Despretensioso, Lucas Waricoda, estudante do segundo ano de jornalismo da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), no Paraná, nunca pensou que um texto seu, publicado em um blog acadêmico, fosse ser tão lido. E que o caso fosse parar na Justiça.
No último dia 23 de março, ao fazer um exercício no qual deveria analisar uma produção midiática local, Lucas decidiu escrever sobre o programa RP2, exibido pelo canal pago TV Vila Velha. A polêmica resposta do apresentador, Zeca, chocou: ao vivo, durante a transmissão do programa, ele ofendeu e ameaçou o estudante ao fazer considerações sobre o conteúdo publicado.
O estudante já registrou uma queixa-crime na polícia contra o apresentador, mas o caso não vai parar por aí. O departamento jurídico da universidade encaminhará uma representação ao Ministério Público do Estado. Além disso, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) será acionada para que sejam tomadas providências quanto ao sinal da TV Vila Velha, que permitiu a veiculação do programa.
A universidade também encaminhará uma manifestação para que a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) se pronuncie a respeito do caso.
Nessa semana, o apresentador afirmou que analisará se entra com uma ação contra o aluno, mas afirmou que planeja produzir uma reportagem especial para "mostrar o que é a Universidade Estadual de Ponta Grossa".
Sensacionalismo
O programa policial, uma versão do já conhecido “Aqui, Agora”, foi analisado pelo estudante como “um dos exemplos do que há de mais sensacionalista na mídia dos Campos Gerais”. No texto, Lucas questiona a imparcialidade das matérias veiculadas e a linguagem, “exageradamente coloquial” (Confira aqui o post na íntegra).
Com o objetivo de ampliar o alcance das discussões da disciplina Crítica de Mídia, o professor Sérgio Gadini decidiu propor aos alunos a utilização do blog como espaço experimental. “É um espaço interativo, laboratorial. Não há qualquer intenção de agredir ou de se colocar acima do ponto de vista profissional do que se faz na cidade, na região”, afirmou o docente.
Entretanto, a reação exagerada do apresentador causou surpresa a todos. “Ele extrapolou a liberdade de resposta no programa e isso é inadmissível”, declarou Lucas, que decidiu tomar as providências legais cabíveis. “A gente vai com esse processo até o final; ele já perdeu”, disse, ao relatar que está sendo amparado tanto por seus pais, quanto pela faculdade.
Intimidações
O vídeo, disponibilizado pela própria emissora na Internet, foi retirado do ar, assim como fotos do aluno que chegaram a ser publicadas pela produção, a pedido do apresentador. Porém, já é possível encontrar cópias feitas por internautas.
Sentindo-se ofendido com o texto do aluno, Zeca passa 23 minutos do programa do dia 31 de março intimidando Lucas: “Quando eu te pegar, se eu te pegar, você tá f... Se acontecer alguma coisa com você até amanhã, fui eu que te peguei”. E continua, com ofensas a seus familiares: “É, tua mãe que aparece aqui de vez em quando”.
“Alguém chegar e dizer ‘eu vou te pegar! se eu colocar a mão em você...’, impressiona, porque, mesmo que seja uma televisão a cabo, é um serviço de comunicação, tem um caráter público”, afirmou o professor.
Segundo ele, a sociedade tem obrigação de cobrar a responsabilidade do apresentador diante do fato. “É razoável que qualquer pessoa respeite o mínimo de cidadania, é isso que nós estamos reivindicando”, explicou, ao afirmar que universidade está ao lado do aluno.
Abuso
Na opinião do advogado especialista em direito público, João Piza, em uma análise superficial do caso, o apresentador extrapolou o direito de resposta, estabelecido no artigo 5º, inciso V, da Constituição Federal. “Ele não simplesmente respondeu proporcionalmente ao agravo ou ao pseudo-agravo recebido do estudante, ele foi muito mais além e praticou um novo agravo”, observou.
Segundo a Constituição, é assegurado a todos os cidadãos o direito de resposta proporcional ao agravo sofrido, e mais indenização por danos morais, materiais ou de imagem, variando de caso para caso.
Levando-se em consideração as declarações ofensivas do apresentador, relatadas ao advogado, “ele praticou os crimes contra a honra capitulados no Código Penal: calúnia, injúria e difamação”.
Em sua defesa, Zeca admitiu em entrevista ao Portal IMPRENSA que se excedeu nos comentários. “Na hora me senti muito ofendido e falei o que veio à cabeça”, justificou. “Me parece uma coisa pessoal. Não sei o que aconteceu, e se aconteceu, alguma coisa com a família desse garoto, mas virou pessoal”.
Manifestações
Segundo o professor Sérgio Gadini, nesta quarta-feira (7/4), pela manhã, cerca de 150 alunos da UEPG se reuniram no pátio da universidade para realizar uma manifestação a favor da liberdade de expressão.
Durante o ato, os estudantes relataram o caso com o intuito de alertar e conscientizar os demais colegas de que todos estão sujeitos a passar por situação semelhante. “Não cabe à sociedade civil aceitar isso”, indagou o docente.
Com organização do Centro Acadêmico de Jornalismo, outros atos estão sendo programados para os próximos dias, assim como outras atividades no mesmo sentido.
Fonte: Última Instância
1 comentários:
Isso realmente é lamentável, vi esse vídeo logo que saiu, e imaginei que tivesse terminado essa história.
9 de maio de 2010 às 02:27Pelo visto os dois erraram, mas o apresentador apesar de ter sido duramente criticado estava certo em alguns aspectos, como por exemplo, se não gosta do meu programa troque de canal.
Mas do ponto de vista do aluno, também tem a liberrdade de emitir sua opinião sobre o programa, apesar de provavelmente não assitir até o final.
Que ambos possam se perdoar e seguirem em frente!
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