido por Sócrates, ao âmago do conhecimento científico, envolvendo a totalidade da consciência humana à essência dessa consciência filosófica.
A filosofia, nesse momento da vida humana, significou exatamente a auto-reflexão do espírito sobre si mesmo para que, a partir do interior da sua mente, o homem pudesse encontrar as verdadeiras relações entre os valores da verdade, do bem e do belo.
Após esse período o pensamento mundial começa a dar uma guinada de volta ao mundo exterior, passando o objeto a ser visto em sua própria essência. Nessa época predominaram os pensamentos de Aristóteles voltados para a visão de mundo no sentido macrocósmico.
O conhecimento científico passa a ter valor por ele mesmo e o Ser é entendido como um objeto parte do universo, fazendo surgir, então, as idéias básicas do pensamento metafísico, ou seja, a essência das coisas e suas contingências passam a significar os princípios últimos da realidade.
Após Aristóteles os Estóicos e Epicuristas fazem o caminho de volta para o pensamento microcósmico, mostrando terem sofrido forte influência das idéias de Sócrates e Platão. É a auto-reflexão do espírito tomando conta novamente da tendência do pensamento filosófico.
Só mais tarde é que as obras de Descartes, Espinosa e Leibniz trazem outra vez os princípios aristotélicos da visão de mundo no sentido macrocósmico.
Kant foi o marco da volta a Platão.
Mas o idealismo alemão exaltado é o principal responsável pelo retorno à visão macrocósmica de mundo levando ao nascimento do materialismo e do positivismo. Schelling e Hegel mostram essa tendência em suas obras, com forte influência de Aristóteles.
A metodologia filosófica e o seu entendimento formal foram os marcos do neo-kantismo, que levam a tendência filosófica novamente à visão microcósmica de mundo.
Essa visão é verdadeira apenas até o aparecimento da metafísica indutiva (Hartmann, Wundt e Driesch), a filosofia da intuição (Bergson) e a fenomenologia (Husserl e Scheler).
Já em nosso tempo, no final do século XX e início do século XXI as tendências filosóficas passam a se voltar para o microcosmo quase como uma febre de pensamento mundial. Ondas de pensadores contemporâneos fizeram o caminho de volta ao auto-conhecimento e a auto-reflexão do espírito como bases inquestionáveis para o verdadeiro conhecimento humano.
Mas os ciclos parecem estar reduzindo o seu tempo de vida útil e já se vislumbra, ao longe, alguns resquícios do pensamento macrocósmico, como fruto de uma onda materialista que insiste em tomar conta da consciência coletiva mundial.
Mas essa análise será feita por cada um de nós durante nossa vida de reflexões e experiências.
Prof. Roberto Andersen.
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