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Greve dos trabalhadores da limpeza urbana derrota ganância dos patrões

domingo, 18 de abril de 2010

O trabalho da limpeza urbana é um dos mais duros e insalubres que existem atualmente. A jornada diária varia de oito a dez horas, chegando mesmo a 12 horas, no turno da noite. O expediente é de segunda a sábado, incluindo também escalas nos domingos, feriados e muitos turnos extras para garantir, por exemplo, o asseio das ruas após cada dia do Carnaval. Assim, até quando a maioria das pessoas está dormindo, descansando ou se divertindo, eles estão varrendo as ruas, faça chuva ou faça sol, e percorrendo os bairros onde moramos para deixar nossa cidade limpa.


Em média, um agente de limpeza da coleta domiciliar percorre a pé 20 quilômetros por dia, correndo atrás do caminhão, agachando-se para apanhar os sacos de lixo, arremessando-os no compactador e seguindo seu roteiro. Em cada caminhão compactador vão quatro agentes coletores; um caminhão carrega até nove toneladas por viagem; e cada caminhão faz cerca de oito viagens por turno até o aterro sanitário. Para cumprir toda essa jornada os agentes recebem um salário de fome e ainda ficam expostos diretamente à ação maléfica da fedentina e do chorume (líquido altamente poluente) que se desprendem do lixo.



Greve Limpeza - JP



O trabalho da limpeza urbana é responsável por levar para longe aquilo que a sociedade descartou. É ele que isola o lixo hospitalar (altamente contagioso) do convívio social, sendo, portanto, indispensável para a manutenção da saúde pública. Bem ao contrário do que afirmou em cadeia nacional, no final do ano passado, o apresentador da Rede Bandeirantes Bóris Casoy, ao se referir a dois garis que desejavam feliz ano-novo: “o mais baixo da escala do trabalho”. Afirmação que não representa apenas uma opinião individual, mas sim o que pensa a burguesia a respeito dos trabalhadores e, especialmente, desta categoria.



Justamente para lutar contra esta situação de exploração e preconceito é que os trabalhadores da limpeza urbana da Região Metropolitana de João Pessoa se organizaram e realizaram uma das greves mais combativas e vitoriosas dos últimos anos no Estado da Paraíba. Conheça agora esta história.



Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Limpeza Urbana no Estado da Paraíba (Sindlimp-PB) iniciou a campanha salarial da categoria ainda no mês de janeiro. Foram várias reuniões entre o sindicato e as empresas Marquise, Líder e Limp Fort, mediadas pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE), até que as negociações para o Acordo Coletivo 2010 fracassassem devido à intransigência dos patrões. Eles ofereceram apenas o valor humilhante de R$ 2 de aumento no salário (que era de R$ 515), e de R$ 15 no vale-alimentação (que era de R$ 75), alegando estarem “no vermelho”.



No dia 10 de fevereiro, o Sindlimp-PB organizou uma paralisação de advertência de 24 horas, que contou com grande adesão da categoria e deu o recado: se não houvesse aumento real, a saída seria a greve. Mesmo assim, os patrões não acreditavam ainda na força da categoria da limpeza e se confiavam na Justiça burguesa para barrar o movimento decretando a ilegalidade da greve.



Mantiveram a proposta inicial e chegaram até a mentir descaradamente, com nota paga em horário nobre da TV, afirmando que o agente de limpeza recebia o valor médio de R$ 830 por mês. A verdade, porém, é que a Prefeitura Municipal aumentou em mais de 300% o valor das licitações em 2008, chegando à cifra de R$ 135 milhões por ano! Achando pouco, as três empresas ainda tiveram o valor dos contratos reajustados no dia 22 de julho de 2009, acrescendo em 7,464% as tarifas, cerca de R$ 250 mil a mais.



Diante desta situação escandalosa, os trabalhadores não tiveram outra saída para garantir seu aumento salarial e entraram em greve por tempo indeterminado no dia 15 de fevereiro, iniciando a paralisação geral que durou quatro dias.



A diretoria do Sindlimp-PB, apoiada por diversas organizações e entidades como Movimento Luta de Classes, PCR, UJR, MLB, Apes-PB, Ubes, UNE, DCE-UEPB, Sindicato dos Jornalistas, Sindlimp-PE, Sindicato dos Calçados de Carpina-PE e Consulta Popular, montou piquetes nas portas das garagens das três empresas, conquistando a adesão de mais de 80% dos agentes. Várias viaturas da Polícia Militar foram chamadas para intimidar os grevistas, mas a experiência de outros enfrentamentos já mostrou que a adesão maciça da categoria inibe a ação policial e garante a continuidade dos protestos.



Greve Limpeza - JP



Ocupação da Câmara Municipal



Assim foram os dois primeiros dias de greve, com muita agitação e denúncias nos piquetes na porta das empresas, e muito bate-boca com os advogados, encarregados e demais babões dos patrões.



Já no terceiro dia, os trabalhadores realizaram uma combativa passeata pelas ruas do Centro de João Pessoa, em direção à Câmara Municipal, reunindo cerca de 100 manifestantes. Durante todo o percurso, a população da cidade acenou em apoio ao protesto e pôde também conhecer um pouco mais sobre a realidade da categoria.



Chegando à Câmara, os seguranças da casa permitiram a entrada apenas de um pequeno grupo, deixando a maioria dos manifestantes de fora. Iniciou-se um empurra-empurra na porta e, após confronto, todos conseguiram entrar no auditório. A sessão que transcorria foi suspensa, e os vereadores formaram uma comissão para receber os representantes da categoria no plenário.



Após a ocupação da Câmara, a greve tomou outra dimensão, com grande apoio popular e uma cobertura simpática ao movimento por parte da imprensa. Por todos os cantos de João Pessoa o lixo se amontoava, e as pessoas não paravam de comentar sobre a enorme injustiça que é um agente de limpeza desempenhar um trabalho tão duro, ganhar tão pouco, e ainda ser humilhado pelos patrões e agredido por seguranças.



O agente de limpeza Adriano Pereira, um dos grevistas que participaram do protesto, afirmou no momento que “agora não tem quem não saiba que nós estamos em greve. Muitas pessoas que estavam nas paradas de ônibus viram nossa passeata. Nós paramos o trânsito. Recebemos apoio nas ruas. Até os vereadores tiveram que ficar do nosso lado, e a imprensa toda filmou a confusão na Câmara. As empresas agora sabem que não temos mais medo de nada”.



Na noite do dia 18, após longa discussão na SRTE, ficou acertado o novo Acordo Coletivo 2010 da limpeza urbana da Região Metropolitana de João Pessoa: R$ 522 de salário, R$ 100 no vale-alimentação, criação do abono penosidade (em forma de cesta básica no valor de R$ 30 para cada dia trabalhado nos feriados de Natal, Ano Novo, Carnaval e Semana Santa) e restrição do banco de horas para apenas dois meses.



Antes, segundo os conchavos dos patrões com o antigo sindicato pelego, as empresas tinham até um ano para pagar as horas extras trabalhadas. Ou seja: nunca pagavam, e os trabalhadores eram roubados outra vez. Também foi garantido o abono das faltas dos grevistas durante os quatro dias de paralisação das atividades, em que cerca de quatro mil toneladas de lixo deixaram de ser recolhidas em toda a Região Metropolitana de João Pessoa.



Para Ulisses Alberto, presidente do Sindlimp-PB, a greve foi uma grande vitória da categoria, pois “não foram apenas as conquistas econômicas que a marcaram. A maior conquista de todas, com certeza, foi a unidade da categoria em torno do sindicato e o avanço da consciência de classe desses trabalhadores, que agora sabem que só com muita luta se pode vencer a intransigência dos patrões. O sindicato está ainda mais forte, e na campanha salarial de 2011 vai conquistar o fim do famigerado banco de horas e garantir um piso salarial aos agentes de limpeza capaz de dar condições de vida mais digna, e não apenas um salário que beira o mínimo do governo. Esse será nosso grande objetivo daqui pra frente”.



No dia seguinte, na porta de cada empresa, foram realizadas assembleias para que a base avaliasse o Acordo. Em todas elas a aprovação foi unânime, encerrando, assim, o movimento grevista.



Terminada a greve, o contentamento era visível em cada rosto, pois, além das conquistas imediatas, ficou a certeza de que a categoria da limpeza urbana de João Pessoa deu uma lição de luta a toda a classe trabalhadora da Paraíba e do Brasil.



Rafael Freire, diretor do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba


Fonte:
Jornal "A verdade"

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