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O Socialismo e o Homem em Cuba. (Parte 2)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010


continuação...


Nestes países não se produziu ainda uma educação completa para o trabalho social, a riqueza está longe de poder chegar às massas através do simples processo de apropriação. O subdesenvolvimento por um lado e a habitual fuga de capitais até países civilizados por outro tornam impossível uma mudança rápida e sem sacrifícios. Resta um grande caminho a percorrer na construção da base econômica, e a tentação de seguir pelos caminhos do interesse material como alavanca impulsora de um desenvolvimento acelerado é muito grande.


Corre-se o perigo de que as árvores impeçam de ver o bosque. Perseguindo a quimera de realizar o socialismo graças às armas que nos legou o capitalismo (a mercadoria como célula econômica, a rentabilidade, o interesse material individual como alavanca, etc.), pode-se chegar a um beco sem saída. Pode-se percorrer uma longa distância na qual os caminhos se cruzam muitas vezes e onde é difícil perceber o momento em que se errou de caminho. Entretanto, a base econômica adaptada fez seu trabalho de corrosão sobre o desenvolvimento da consciência. Para construir o comunismo, paralelamente à base material tem que se fazer um homem novo.

Daí a importância de escolher corretamente o instrumento de mobilização das massas. Esse instrumento deve ser de índole moral fundamentalmente, sem esquecer uma correta utilização do estímulo material, sobretudo de natureza social.

Como já disse, num momento de perigo extremo é fácil potencializar os estímulos morais; para manter sua vigência, é necessário que se desenvolva uma consciência na qual os valores adquiram categorias novas. A sociedade em seu conjunto deve se transformar em uma gigantesca escola.

As grandes linhas do fenômeno são semelhantes ao processo de formação da consciência capitalista em sua primeira fase. O capitalismo recorre à força, mas também educa as pessoas dentro do sistema. A propaganda direta é realizada pelos encarregados de explicar a perenidade de um regime de classe, seja de origem divina ou por imposição da natureza como ente mecânico. Isso aplaca as massas, que se vêem oprimidas por um mal contra o qual não e possível lutar.

Em seguida vem a esperança, e neste ponto que se diferencia dos regimes anteriores de casta, que não apontavam saídas possíveis.

Para alguns continuará vigente ainda a forma de castas: o prêmio para os obedientes consiste no acesso, depois da morte, a outros mundos maravilhosos onde os bons são premiados, como acontece na velha tradição. Para outros há inovação: a separação em classes é fatal, mas os indivíduos podem sair da classe a que pertencem através do trabalho, da iniciativa, etc. Este processo e. o da auto-educação para o triunfo devem ser profundamente hipócritas: é a demonstração interessada de que uma mentira é verdade.

No nosso caso, a educação direta adquire uma importância muito maior. A explicação e convincente porque é verdadeira: não precisa de subterfúgios. Ela se exerce através do aparato educativo do Estado em função da cultura geral, técnica e ideológica, por meio de organismos como o Ministério da Educação e o aparelho de divulgação do partido. A educação penetra nas massas e a nova atitude preconizada tende a converter-se em hábito; a massa vai incorporando-a e pressiona quem ainda não se educou. Essa é a forma indireta de educar as massas, tão poderosa quanto a outra.

Mas o processo é consciente: o indivíduo recebe continuamente o impacto do novo poder social e percebe que não está completamente adequado a ele. Sob a influência da pressão que supõe a educação indireta, ele trata de acomodar-se a uma situação que sente como justa e cuja própria falta de desenvolvimento o tinha impedido de fazê-lo até agora. Ele se auto-educa.

Neste período de construção do socialismo podemos ver o homem novo que está nascendo. Sua imagem ainda não está acabada, nem poderia, já que o processo anda paralelo ao desenvolvimento de formas econômicas novas. Tirando aqueles cuja falta de educação os faz tender para o caminho solitário, para a auto-satisfação de suas ambições, aqueles que mesmo dentro desse novo panorama de marcha conjunta têm a tendência de caminhar isolados da massa que acompanham, o importante é que os homens adquirem cada dia maior consciência da necessidade de sua incorporação à sociedade e, ao mesmo tempo, de sua importância como motores da mesma.

Eles já não andam sozinhos por caminhos perdidos em direção a longínquas aspirações. Eles seguem a vanguarda constituída pelo Partido, pelos operários mais avançados e pelos homens da vanguarda que caminham ligados às massas e em estreita comunicação com elas. As vanguardas têm os olhos voltados para o futuro e sua recompensa, mas esta não é vista como algo individual; o prêmio é a nova sociedade, na qual os homens terão características diferentes: a sociedade do homem comunista.

O caminho é longo e cheio de dificuldades. Às vezes, por ter-se enganado de caminho, tem que, retroceder; outras vezes, por caminhar depressa demais, nos separamos das massas; em certas ocasiões, por fazê-lo lentamente, sentimos a presença próxima dos que pisam nos nossos calcanhares. Em nossa ambição de revolucionários tentamos caminhar tão depressa quanto possível, abrindo caminhos; mas sabemos que temos que nutrir-nos da massa e essa somente poderá avançar mais rápido se a animamos com nosso exemplo.

Apesar da importância dada aos estímulos morais, o fato de existir a divisão em dois grupos principais (excluindo, claro, a facção minoritária dos que não participam por uma razão ou outra da construção do socialismo) aponta a relativa falta de desenvolvimento da consciência social. O grupo de vanguarda é ideologicamente mais avançado que a massa; esta conhece os novos valores, mas insuficientemente. Enquanto nos primeiros se dá uma mudança qualitativa que lhes permite se sacrificar na sua função de vanguarda, os segundos apenas seguem e devem ser submetidos a estímulos e pressões de certa intensidade; é a ditadura do proletariado que se exerce não somente sobre a classe derrotada, mas também individualmente sobre a classe vencedora.

Tudo isto implica, para seu êxito total, a necessidade da existência de uma série de mecanismos que são as instituições revolucionárias. Na imagem das multidões marchando para o futuro se encaixa o conceito de institucionalização como o de um conjunto harmônico de canais, escalões, comportas, aparatos bem azeitados que permitam essa marcha, que permitam a seleção natural daqueles destinados a caminhar na vanguarda e que concedam o prêmio aos que cumprem e o castigo aos que atentem contra a sociedade em construção.

Esta institucionalidade da revolução ainda não foi alcançada. Buscamos algo novo que permita a perfeita identificação entre o governo e a comunidade em seu conjunto, ajustada às condições peculiares à construção do socialismo e fugindo ao máximo dos lugares comuns da democracia burguesa, transplantados para a sociedade em formação (como as câmaras legislativas, por exemplo). Foram feitas algumas experiências no sentido de se criar progressivamente a institucionalização da revolução, mas sem maior pressa. O freio maior que encontramos foi o medo de que qualquer aspecto formal nos separe das massas e do indivíduo, nos faça perder de vista a última e mais importante ambição revolucionária, que é a de ver o homem libertado da alienação.

Apesar da carência das instituições, o que deve ser superado gradualmente, as massas agora fazem a história como um conjunto consciente de indivíduos que lutam por uma mesma causa. O homem, no socialismo, apesar de sua aparente padronização, e mais completo; apesar da falta do mecanismo perfeito para isso, sua possibilidade de expressar-se e de influir no aparato social é infinitamente maior.

Mas é preciso ainda acentuar sua participação consciente, individual e coletiva em todos os mecanismos de direção e produção, e ligá-la à idéia da necessidade da educação técnica e ideológica, de maneira que sinta como estes processos são estreitamente interligados e seus avanços paralelos. Deste modo alcançará a total consciência de seu ser social, o que equivale à sua plena realização como criatura humana, uma vez quebradas as correntes da alienação.

Isto se traduzirá concretamente pela reapropriação de sua natureza através do trabalho liberado e a expressão de sua própria condição humana através da cultura e da arte.

Para que se desenvolva na primeira, o trabalho deve adquirir uma nova condição. A mercadoria homem cessa de existir e se instala um sistema, que outorga uma quota pelo cumprimento do dever social. Os meios de produção pertencem à sociedade e a máquina é apenas a trincheira onde o dever é cumprido. O homem começa a libertar seu pensamento da obrigação penosa que tinha de satisfazer suas necessidades animais através do trabalho. Ele começa a se ver retratado em sua obra e a compreender sua magnitude humana através do objeto criado, do trabalho realizado. Isto já não significa deixar uma parte de seu ser em forma de força de trabalho vendida, que não lhe pertence mais, mas significa uma emanação de si mesmo, uma contribuição à vida comum, em que se reflete; o cumprimento do seu dever social.

Fazemos todos o possível para dar ao trabalho esta nova categoria de dever social e uni-lo, por um lado, ao desenvolvimento da técnica que dará condições para uma maior liberdade e, por outro lado, ao trabalho voluntário, embasado na concepção marxista de que o homem realmente alcança sua plena condição humana quando produz sem a compulsão da necessidade física de se vender como mercadoria.

Claro que existem ainda aspectos coercitivos no trabalho, mesmo quando é voluntário; o homem não transformou toda a coerção que o rodeia num reflexo condicionado de natureza social, e produz ainda, em muitos casos, sob a pressão do meio (compulsão moral, como a chama Fidel). Ainda lhe falta conseguir a plena recriação espiritual diante de sua obra, sem a pressão direta do meio social, mas ligado a ele pelos novos hábitos. Isto será o comunismo.



continua...



1 comentários:

Parrudo disse...

A maior parte da sociedade realmente acredita que batalhar duro e viver de acordo com as regras impostas por nosso governantes nos levaria a uma colocação social mais privilegiada, como disse Michael Moore em uma de suas reflexões sobre o sistema capitalista, então nós passamos a vida toda apenas agindo conforme o que nos é dito, mesmo sabendo que devemos mudar as coisas ficamos calados porque nos dizem que apenas fazer o seu papel na sociedade te garante um caminho mais seguro para que possa atingir a ascensão social.

Precisamos mudar essa consciência coletiva, porem essa é uma tarefa muito difícil na sociedade atual, temos que mudar esse pensamento de que devemos apenas produzir para que possamos então vender e comprar novos artigos de consumo que nos satisfazem mesmo que não precisemos deles. A mudança é algo que demora para acontecer, portanto não podemos pensar que as mudanças virão num instante, ainda mais quando a sociedade da muito mais valor ao que a televisão ensina do que o que se aprende na sala de aula.

26 de fevereiro de 2010 às 20:20

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