Com o objetivo de pressionar o governo a abrir os arquivos da ditadura militar, a Ordem dos Advogados do Brasil, seção Rio de Janeiro (OAB/RJ), lançou hoje (16), a Campanha Nacional pela Memória e pela Verdade. Para o presidente da OAB/RJ, Wadir Damus, é incompreensível que o Brasil não tenha seguido o exemplo de países vizinhos e dado às famílias dos desaparecidos o direito de saber seu paradeiro e ao país, o de conhecer sua história.
“Esse continua sendo um tema tabu aqui no Brasil. E nós [da OAB] não conseguimos entender por que essa nova geração de militares, que nada teve a ver com aqueles episódios, não se insere nessa luta, inclusive para limpar a imagem do Exército brasileiro”.
A campanha será veiculada no rádio, na TV, em revistas e jornais. A entidade também organizará um abaixo-assinado em apoio à abertura dos arquivos. Para a campanha na TV, artistas como Fernanda Montenegro, Glória Pires, Osmar Prado e José Mayer gravaram, gratuitamente, relatos de 30 segundos em que interpretam militantes mortos e desaparecidos.
O ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, disse que o apoio da OAB fará enorme diferença na luta pela abertura dos arquivos. “São astros queridos pelo povo, pela classe artística, são formadores de opinião e se, essa campanha for bem veiculada, terá o poder de superar as dúvidas que ainda existem em torno do assunto que deveria ter 100% de aprovação nacional, pois se trata de uma campanha que reivindica apenas o resgate da memória e o direito de cerca de 140 famílias de enterrarem seus mortos”.
O advogado Modesto da Silveira, que defendeu milhares de presos políticos durante o regime militar, acredita que mesmo os advogados mais conservadores devem aderir à campanha. “Por mais reacionário que seja o advogado, ele tem um compromisso com a verdade e com a lei”. Segundo Modesto, se o governo não abrir os arquivos terá a decepção de ver esses documentos serem divulgados em outros países, devido, principalmente, à Operação Condor, uma aliança político-militar entre os vários regimes militares da América do Sul, com apoio dos Estados Unidos.
Neuza Cerveira, filha do major Joaquim Cerveira, descobriu, por meios próprios, detalhes sobre a morte do pai, que foi sequestrado na Argentina e morto em 1974, na Operação Condor, por combater a ditadura. Ela encontrou, em documentos do acervo pessoal de conhecidos argentinos, informações relevantes sobre o pai, cujo corpo nunca foi encontrado.
“O túmulo do meu pai é a nação brasileira. O que eu quero é essas pessoas que cometeram esses crimes hediondos no banco dos réus. Não importa se foram 300 ou 400 mortos aqui, enquanto na Argentina foram 30 mil. Genocídio é genocídio”.
Várias emissoras, como a TV Brasil, a TV Senado e a MTV vão veicular, gratuitamente, os depoimentos, assim como a rede de cinemas do Grupo Estação.
Por Flávia Villela ao Agência Brasil
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