Numa época em que muitos não têm o que comer, mais de 80 toneladas de peixes apareceram mortos na Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio. Segundo laudo oficial, a causa apontada foi a excessiva proliferação de algas atípicas (de uma espécie que supostamente libera toxinas ou produz muco que interfere na respiração dos peixes) devido ao forte calor e excesso de chuvas. Mas há quem acredite que a causa principal tenha sido o lançamento de esgoto na Lagoa.
Apesar de não estar definida a causa do problema, uma coisa é certa: esta nova tragédia ambiental é fruto do descaso do ser humano com o planeta, descaso este responsável tanto pela poluição da Lagoa como pelas alterações climáticas que podem ter causado o aparecimento das algas.
Alguém poderia dizer que não há problema com o esgoto lançado na Lagoa, e que o veneno procede das algas e ponto. Por outro lado, não se pode dizer que o surto de vômitos e diarréia que atingiu, mais uma vez, os passageiros do navio Vision of the Seas, durante cruzeiro seguindo o roteiro São Paulo, Ilhabela e Búzios, tenha sido causado pelas algas da Lagoa. Com alimentos não se brinca. O que deveria ser um agradável passeio, transformou-se em pesadelo para os muitos turistas que tiveram que ficar confinados nas cabines com gastroenterite, causada pelo agente infeccioso norovírus. Segundo a Vigilância Epidemiológica e Ambiental do Rio, o norovírus pode se propagar por meio de alimentos mal lavados, água contaminada e por contato com pessoas, superfícies e objetos infectados. Apesar de, segundo especialistas, existir a possibilidade de a contaminação ter ocorrido em alguma parada fora do navio, esta situação demonstra, mais uma vez, a seriedade dos problemas de saneamento e a importância da devida vigilância e cuidados especiais para a garantia de condições adequadas de higiene, em qualquer lugar que seja.
Apesar dos avanços, ainda permanece o descaso humano com a poluição das águas. Rios e mares não podem mais continuar sendo considerados como as lixeiras do mundo, onde tudo pode ser lançado, inclusive o esgoto. O Brasil segue no desonroso sétimo lugar no ranking dos países com maior população sem banheiro no mundo, sem acesso nem mesmo às fossas, com 18 milhões de pessoas nesta situação.
Estamos vivendo a era do dinheiro e da Economia Insustentável. O dinheiro continua sendo a prioridade das elites, nada mais tem valor, nem o ser humano, nem a natureza. As atividades desenvolvidas pelo homem, durante anos, em busca do progresso e lucro, já há muito tempo apresentam suas graves conseqüências, a curto ou longo prazo.
Em relação às alterações climáticas, as temperaturas em elevação, o derretimento do gelo em vários locais, as nevascas fora do padrão, nos fazem pensar que, além do El Ninho e do aquecimento global, outros fatores ainda não revelados também estejam atuando.
Os poderosos se encontram diante de uma situação na qual perderam o controle e ainda não sabem o que fazer. Há um grande dilema com as transformações climáticas, pois por mais que se esforcem, os cientistas não conseguem identificar as origens e o que está causando tantas alterações ao mesmo tempo, nem como revertê-las, o que leva os catastrofistas ao delírio, pondo em destaque a profecia maia, dando a ela a interpretação mística, sem que a população possa entender o que realmente está ocorrendo no mundo, nem como buscar meios para ultrapassar a turbulência.
*Por Benedicto Ismael Camargo Dutra: é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, articulista colaborador de importantes jornais de São Paulo e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. Atualmente, é um dos coordenadores do www.library.com.br, site sem fins lucrativos, e autor dos livros Encontro com o Homem Sábio , Reencontro com o Homem Sábio, A Trajetória do Ser Humano na Terra e Nola – o manuscrito que abalou o mundo, editados pela Editora Nobel com o selo Marco Zero. E-mail: bidutra{at}attglobal.net
** Colaboração de Ticiane Araújo para o EcoDebate, 09/04/2010
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