Há no mundo uma monopolização crescente do pensamento. Os recentes avanços tecnológicos favorecem a concentração da informação em poucas mãos.
Quando Francis Fukuyama lançou a inconsistente teoria do fim da história, o objetivo era semear a desesperança e consolidar a ideia de que não há futuro, e sim perenização do presente. O capitalismo é o melhor e definitivo sistema econômico; e a democracia, manipulada pelo poder financeiro, sua expressão política.
Derrubado o muro de Berlim, a globalização consiste em impor ao planeta a pax americana e sepultar, assim, as ideologias progressistas e libertárias, extinguindo, da cultura, a consciência histórica, sem a qual não há como construir alternativas.
Felizmente teorias não detêm o avanço histórico. A América Latina é, hoje, o melhor exemplo disso, com a sua primavera democrática e seus governos democrático-populares. Novos atores sociais e processos emancipatórios despontam. Redes planetárias de busca de “outro mundo possível” aparecem.
Esses sinais de esperança reforçam a necessidade de se aprofundar o pensamento crítico, alternativo, e promover a descrença nos dogmas consagradores da desigualdade e da exclusão social e da apropriação privada da riqueza.
Para o pensamento hegemônico, os novos inimigos são o “terrorismo” (leia-se: tudo que se opõe a ele), o narcotráfico, os países que formam o “eixo do mal”, e todos que criticam o sistema de dominação múltipla do capitalismo transnacional e neoliberal.
O polo hegemônico desse pensamento único são os EUA, respaldados pelo consenso da União Europeia e do Japão. E sobretudo as empresas transnacionais. Em nome da defesa da democracia (entenda-se: do modelo fundado na desigualdade e na exclusão), procura-se evitar a proliferação de armas atômicas ou de destruição em massa… exceto nos países que, na ótica de Washington, integram o “eixo do bem”.
Quem melhor expressou a nova doutrina político-militar foi Zbigniew Brzezinski, em 1998, quando denunciou que o imperativo dessa estratégia geopolítica consiste em manter os vassalos dependentes no que diz respeito à segurança, e evitar que os “bárbaros” se articulem, como agora ocorre na América Latina e no Caribe, com a proposta de fundação, no próximo ano, de um organismo semelhante à União Europeia, capaz de congregar os países do continente sem a presença e ingerência dos EUA e do Canadá.
Hoje, o que preocupa a CIA e o Pentágono não é a confrontação leste-oeste, e sim a norte-sul entre os países ricos e pobres. Há um processo sistemático de pasteurização da cultura, travestida de entretenimento centrado no consumismo, de hegemonização do pensamento, por meio da disseminação midiática de paradigmas comuns e do consumo padronizado, de modo a negar o pluriculturalismo, o direito à autonomia dos povos originários, a diversidade religiosa, os movimentos sociais emancipatórios, a cultura como processo crítico de leitura e transformação da realidade. Como diria Paulo Freire, cada vez mais a cabeça dos oprimidos pensa e enxerga pelo ponto de vista dos opressores.
Por Frei Betto, escritor e autor de Calendário do Poder (Rocco), entre outros livros
fonte: Caros Amigos
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