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Bangladesh bane saco plástico e vende tecnologia verde

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Uma cidade com 13,5 milhões de pessoas, quase sem transporte público, onde o esgoto corre a céu aberto e o trânsito para com a chuva.

Vítima constante de tufões e de enchentes, Dacca, a capital do Bangladesh, poderia ser a cidade mais poluída do mundo, mas dá exemplo de baixa emissão de carbono, consumo responsável e tecnologia sustentável.

Desde 2002, a cidade baniu do comércio as sacolas plásticas que entupiam os bueiros. Nas lojas e supermercados, o consumidor sai com sacolinhas semidescartáveis de juta (fibra de planta) ou pano, que se desfazem em poucos dias.

Sozinha, Dacca descartava 9,3 milhões de sacos plásticos por dia -só 15% iam para o lixo tratado, o restante terminava nos córregos e rios.

Os bengaleses responsabilizam as sacolas plásticas pelas inundações de 1989 e 1998, que deixaram dois terços do país debaixo d'água.

Mesmo oito anos após o fim das sacolinhas, o país ainda não conseguiu limpar dos rios esses detritos, cuja decomposição demora mil anos. Todos os anos retira pelo menos dois caminhões de restos de plásticos dos rios.

Agora, o país, um dos mais pobres do mundo, exporta sacolas ecológicas para EUA, Europa e Japão. Só no ano passado, as exportações bateram US$ 547 milhões.

"É fashion ter uma sacola ecológica "made in Bangladesh". Mas sustentabilidade não é mais luxo inacessível; aqui é questão de sobrevivência", disse à Folha Gofran Ahmad, diretor do Grameen Shakti, braço do grupo Grameen, cuja política de microcrédito valeu um Prêmio Nobel da Paz ao país.

Com exceção dos poucos carros importados, toda a frota utiliza gás natural. O país tem reservas até 2020.

Em Bangladesh, não há proibição à gasolina. A população aderiu porque o gás custa 40% menos.

Com parte dos mananciais contaminados por arsênico, Bangladesh desenvolveu um sistema avançado de reaproveitamento de água da chuva, menos contaminada.

MICROCRÉDITO

Bangladesh é também um dos países com maior experiência no mundo na utilização de energia solar.

No país, só 38% da população tem acesso à rede elétrica, cuja geração depende de termelétricas a gás. Nas regiões mais remotas, o sol é a única fonte de energia.

Até 2009, o Grameen tinha instalado 3 milhões de kits de energia solar, a maioria financiado por microcrédito.

Empresas verdes desenvolveram esses kits -três lâmpadas fluorescentes, uma geladeira e uma TV- a US$ 250, com capacidade para atender ao consumo de quatro adultos.

Há dez anos, custavam quase US$ 1.000.

Segundo Gofran, Bangladesh só não exporta tecnologia solar porque mal atende a demanda interna.

Em 2007, uma escola de Rudrapur (Grande Dacca) ganhou o prêmio Aga Khan de Arquitetura. Construída à mão com bambu, a escola tem uma estrutura que aproveita a luz natural, facilita ventilação e dispersa o calor.

O governo tem papel coadjuvante nas iniciativas ecológicas. Os maiores incentivadores são as ONGs e instituições do terceiro setor.

fonte: Folha

Outernational & Tom Morello - Deportee

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Cover do cantor e compositor Woodie Guthrie feito pela banda Outernational e Tom Morello em forma de protesto às propostas de lei imigratória do Arizona. Além da ótima letra, o vídeo feito retrata as dificuldades que enfrentam os imigrantes no território dos Estados Unidos.





Acabe com o apedrejamento!

terça-feira, 20 de julho de 2010

Semana passada, clamores globais massivos impediram a morte por apedrejamento da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani.

Mas Sakineh ainda pode ser enforcada, e hoje, outras quinze pessoas aguardam execuções por apedrejamento, onde as pessoas são enterradas até o pescoço e grandes pedras são atiradas nas suas cabeças.

A campanha internacional dos corajosos filhos de Sakineh mostra que a condenação global funciona. Vamos tornar o apelo desesperado dessa família em um movimento pelo fim do apedrejamento para sempre - assine a petição e envie para todas a pessoas que você conhece




Uma iraniana em Bruxelas protestando a morte desumana por apedrejamento. Foto: Thierry Roge/Reuters

fonte: Avaaz

Cultura da carne

Não pertenço a nenhuma tribo ou religião. Comecei a eliminar a carne do meu cardápio por questões de bem-estar pessoal. Simplesmente me sentia melhor sem carne. Mais leve, com maior vitalidade, sem o peso da digestão. Isso não faz de mim um ativista, mas não me impede de refletir sobre os efeitos pessoais e sociais de uma vida sem (ou com menos) carne.

Apesar de ter passado um período mais radical, vivendo sem álcool, café, glúten e lácteos, a dieta mais adequada para mim é a do equilíbrio e do bom senso. Quando exagero, faço jejum, volto a essa dieta higienista e retomo o bom funcionamento do organismo.

Assim como a cultura do automóvel, a cultura da carne é algo central em nosso sistema socioeconômico, símbolo de um processo civilizatório baseado na propriedade e na crença da superioridade humana sobre todas as outras formas de vida. E da nossa supremacia cultural sobre nós mesmos, justificando guerras, violências, descasos, abandonos.

Isso faz com a população de gado no Brasil, por exemplo, seja maior que a de humanos, e sirva única e exclusivamente para provê-lo de couro, derivados de leite, carne, além de outros alimentos e produtos, das vísceras ao mocotó. O mesmo se aplica aos frangos, patos, porcos, carneiros e ovelhas, que devem sua existência tão somente como fonte de alimento ao ser humano.

Cada vez mais o processamento da carne se dá modo industrializado, o que resulta em desequilíbrio ecológico, a ponto de se configurar como uma das principais causas do buraco na camada de ozônio e do aquecimento global. Mais água, mais pasto, mais produção de ração, mais desmatamento, mais gases metano.

Assim como a indústria do automóvel, a da carne tem uma relação de causa e efeito com o invetitável abismo entre pobres e ricos no mundo: se todos comerem carne e utilizarem automóvel diariamente, o planeta explode.

Recentemente o Brasil se tornou o maior produtor mundial de carne. Isso diz muito sobre o modelo de desenvolvimento que estamos construindo. E a nossa atitude diante disso diz mais ainda sobre o lugar que ocupamos no planeta.

Sustentabilidade não é algo para delegarmos às empresas e cobrarmos dos governos. É, antes de qualquer coisa, uma questão de cultura e cidadania. Como consumir, como votar e participar da construção das políticas públicas é a questão vital para a vida em sociedade e para a construção da democracia.


Por Leonardo Brant ao Cultura e Mercado

VITÓRIA PELAS BALEIAS!


Juntos nós conseguimos a maior petição pela proteção das baleias, com o extraordinário número de 1,2 milhões de assinaturas. Ela foi entregue diretamente a delegados-chave na reunião da Comissão Baleeira Internacional.

E nós conseguimos acabar com a proposta que legalizaria a caça comercial de baleias!

Essa é uma vitória importante para as baleias. No entanto, vencer essa batalha ainda não garante a segurança das baleias -- o Japão já decidiu continuar matando baleias por motivos "científicos". Para vencer de vez,
nós precisaremos fazer campanhas para fortalecer e reformar a Comissão Baleeira Internacional e mobilizar pessoas conservacionistas em países favoráveis à caça.

Nós podemos conseguir se um grande número de nós doar uma pequena quantia por semana. Nós já chegamos a 6.000 doadores regulares semanais -
se chegaremos a 10.000 nós podemos começar a financiar esta campanha no Japão e em outras nações chave agora!

fonte: Avaaz

Entrevista com Frei Betto

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Frei Betto lutou, foi preso, rezou em passeatas e chegou ao poder com o Lula em Brasília. Agora, ele se define como um "feliz indivíduo não governamental". Depois de correr o mundo, está de volta para onde tudo começou. Vive no convento dos frades dominicanos, uma construção moderna, em Perdizes. De lá, reflete sobre sua trajetória, os caminhos e descaminhos do PT que ajudou a construir. Sem deixar de ser crítico, fala sobre avanços do governo Lula: "Hoje não há uma pessoa que diga que o PT se destaca pela sua integridade". Sobre a indicação de Dilma Rousseff para disputar a sucessão de Lula, diz que se não fosse o mensalão o candidato certamente seria outro.Frei Betto gosta de temperos fortes. Também é assim quando cozinha para os amigos. Faz "bacalhau espiritual" à base de muito leite de coco.

A reportagem e a entrevista é de Paula Bonelli , em O Estado de S. Paulo, 14-06-2010.

Diz que continua amigo de Lula e de Fidel Castro, a quem visitou recentemente. Ele acaba de concluir seu 53º livro, mas que, por superstição, não revela o tema. Conselhos que recebeu de uma mãe de santo quando escrevia Batismo de Sangue, em 1982, sobre sua experiência durante a resistência à ditadura militar.

Eis a entrevista.

O que mudou para que o Brasil viesse a ter uma candidata oriunda da esquerda armada?

É fantástico que, enquanto os torturadores se escondem envergonhados e não conseguem nem votos de seus companheiros de farda, uma pessoa como a Dilma seja hoje a candidata preferencial à Presidência. Acho que ela está preparada, conhece profundamente a administração pública e foi ótima ministra.

Lula fez uma boa escolha?

Lula fez a escolha possível porque as outras se queimaram. Dilma é candidata por falta de opção.

Se não fosse o caso mensalão quem seria o candidato? José Dirceu teria chance?

Lula pode responder, mas, na minha opinião, certamente não seria a Dilma.

O PT é um antes do mensalão e outro depois?

Sem dúvida alguma. O PT tinha dois trunfos simbólicos para garantir a sua credibilidade: ser o partido dos mais pobres e da defesa da ética. De certa maneira, ele ainda é o partido dos desfavorecidos. O apoio popular do presidente Lula vem das políticas sociais que governo desenvolveu. Entretanto, não há hoje ninguém que diga que o PT se destaca por sua integridade.

O caráter da militância mudou?

Com certeza. Nas eleições dos anos 80 e 90 existiam militantes que voluntariamente se dedicavam a fazer panfletagem, que davam o sangue nas campanhas. Hoje os cabos eleitorais do PT são pagos. Isso é triste.

Por que o governo Lula não deu continuidade ao Fome Zero?

Porque quem controlava o cadastro eram representantes eleitos em assembleias populares. Isso provocou gritaria dos prefeitos, pois o dinheiro não passava por eles. Saía da Caixa Econômica direto para as famílias beneficiadas. O prefeitos ameaçaram sabotar e o governo federal decidiu erradicar os comitês gestores formados em mais de 2 mil municípios. O governo deu aos prefeitos o controle do cadastro, permitindo que famílias fossem incluídas ou retiradas do programa, estimulando a corrupção. Isso criou uma relação de clientelismo político no País.

Por que deixou o governo?

Descobri que não era minha vocação. Fui convocado para fazer o Fome Zero que tinha um caráter emancipatório. O governo matou o programa e o substituiu pelo Bolsa Família, que é usado como cacife eleitoral. Até agora nenhum gênio achou a porta de saída.

Você guarda mágoas?

Não, ao contrário. Minha experiência no governo expus em dois livros: A Mosca Azul e Calendário do Poder. Tenho bons amigos lá e espero que tudo tenha continuidade. Queria voltar a escrever, pois é minha verdadeira vocação.

Quais são os problemas do governo Lula na sua opinião?

O governo Lula, apesar de muitos méritos, ainda deve à Nação reformas básicas, como a agrária, tributária, política, da saúde e da educação. O principal defeito do governo atual é não ter mexido na estrutura.

O presidente Lula o consulta?

Não, o presidente é meu amigo. Nunca fui consultor, guru. Isso que falam é bobagem.

Tem falado com Fidel Castro?

Tenho. Quando vou a Cuba, ele me recebe na casa dele. A última vez foi no dia 3 de março, quando fui comemorar os 25 anos do livro Fidel e a Religião.

Acredita em abertura do governo de Cuba com Raúl Castro?

Raúl está empenhado em reduzir o paternalismo estatal e permitir o aumento dos salários. Mas o retorno do capitalismo está fora de cogitação.

O que acha do Lula intermediar acordo para que o Irã desenvolva seu programa nuclear?

Lula é um grande negociador. Ele provoca enorme ciumeira no cenário internacional porque não precisa pedir licença a ninguém para desempenhar seu papel de agenciador da paz.

Não importam os argumentos de que o Irã tem um governo teocrático e de que não respeita os direitos humanos?

Mas os EUA também não respeitam. Quem deu a eles o direito de ocupar o Vietnã, de matar mais de 600 mil civis no Iraque e outros tantos no Afeganistão? Que moral têm para falar de um país como Irã?

É possível, então, ignorar a falta de liberdade de expressão e a pena de morte?

E nos EUA não tem?

É legítimo se os dois países se comportam da mesma forma?

Nós queremos a paz no mundo e não haverá paz se não tiver justiça. Enquanto não vem, o melhor caminho é dialogar. Isso o Lula faz muito bem.

Como vê o comportamento da igreja em relação à pedofilia?

A igreja tardou a tomar providências efetivas. Primeiro internas, com a suspensão dessas pessoas, depois respondendo pelos crimes cometidos perante a legislação vigente.

O que está por trás disso?

A ideia de que todo sacerdote precisa ter vocação para o celibato. Esse não era o ponto de vista de Jesus. E como sei disso? Porque está no primeiro capítulo do Evangelho de Marcos, que fala que Jesus curou a sogra de Pedro. Agora, se Pedro tinha sogra, qual é a conclusão? E o interessante é que não só Jesus incorpora ao grupo de apóstolos um homem notoriamente casado como o escolhe para ser o primeiro Papa. O celibato foi uma medida tardia na história da igreja católica.

E o celibato leva à pedofilia?

Isso acontece por dois motivos: a obrigatoriedade do celibato e a má formação afetiva dos seminaristas. Acho um crime colocar no seminário um jovem antes dos 15 anos, que não tem claro ainda o seu perfil sexual, e depois jogá-lo sozinho em uma paróquia sem qualquer relação familiar. Essa carência leva, às vezes, a aberrações.

Você é celibatário?

Sim. Para quem vive numa comunidade religiosa como eu, não faz o menor sentido casar porque você partilha os seus bens, a sua vida. Agora, para os sacerdotes diocesanos não há nenhuma razão. Se há nesses escândalos de pedofilia algo aproveitável é a possibilidade da igreja voltar a discutir a obrigatoriedade do celibato e a ordenação das mulheres.

Qual é a explicação para as mulheres não sejam ordenadas?

A igreja considera ainda hoje a mulher um ser inferior ao homem. No período medieval, a instituição abraçou o princípio de São Tomás de Aquino que, entre grandes luzes, disse essa bobagem.

Como era o Frei Betto de 30 anos atrás e como é o de hoje?

Continuo um cigano de Deus, viajando a bordo de um paradoxo. Há 30 anos eu acreditava que o meu tempo pessoal coincidiria com o meu tempo histórico. Hoje, sei que não participarei da colheita, mas faço questão de morrer semente.


fonte: Estadão

Nuvens negras sobre o Irã

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Que o Irã não tem uma política agressiva nem pretende avançar para a bomba nuclear, até o Pentágono reconhece em um relatório ao Congresso dos EUA de abril passado. No entanto, isso não impede os EUA de ameaçarem o país com uma invasão devastadora, recorrendo até ao armamento nuclear.

A grave ameaça do Irã é a mais séria crise da política externa que enfrenta a Administração Obama. O Congresso acaba de endurecer as sanções contra aquele país, com penas mais pesadas às companhias estrangeiras que ali negociarem. A Administração expandiu a capacidade ofensiva dos EUA na ilha africana Diego Garcia, reclamada pelo Reino Unido, que expulsou a população a fim de que os EUA pudessem construir uma grande base para atacar o Médio Oriente e a Ásia Central.

A Marinha estaduniense informou que tinha enviado para a ilha equipamento para apoiar os submarinos dotados de mísseis Tomahawk, com capacidade para transportar ogivas nucleares. De acordo com o relatório de carga da Marinha, apanhado pelo Sunday Herald, de Glasgow, o equipamento militar inclui 387 destruidores de bunkers para fazerem explodir estruturas subterrâneas reforçadas. "Estão ativando a engrenagem para destruir o Irã", disse a esse jornal o diretor do Centro de Estudos Internacionais e Diplomáticos da Universidade de Londres, Dan Plesch. "Os bombardeiros e os mísseis de longo alcance dos EUA estão preparados para destruir 10.000 objetivos no Irã em poucas horas". A imprensa árabe informa que uma frota estadunidense (com um navio israelense) passou recentemente o canal do Suez a caminho do Golfo Pérsico, com a missão de fazer "aplicar as sanções contra o Irã e supervisionar os barcos que entram e saem desse país". Alguns meios de comunicação britânicos e israelenses informam que a Arábia Saudita está a providenciar um corredor aéreo para um eventual bombardeamento israelense ao Irã (o que os sauditas negam).

No seu regresso de uma visita ao Afeganistão para tranquilizar os seus aliados da Otan depois da demissão do general Stanley McChrystal, o almirante Michael Mullen, responsável máximo da Junta de chefes de Estado-Maior, visitou Israel para se encontrar com o chefe de Estado-maior das Forças de Defesa israelenses, Gabi Ashkenazi, e continuar um diálogo estratégico anual. A reunião centrou-se na "preparação de Israel e dos Estados Unidos perante a possibilidade de um Irã com capacidade nuclear", de acordo com o Haaretz, que, além disso, informou que Mullen tinha enfatizado: "Procuro sempre ver os desafios numa perspectiva israelense".

Alguns analistas descrevem a ameaça iraniana em termos apocalípticos. "Os EUA deverão enfrentar o Irã ou entregar o Oriente Médio" adverte Amitai Etzioni. Se o programa nuclear se concretiza, disse, a Turquia, a Arábia Saudita e outros Estados "mover-se-ão" em direcção á nova "superpotência" iraniana. Numa retórica menos acalorada, isso significa que poderia dar forma a uma aliança regional independente dos EUA.

No jornal do Exército estadunidense Military Review, Etzioni pressiona os EUA para um ataque não só contra as instalações nucleares do Irã, mas também contra os seus ativos militares não nucleares, incluindo infra-estruturas – isto é, sociedade civil. "Este tipo de ação militar é semelhante às sanções: provocar danos com o objetivo de mudar posturas, ainda que por meios mais poderosos", escreve.

Uma análise autorizada sobre a ameaça iraniana é dada pelo relatório do departamento de Defesa dos EUA apresentado ao Congresso em abril passado. Os gastos militares do país são "relativamente baixos em comparação com o resto da região" sustenta o documento. A doutrina militar do Irã é estritamente "defensiva (…) concebida para atrasar uma invasão e forçar uma solução diplomática das hostilidades". O relatório diz ainda que "o programa nuclear do Irã e a sua vontade de manter aberta a possibilidade de desenvolver armas nucleares (são) uma parte central da sua estratégia de dissuasão".

Para Washington, a capacidade dissuasória do Irã é um exercício ilegítimo de soberania que interfere nos desígnios globais dos EUA. Concretamente, se ameaça o controlo estadunidense dos recursos energéticos do Oriente Médio. Mas a ameaça do Irã vai mais além da dissuasão. Teerã também está procurando expandir a sua influência na região, o que é visto como um fator de "desestabilização", presumivelmente em contraste com a "estabilizadora" invasão e ocupação militar estadunidense dos vizinhos do Irã. Para além desses crimes – prossegue o relatório do Pentágono –, o Irã está apoiando o terrorismo com o seu apoio ao Hezbollah e ao Hamas, as maiores forças políticas do Líbano e da Palestina (se é que as eleições contam).

O modelo de democracia no mundo muçulmano, apesar dos seus sérios defeitos, é a Turquia, que tem eleições relativamente livres. A Administração Obama indignou-se quando a Turquia se aliou ao Brasil na procura de um compromisso com o Irã para que restringisse o seu enriquecimento de urânio. Os EUA minaram rapidamente o acordo promovendo uma resolução do Conselho de Segurança da ONU com novas sanções contra o Irã, tão carentes de sentido que a China logo as apoiou alegremente, assumindo que, quando muito, impediriam os interesses ocidentais de concorrer com a China nos recursos do Irã. E sem qualquer surpresa, a Turquia (tal como o Brasil) votou contra a iniciativa dos EUA. O outro membro do Conselho de Segurança da região, o Líbano, absteve-se.

Estas atuações provocaram ainda maior consternação em Washington. Philip Gordon, o diplomata mais prestigiado da Administração Obama em assuntos europeus, advertiu a Turquia que as suas acções não são compreendidas nos EUA e que deveria "demonstrar o seu compromisso de parceiro do Ocidente", segundo informou a Associated Press. Uma admoestação rara a um aliado crucial da Otan. A classe política também assim pensa. Steven A. Cook, um perito do Conselho de Relações Exteriores, defende que a pergunta crítica é: "Como manter os turcos dentro dos carris?" - ou seja, como bons democratas obedecerem às ordens.

Não há indícios de que outros países da região sejam mais favoráveis às sanções promovidas pelos EUA que às posições da Turquia. O Paquistão e o Irã, reunidos em Ancara, assinaram recentemente um acordo para um novo gasoduto. O mais preocupante para os EUA é que o gasoduto possa estender-se à Índia. O tratado de 2008 entre os EUA e a Índia, apoiando os seus programas nucleares, pretende evitar que este país se una ao gasoduto, de acordo com Moeed Yusuf, um assessor em assuntos subasiáticos do Instituto da Paz dos EUA.

A Índia e o Paquistão são dois dos três países que recusaram assinar o Tratado de Não Proliferação (TNP). Israel é o terceiro. Todos eles desenvolveram armamentos nucleares com o apoio dos EUA, e continuam a fazê-lo.

Ninguém de bom senso quer que o Irã, ou qualquer outro país, desenvolva armas nucleares. Uma maneira óbvia de mitigar ou eliminar esta ameaça consiste no estabelecimento de uma zona livre de armas nucleares no Médio oriente. Este tema foi levantado (uma vez mais) na conferência do TNP nas Nações Unidas no início de março passado. O Egito, como presidente do Movimento dos Não Alinhados – constituído por 118 países – propôs que a conferência apoiasse um plano de início das negociações em 2011 propôs um Oriente Médio livre de armas nucleares, como foi acordado pelos países ocidentais, incluídos os EUA, na conferência do TNP de 1995. Formalmente, Washington ainda está de acordo, mas insiste que Israel fique isento – e não há qualquer elemento que permita dizer que as deliberações do pacto se apliquem aos EUA.

Em vez de dar passos efetivos para a redução da escaldante ameaça de proliferação de armas nucleares no Irã ou em qualquer outra parte, os EUA movimentam-se no sentido do seu controle das vitais regiões produtoras de petróleo do Médio Oriente, de forma violenta, se não puder ser de outra maneira.

Por Noam Chomsky, professor de linguística do MIT (Massachusetts Institute of Technology).



How to Stop an Exploding Man?

De onde vem? Essa busca? Essa necessidade de resolver os mistérios da vida quando as mais simples questões podem nunca ser ser respondidas. Por que estamos aqui? O que é a alma? Por que sonhamos? Talvez seja melhor nem procurarmos. Não aprofundar, não ansiar. Mas essa não é a natureza humana. Não é o caração humano. Não é por isso que estamos aqui, mas ainda nos esforçamos para fazer alguma diferença... mudar o mundo, sonhar com esperança, nunca tendo a certeza de quem encontraremos pelo caminho. Quem dentre o mundo de estranhos vai segurar nossa mão, tocar nossos corações, e compartilhar a dor de tentar?

Nós sonhamos com esperança, sonhamos com mudança, fogo, amor, e morte. E então acontece, o sonho se torna realidade, e a resposta para essa jornada, esta necessidade de resolver os mistérios da vida finalmente se revela como a luz brilhante da nova aurora. Tanto esforço por um significado, um proposito. E no fim, nós os encontramos um nos outros. Nossa experiência compartilhada do fantástico e do mundano. A simples necessidade do humano de encontrar semelhantes, para conectar, e saber em nossos corações... que não estamos sozinhos.

O Time que preferiu Morrer a Perder

terça-feira, 13 de julho de 2010

Partida da Morte


A história do futebol mundial inclui milhares de episódios emocionantes e comovedores, mas seguramente nenhum seja tão terrível como o protagonizado pelos jogadores do Dinamo de Kiev nos anos 40. Os jogadores jogaram um partida sabendo que se ganhassem seriam assassinados e, no entanto, decidiram ganhar. Na morte deram uma lição de coragem, de vida e honra, que não encontra, por seu dramatismo, outro caso similar no mundo.

Para compreender sua decisão, é necessário conhecer como chegaram a jogar aquela decisiva partida, e por que um simples encontro de futebol apresentou para eles o momento crucial de suas vidas.

Tudo começou em 19 de setembro de 1941, quando a cidade de Kiev (capital ucraniana) foi ocupada pelo exército nazista, e os homens de Hitler aplicaram um regime de castigo impiedoso e arrasaram com tudo. A cidade converteu-se num inferno controlado pelos nazistas, e durante os meses seguintes chegaram centenas de prisioneiros de guerra, que não tinham permissão para trabalhar nem viver nas casas, assim todos vagavam pelas ruas na mais absoluta indigência. Entre aqueles soldados doentes e desnutridos, estava Nikolai Trusevich, que tinha sido goleiro do Dinamo.

Josef Kordik, um padeiro alemão a quem os nazistas não perseguiam, precisamente por sua origem, era torcedor fanático do Dinamo. Num dia caminhava pela rua quando, surpreso, olhou um mendigo e de imediato se deu conta de que era seu ídolo: o gigante Trusevich.

Ainda que fosse ilegal, mediante artimanhas, o comerciante alemão enganou aos nazistas e contratou o goleiro para que trabalhasse em sua padaria. Sua ânsia por ajudá-lo foi valorizado pelo goleiro, que agradecia a possibilidade de se alimentar e dormir debaixo de um teto. Ao mesmo tempo, Kordik emocionava-se por ter feito amizade com a estrela de sua equipe.

Na convivência, as conversas sempre giravam em torno do futebol e do Dinamo, até que o padeiro teve uma idéia genial: encomendou a Trusevich que em lugar de trabalhar como ele, amassando pães, se dedicasse a buscar o resto de seus colegas. Não só continuaria lhe pagando, senão que juntos podiam salvar os outros jogadores.

O arqueiro percorreu o que restara da cidade devastada dia e noite, e entre feridos e mendigos foi descobrindo, um a um, a seus amigos do Dinamo. Kordik deu trabalho a todos, se esforçando para que ninguém descobrisse a manobra. Trusevich encontrou também alguns rivais do campeonato russo, três jogadores da Lokomotiv, e também os resgatou. Em poucas semanas, a padaria escondia entre seus empregados uma equipe completa.

Reunidos pelo padeiro, os jogadores não demoraram em dar o seguinte passo, e decidiram, alentados por seu protetor, voltar a jogar. Era, além de escapar dos nazistas, a única que bem sabiam fazer. Muitos tinham perdido suas famílias nas mãos do exército de Hitler, e o futebol era a última sombra mantida de suas vidas anteriores.
Como o Dinamo estava enclausurado e proibido, deram um novo nome para aquela equipe. Assim nasceu o FC Start, que através de contatos alemães começou a desafiar a equipes de soldados inimigos e seleções formadas no III Reich.

Em sete de junho de 1942, jogaram sua primeira partida. Apesar de estarem famintos e cansados por terem trabalhado toda a noite, venceram por 7 a 2. Seu seguinte rival foi a equipe de uma guarnição húngara, ganharam de 6 a 2. Depois meteram 11 gols numa equipa romena. A coisa ficou séria quando em 17 de julho enfrentaram uma equipe do exército alemão e golearam por 6 a 2. Muitos nazistas começaram a ficar chateados pela crescente fama do grupo de empregados da padaria e buscaram uma equipe melhor para ganhar deles. Trouxeram da Hungria o MSG com a missão de derrotá-los, mas o FC Start goleou mais uma vez por 5 a 1, e mais tarde, ganhou de 3 a 2 na revanche.

Em seis de agosto, convencidos de sua superioridade, os alemães prepararam uma equipe com membros da Luftwaffe, o Flakelf, que era uma grande time, utilizado como instrumento de propaganda de Hitler. Os nazistas tinham resolvido buscar o melhor rival possível para acabar com o FC Start, que já gozava de enorme popularidade entre o sofrido povo refém dos nazistas. A surpresa foi grande, porque apesar da violência e falta de esportividade dos alemães, o Start venceu por 5 a 1.

Depois dessa escandalosa queda do time de Hitler, os alemães descobriram a manobra do padeiro. Assim, de Berlim chegou uma ordem de acabar com todos eles, inclusive com o padeiro, mas os hierarcas nazistas locais não se contentaram com isso. Não queriam que a última imagem dos russos fosse uma vitória, porque acreditavam que se fossem simplesmente assassinados não fariam nada mais que perpetuar a derrota alemã.



A superioridade da raça ariana, em particular no esporte, era uma obsessão para Hitler e os altos comandos. Por essa razão, antes de fuzilá-los, queriam derrotar o time em um jogo.

Com um clima tremendo de pressão e ameaças por todas as partes, anunciou-se a revanche para 9 de agosto, no repleto estádio Zenit. Antes do jogo, um oficial da SS entrou no vestiário e disse em russo:

- "Vou ser o juiz do jogo, respeitem as regras e saúdem com o braço levantado", exigindo que eles fizessem a saudação nazista.


Já no campo, os jogadores do Start (camisa vermelha e calção branco) levantaram o braço, mas no momento da saudação, levaram a mão ao peito e no lugar de dizer: - "Heil Hitler!", gritaram - "Fizculthura!", uma expressão soviética que proclamava a cultura física.

Os alemães (camisa branca e calção negro) marcaram o primeiro gol, mas o Start chegou ao intervalo do segundo tempo ganhando por 2 a 1.

Receberam novas visitas ao vestiário, desta vez com armas e advertências claras e concretas:

- "Se vocês ganharem, não sai ninguém vivo". Ameaçou um outro oficial da SS. Os jogadores ficaram com muito medo e até propuseram-se a não voltar para o segundo tempo. Mas pensaram em suas famílias, nos crimes que foram cometidos, na gente sofrida que nas arquibancadas gritava desesperadamente por eles e decidiram, sim, jogar.

Deram um verdadeiro baile nos nazistas. E no final da partida, quando ganhavam por 5 a 3, o atacante Klimenko ficou cara a cara com o arqueiro alemão. Deu lhe um drible deixando o coitado estatelado no chão e ao ficar em frente a trave, quando todos esperavam o gol, deu meia volta e chutou a bola para o centro do campo. Foi um gesto de desprezo, de deboche, de superioridade total. O estádio veio abaixo.

Como toda Kiev poderia a vir falar da façanha, os nazistas deixaram que saíssem do campo como se nada tivesse ocorrido. Inclusive o Start jogou dias depois e goleou o Rukh por 8 a 0. Mas o final já estava traçado: depois dessa última partida, a Gestapo visitou a padaria.

O primeiro a morrer torturado em frente a todos os outros foi Kordik, o padeiro. Os demais presos foram enviados para os campos de concentração de Siretz. Ali mataram brutalmente a Kuzmenko, Klimenko e o arqueiro Trusevich, que morreu vestido com a camiseta do FC Start. Goncharenko e Sviridovsky, que não estavam na padaria naquele dia, foram os únicos que sobreviveram, escondidos, até a libertação de Kiev em novembro de 1943. O resto da equipe foi torturada até a morte.

Ainda hoje, os possuidores de entradas daquela partida têm direito a um assento gratuito no estádio do Dinamo de Kiev. Nas escadarias do clube, custodiado em forma permanente, conserva-se atualmente um monumento que saúda e recorda àqueles heróis do FC Start, os indomáveis prisioneiros de guerra do Exército Vermelho aos quais ninguém pôde derrotar durante uma dezena de históricas partidas, entre 1941 e 1942.

Foram todos mortos entre torturas e fuzilamentos, mas há uma lembrança, uma fotografia que, para os torcedores do Dinamo, vale mais que todas as jóias em conjunto do Kremlin. Ali figuram os nomes dos jogadores.

Na Ucrânia, os jogadores do FC Start hoje são heróis da pátria e seu exemplo de coragem é ensinado nos colégios. No estádio Zenit uma placa diz "Aos jogadores que morreram com a cabeça levantada ante o invasor nazista".

O mapa da pobreza infantil na América Latina

sábado, 10 de julho de 2010


Estudo realizado em conjunto pela Cepal e pela Unicef traça o mapa da pobreza na América Latina. Segundo estudo, cerca de 80 milhões de crianças vivem em situação de pobreza na região. Deste total, cerca de 32 milhões vivem em situação de pobreza extrema. Costa Rica, Uruguai e Argentina apresentam os melhores índices. Os índices mais graves de pobreza infantil aparecem em El Salvador, Guatemala e Bolívia. Cuba não foi avaliada no informe das agências da ONU.

Na América Latina há 80 milhões de crianças que vivem em situação de pobreza. Desse total, 17,9% vivem em condições de pobreza extrema (32 milhões). Os dados são de um informe elaborado pela Comissão Econômica para América Latina (Cepal) e Unicef, cujas conclusões preliminares acabam de ser apresentadas. Nele se estabelece que dos 18 países da região, a Argentina ocupa o terceiro lugar em qualidade de vida das crianças pobres, atrás do Uruguai e da Costa Rica. Mais abaixo aparecem Colômbia, Brasil, México, Perú, Bolívia e Honduras, entre outros. O critério utilizado não é só a renda, mas também as possibilidades de acesso aos serviços básicos como educação, saúde, água potável, alimentação e informação.

“Os governos que melhoraram muito foram o Uruguai, a Costa Rica e a Argentina. Nossos indicadores dão conta de políticas de longo prazo. Se as crianças têm um acesso melhor à saúde, se adoecem menos, poderão alimentar-se melhor e terão mais oportunidades de aprender na sua passagem pela escola, disse ao Página/12 Enrique Delamónica, assessor de política social e econômica da Unicef.

Em 2005 a Unicef estabeleceu uma definição de pobreza: “As crianças pobres são aquelas que sofrem uma privação de recursos materiais, espirituais e emocionais necessários para sobreviver, desenvolverem-se e prosperarem”. Esta abordagem da pobreza infantil permite entender o fenômeno de maneira integral, não só limitado à questão da renda.

A Cepal e a Unicef elaboraram o informe: “A pobreza infantil: um desafio prioritário” - cujo resultado final será publicado em aproximadamente dois meses -, que mediu os níveis de pobreza das crianças da América Latina. Os melhores colocados foram Costa Rica, com 20,5% de sua população infantil na pobreza; o Uruguai (23,9%) e em terceiro, a Argentina (28,7). Embora os números sejam altos, contrastam com os resultados de outros países da região. Encabeçando os piores resultados estão: El Salvador (86,8%), Guatemala (79,7%), Bolivia (77%), Perú (73%), México (40%) e Colômbia (38,5%). Cuba não aparece no informe.

O trabalho elaborado pelos dois organismos pretende oferecer ferramentas para que os países possam medir a pobreza corretamente. Por isso, destacam que não se pode levar em conta apenas os indicadores salariais e os dados da inflação e o custo da cesta básica, como o ocorre na Argentina, com a medição do Indec. As autoridades do organismo estão trabalhando para modificar o indicador de pobreza por esse mesmo motivo. O índice atual, que toma como registro as linhas de pobreza e indigência, foi estabelecido na década de 90, sob a influência de Domingo Cavallo.

“Os pais podem ter renda abaixo da linha da pobreza, mas graças às políticas públicas voltadas à educação, saúde, alimentação, as crianças não sofrem uma condição de pobreza infantil, entendida como a perda de direitos essenciais”, explicou Delamónica.

Os dados para este informe foram recolhidos entre 2006 e 2007. Apesar dessa aparente desatualização, os técnicos da Unicef e da Cepal explicaram a este jornal que as pesquisas que tomam serviços básicos como indicadores mudam em períodos maiores que três anos, enquanto que os indicadores que tomam somente a renda são atualizados mensalmente. Esta não é uma diferença menor, sobretudo num país onde as estatísticas públicas estão sob suspeita e qualquer consultoria diz ter a capacidade de medir níveis reais de pobreza.

Por exemplo, o diretor da Red Solidaria, Juan Carr, assinalou nos últimos dias que, embora não questione a existência da pobreza, reconhece que “a fome segue diminuindo no país desde há oito anos, graças à ação do Estado e a outras instituições”.

“A existência de privações severas ou moderadas que afetem à população infantil são superáveis a partir de uma maior intervenção direta dos Estados – em saúde e educação – e indireta, mediante o aumento da renda das famílias, seja por pela criação de emprego ou pelas políticas de transferência de renda (embora o informe não deixe claro, este seria o caso da Asignación Universal por Hijo). O investimento social e o gasto público para a infância não só devem incrementar-se para melhorar as condições de vida das crianças, mas também para promover um desenvolvimento mais inclusive e igualitário”, destaca o informe Cepal-Unicef.

Tradução: Katarina Peixoto

fonte: CartaMaior

A velha mídia está derretendo

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Como um iceberg a navegar em águas quentes e turbulentas, a velha mídia está derretendo. O mundo está mudando, o Brasil é outro e os brasileiros desenvolvem, aceleradamente, novos hábitos de informação.

Um retrato desse processo pode ser visto na recente pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom-P.R.), destinada a descobrir o que o brasileiro lê, ouve, vê e como analisa os fatos e forma sua opinião.

A pesquisa revelou as dimensões que o iceberg ainda preserva. A televisão e o rádio permanecem como os meios de comunicação mais comuns aos brasileiros. A TV é assistida por 96,6% da população brasileira, e o rádio, por expressivos 80,3%. Os jornais e revistas ficam bem atrás. Cerca de 46% costumam ler jornais, e menos de 35%, revistas. Perto de apenas 11,5% são leitores diários dos jornais tradicionais.

Quanto à internet, os resu ltados, da forma como estão apresentados, preferiram escolher o lado cheio do copo. Avalia-se que a internet no Brasil segue a tendência de crescimento mundial e já é utilizada por 46,1% da população brasileira. No entanto, é preciso uma avaliação sobre o lado vazio do copo, ou seja, a constatação de que os 53,9% de pessoas que não têm qualquer acesso à internet ainda revelam um quadro de exclusão digital que precisa ser superado. Ponto para o Programa Nacional da Banda Larga, que representa a chance de uma mudança estrutural e definitiva na forma como os brasileiros se informam e comunicam-se.

A internet tem devorado a TV e o rádio com grande apetite. Os conectados já gastam, em média, mais tempo navegando do que em frente à TV ou ao rádio. Esse avanço relaciona-se não apenas a um novo hábito, mas ao crescimento da renda nacional e à incorporação de contingentes populacionais pobres à classe média, que passaram a ter condições de a dquirir um computador conectado.

O processo em curso não levará ao desaparecimento da TV, do rádio e da mídia impressa. O que está havendo é que as velhas mídias estão sendo canibalizadas pela internet, que tornou-se a mídia das mídias, uma plataforma capaz de integrar os mais diversos meios e oferecer ao público alternativas flexíveis e novas opções de entretenimento, comunicação pessoal e “autocomunicação de massa”, como diz o espanhol Manuel Castells.

Ainda usando a analogia do iceberg, a internet tem o poder de diluir, para engolir, a velha mídia.

A pesquisa da Secom-P.R. dá uma boa pista sobre o grande sucesso das plataformas eletrônicas das redes sociais. A formação de opinião entre os brasileiros se dá, em grande medida, na interlocução com amigos (70,9%), família (57,7%), colegas de trabalho (27,3%) e de escola (6,9%), o namorado ou namorada (2,5%), a igreja (1,9%), os movimentos sociais (1,8%) e os si ndicatos (0,8%). Alerta para movimentos sociais, sindicatos e igrejas: seu “sex appeal” anda mais baixo que o das(os) namoradas(os).

Estes números confirmam estudos de longa data que afirmam que as redes sociais influem mais na formação da opinião do que os meios de comunicação. Por isso, uma informação muitas vezes bombardeada pela mídia demora a cair nas graças ou desgraças da opinião pública: ela depende do filtro exercido pela rede de relações sociais que envolve a vida de qualquer pessoa. Explica também por que algo que a imprensa bombardeia como negativo pode ser visto pela maioria como positivo. A alta popularidade do Governo Lula, diante do longo e pesado cerco midiático, talvez seja o exemplo mais retumbante.

Em suma, o povo não engole tudo o que se despeja sobre ele: mastiga, deglute, digere e muitas vezes cospe conteúdos que não se encaixam em seus valores, sua percepção da realidade e diante de informações que ele consegue por meios próprios e muito mais confiáveis.

É aqui que mora o perigo para a velha mídia. Sua credibilidade está descendo ladeira abaixo. Segundo a citada pesquisa, quase 60% das pessoas acham que as notícias veiculadas pela imprensa são tendenciosas.

Um dado ainda mais grave: 8 em cada 10 brasileiros acreditam muito pouco ou não acreditam no que a imprensa veicula. Quanto maior o nível de renda e de escolaridade do brasileiro (que é o rumo da atual trajetória do país), maior o senso crítico em relação ao que a mídia veicula – ou “inocula”.

A velha mídia está se tornando cada vez mais salgada para o povo. Em dois sentidos: ela pode estar exagerando em conteúdos cada vez mais difíceis de engolir, e as pessoas estão cada vez menos dispostas a comprar conteúdos que podem conseguir de graça, de forma mais simples, e por canais diretos, mais interativos, confiáveis, simpáticos e prazerosos. Num momento em que tudo o que parece sólido se desmancha… na água, quem quiser sobreviver vai ter que trocar as lições de moral pelas explicações didáticas; vai ter que demitir os pit bulls e contratar mais explicadores, humoristas e chargistas. Terá que abandonar o cargo, em que se autoempossou, de superego da República.

Do contrário, obstinados na defesa de seus próprios interesses e na descarga ideológica coletiva de suas raivas particulares, alguns dos mais tradicionais veículos de comunicação serão vítimas de seu próprio veneno. Ao exagerarem no sal, apenas contribuirão para acelerar o processo de derretimento do impávido colosso iceberg que já não está em terra firme.

Por Antonio Lassance, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política. Artigo publicado originalmente na Carta Maior.


fonte: FazendoMedia

Irã: Uma democracia de sonho

Moussavi, o candidato eleito pelo ocidente, tomou na bunda contra Ahmadinejad, que foi escolhido pelo povo iraniano com mais de 60% dos votos válidos. Após os resultados, criou-se todo o rebuliço sobre o qual já sabemos: protestos e pedidos de recontagem de votos. A imprensa ocidental tomou partido da pendenga e resolveu mostrar a que veio: tentou colar a imagem no Irã de uma ditadura sanguinária e que não respeita direitos humanos. Por que tanto empenho em formar esse uníssono?

Concordo com o fato de que o Irã não é uma democracia que respeita muito os pilares dessa forma de governo que ainda sobrevoa nosso mundo das ideias. As censuras à imprensa internacional que o digam. Quanto a direitos humanos, os ocidentais não estão muito atrás: temos Guantánamo e policiais assassinos no Rio de Janeiro, ambos torturam e matam inocentes sem julgamento. Somos bem parecidos nesses vícios.

O sistema eleitoral deles se parece muito mais com a forma de democracia ocidental do que a pequena cabecinha do humano do oeste, que acha que tudo que vem do Oriente Médio é esfiha e bomba, pode achar. Aliás, com pequenos detalhes bastante desejáveis por aqui. O voto é facultativo no Irã: qualquer cidadão com mais de 18 anos pode votar, se quiser. Isso é ainda um tabu para as nossas mesas de votação regidas por políticos que se utilizam do velho voto de cabresto. Lá, não há voto para colégios eleitorais que elegem delegados que votam por nós, como há nos Estados Unidos, cruzadistas de um american way of vote: o voto é direto e individual. Outra coisa: não podemos negar que os iranianos participam do processo. Mais de um milhão de pessoas foram às ruas protestar contra o resultado das eleições.

Sim, aqueles que protestavam tomaram muita porrada da polícia. Tal lá como cá. A polícia de José Serra espancou estudantes que protestavam na USP; Rambo e sua turma, os policiais que torturaram e mataram de graça em Diadema, estão soltos Lembrem-se de que somos o país do massacre de El Dorado dos Carajás e seus tiros de advertência na cabeça. Qualquer um que ande no Centro do Rio de Janeiro sente um frio na barriga quando ouve “olha o rapa!”: em poucos momentos teremos um espetáculo com hordas de camelôs sendo espancados sem piedade pela guarda da “ordem”.

Sobre o seu sistema de governo, os mais etnocêntricos afirmarão que os iranianos convivem com um sistema que mistura oficialmente religião com política. Partidários que são da separação clássica entre as duas esferas dirão que isso é um retrocesso. Por lá há um líder supremo, o senhor Ali Khamenei, que ganhou o posto por ser uma figura respeitada entre os islâmicos. Esse indivíduo tem um poder de consulta, tal qual uma Rainha da Inglaterra, soberana de uma dinastia que já governou a maior potência colonial de todos os tempos; e que assenta a glória de seu posto à vontade de Deus.

Os tópicos da agenda que orientaram o povo iraniano em seu voto foram desemprego e sistema previdenciário. O programa nuclear, grande bicho-papão das potências ocidentais, que são potências nucleares há muito tempo, estava em décimo plano. Diga-se de passagem, ter um programa nuclear é um direito soberano de qualquer nação. As potências nucleares que chiam contra isso foram as mesmas que firmaram acordo para a destruição gradativa de seus arsenais e não o fizeram. Quem tem cu tem medo, e no Irã não é diferente.

A intenção do texto não é afirmar quem é melhor ou pior (a grandiosa imprensa “imparcial” já cumpre esse papel), mas mostrar que somos, ocidentais e orientais, muito semelhantes em vários pontos. Em um mundo pretensamente globalizado, a criação de monstros estereotipados, com turbantes, barbas e bombas, serve muito bem para a manutenção de status quo de grupos que estão no poder. Criar mitos pela distância dos fatos e argumentos de imprensa é fácil, quando conta com a nossa sedutora premissa de superioridade ocidental. Entender o outro, e respeitá-lo, é sempre um gesto de caridade e concessão. Se superiores fôssemos, isso deveria ser um costume.

O Irã, como todo o Ocidente, tem uma democracia de sonho: ainda está distante de se tornar uma realidade.


Fonte:
Fazenda Virtual
 

2009 ·Axis of Justice by TNB