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O Socialismo e o Homem em Cuba. (Parte Final).

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


continuação...



A mudança não se produz automaticamente na consciência como também não se produz na economia. As variações são lentas e não são rítmicas; há períodos de aceleração, outros de estagnação e inclusive de retrocesso.

Devemos considerar também, como já dissemos antes, que não estamos diante do período de transição pura, como o descreveu Marx na Crítica do programa de Gotha, mas numa nova fase não prevista por ele; o primeiro período de transição do comunismo ou da construção do socialismo. Isto se dá em meio de lutas de classe violentas e com elementos de capitalismo em seu seio, que obscurecem a compreensão cabal de sua essência.

Se a isto acrescentamos o escolasticismo que freou o desenvolvimento da filosofia marxista e impediu o tratamento sistemático do período, cuja economia política não se desenvolveu, devemos convir que ainda estamos no berço e que é preciso dedicar-se a investigar todas as características primordiais deste período antes de elaborar uma teoria econômica e política de maior alcance.

A teoria resultante dará maior importância aos dois pilares da construção: a formação do homem novo e o desenvolvimento da técnica. Em ambos os aspectos ainda resta muito por fazer, mas é menos perdoável o atraso no que diz respeito à concepção da técnica como base fundamental, a que neste terreno não se trata de avançar às cegas, mas de seguir durante bom tempo o caminho aberto pelos países mais adiantados do mundo. Por isso Fidel insiste tanto sobre a necessidade da formação tecnológica e científica de todo o nosso povo e mais ainda de sua vanguarda,

No campo das idéias que conduzem a atividades não produtivas, é mais fácil ver a divisão entre a necessidade material e a espiritual. Faz muito tempo que o homem tenta libertar-se da alienação mediante a cultura e a arte. Ele morre diariamente oito ou mais horas por dia enquanto atua como mercadoria, para ressuscitar depois através de sua criação espiritual. Mas este remédio traz os germes da mesma doença: é um ser solitário que busca comunhão com a natureza. Ele defende sua individualidade oprimida pelo meio e reage diante das idéias estéticas como um ser único cuja aspiração é permanecer imaculado.

Trata-se apenas de uma tentativa de fuga. A lei do valor já não e um mero reflexo das relações de produção; os capitalistas monopolistas rodeiam-na de um complicado sistema que a converte numa serva dócil, mesmo que os métodos empregados sejam puramente empíricos (conhecimento popular). A superestrutura impõe um tipo de arte no qual os artistas têm que ser educados. Os rebeldes são dominados pela maquinaria e somente os talentos excepcionais poderão criar sua obra própria. Os restantes se tornam assalariados envergonhados ou são triturados.

Inventa-se a investigação artística que se dá corno definição da liberdade, mas esta pesquisa tem seus limites, imperceptíveis até o momento de se chocar com eles, ou seja, de se colocar os problemas reais do homem em sua alienação. A angústia sem sentido ou o passatempo vulgar constituem válvulas cômodas para a preocupação humana; combate-se a idéia de fazer da arte uma arma de denúncia.

Se as regras do jogo são respeitadas, pode-se obter todas as honras: as que ganharia um macaco ao inventar piruetas. A condição é não tentar escapar da jaula invisível.

Quando a revolução tomou o poder, produziu-se o êxodo dos domesticados; os demais, revolucionários ou não, viram um novo caminho. A pesquisa artística ganhou novo impulso. No entanto, os caminhos estavam mais ou menos traçados e o sentido do conceito fuga se escondeu por trás da palavra liberdade. Os próprios revolucionários mantiveram muitas vezes esta atitude, reflexo do idealismo burguês na consciência.

Em países que passaram por um processo similar, tentou-se combater estas tendências com um dogmatismo exagerado. A cultura geral se converteu em tabu e a representação formalmente exata da natureza foi proclamada o ápice da aspiração cultural, e esta se converteu logo numa representação mecânica da realidade social que se queria fazer ver; a sociedade ideal, quase sem conflitos e contradições, que se tentava criar.

O socialismo é jovem e comete erros. Nós, os revolucionários, carecemos dos conhecimentos e da audácia intelectual necessários para encarar a tarefa do desenvolvimento de um novo homem por métodos diferentes dos convencionais, e os métodos convencionais sofrem a influência da sociedade que os criou (mais uma vez se coloca o tema da relação entre forma e conteúdo). A desorientação e grande e os problemas da construção material nos absorvem. Não existem artistas reconhecidos, que por sua vez tenham autoridade revolucionária. Os homens do Partido devem assumir esta tarefa e tentar conseguir o objetivo principal: educar o povo.

Procura-se então a simplificação, que é o que todo mundo entende e que é também o que os funcionários entendem. A pesquisa artística autêntica é anulada e o problema da cultura geral é reduzido a uma apropriação do presente socialista e do passado morto (portanto, não perigoso). Assim nasce o realismo socialista sobre as bases da arte do século passado.

Mas a arte realista do século XIX também é de classe, talvez mais puramente capitalista do que esta arte decadente do século XX, onde transparece a angústia do homem alienado. O capitalismo em termos de cultura já deu tudo de si e dele não resta nada senão o anúncio de um cadáver fedorento; em arte, sua decadência de hoje.Mas por que pretender buscar nas formas congeladas do realismo socialista a única receita válida? Não se pode opor ao realismo socialista a liberdade, porque esta não existe ainda e não existirá até o desenvolvimento completo da sociedade nova, mas não se deve pretender condenar todas as formas de arte posteriores à primeira metade do século XIX, desde o trono pontifício do realismo, pois se cairia num erro proudhoniano (ver Proudhon, filósofo francês) de retorno ao passado, colocando camisa de força na expressão artística do homem que nasce e se constrói hoje.

Falta o desenvolvimento de um mecanismo ideológico e cultural que permita a pesquisa e destrua a erva daninha tão facilmente multiplicável no terreno beneficiado pela subvenção estatal.

No nosso país o erro do mecanicismo realista não ocorreu; mas sim um outro de signo contrário. Deu-se por não se ter compreendido a necessidade da criação do homem novo que não seja o representado pelas idéias do século XIX nem tampouco pelas do nosso século decadente mórbido. O homem do século XXI é aquele que devemos criar, mesmo que ainda seja uma aspiração subjetiva e não sistematizada. Este é precisamente um dos pontos fundamentais do nosso estudo e do nosso trabalho e, na medida em que consigamos êxitos concretos sobre uma base teórica ou, vice-versa, se extraiam conclusões teóricas de caráter amplo sobre a base de nossa pesquisa concreta, teremos dado uma contribuição valiosa ao marxismo-leninismo, à causa da humanidade.

A reação contra o homem do século XIX nos fez cair na reincidência do decadentismo do século XX. Não é um erro demasiadamente grave mas devemos superá-lo sob pena de abrir um largo espaço ao revisionismo.

As grandes multidões estão se desenvolvendo, as novas idéias vão alcançando ímpeto adequado no seio da sociedade, e as possibilidades materiais de desenvolvimento integral de absolutamente todos os seus membros tornam o labor muito mais frutífero. O presente é de luta; o futuro é nosso.

Resumindo, a culpa de muitos dos nossos intelectuais e artistas reside em seu pecado original; não são autenticamente revolucionários. Podemos tentar enxertar o olmo para que dê pêras, mas simultaneamente temos que plantar a pereira. As novas gerações estarão livres do pecado original. As probabilidades de que surjam artistas excepcionais serão tanto maiores quanto mais se tenha ampliado o campo da cultura e a possibilidade de expressão. Nossa tarefa consiste em impedir que a geração atual, desarticulada por seus conflitos, se perverta e perverta as novas. Não devemos criar assalariados dóceis ao pensamento oficial, nem bolsistas que vivam do amparo governamental, exercendo uma liberdade entre aspas. Logo virão os revolucionários que entoam o canto do homem novo com a voz autêntica do povo. É um processo que exige tempo.

Na nossa sociedade a juventude e o Partido Comunista desempenham um grande papel.

A primeira e particularmente importante por ser a matéria maleável com a qual se pode construir o homem novo sem nenhuma das taras anteriores.

Ela recebe um tratamento de acordo com nossas ambições. Sua educação é cada vez mais completa e não esquecemos sua integração com o trabalho desde os primeiros momentos. Nossos bolsistas fazem trabalho físico durante suas férias ou simultaneamente com o estudo. O trabalho em certos casos é um prêmio, em outros um instrumento de educação, mas nunca um castigo. Uma nova geração nasce.

O Partido e uma organização de vanguarda. Os melhores trabalhadores são propostos por seus companheiros para integrá-lo. Ele é minoritário, mas de grande importância pela qualidade de seus quadros. Nossa aspiração é que o Partido seja de massas, mas somente quando as massas tenham alcançado o nível de desenvolvimento da vanguarda; quer dizer, quando estejam educadas para o comunismo. O trabalho é dirigido para esta educação. O Partido é o exemplo vivo: seus quadros devem dar aulas de labor e sacrifício, devem levar, com sua ação, as massas até o fim da tarefa revolucionária, o que implica anos de dura luta contra as dificuldades da construção, dos inimigos de classe, as marcas do passado, o imperialismo.

Eu queria agora explicar o papel desempenhado pela personalidade. pelo homem como indivíduo dirigente das massas que fazem a história. É nossa experiência e não uma receita.

Nos primeiros anos Fidel deu à revolução o impulso, a direção, a tônica sempre, mas existe um bom grupo de revolucionários que se desenvolveram no mesmo sentido que o dirigente máximo, e uma grande massa que segue seus dirigentes porque tem fé neles; tem fé neles porque souberam interpretar seus anseios.

Não se trata de quantos quilos de carne se come ou de quantas vezes por ano alguém pode ir passear na praia, nem de quantas belezas que vêm do exterior podem ser compradas com os salários atuais. Trata-se precisamente do indivíduo se sentir mais pleno, com muito mais riqueza interior e com muito mais responsabilidade. O indivíduo do nosso país sabe que a época gloriosa em que lhe é dado viver é de sacrifício. Os primeiros o conheceram na Sierra Maestra e onde quer que se tenha lutado; depois o conhecemos em toda Cuba. Cuba é a vanguarda da América e deve fazer sacrifícios por ocupar justamente este lugar e porque indica às massas da América Latina o caminho da liberdade total.

No interior do país os dirigentes devem cumprir seu papel de vanguarda; e temos que dizê-lo com toda a sinceridade, em uma revolução verdadeira, na qual se dá tudo, da qual não se espera nenhuma retribuição material: a tarefa do revolucionário de vanguarda é ao mesmo tempo magnífica e angustiante.

Deixe-me dizer, com o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor. É impossível pensar num revolucionário autêntico sem esta qualidade. Talvez este seja um dos grandes dramas do dirigente: ele deve unir a um espírito apaixonado uma mente fria, e tomar decisões dolorosas sem contrair um único músculo. Nossos revolucionários de vanguarda devem idealizar este amor aos povos, às causas mais sagradas, e torná-lo único e indivisível. Não podem baixar com sua pequena dose de carinho cotidiano até os lugares onde o homem comum o pratica.

Os dirigentes da revolução têm filhos que em seus primeiros balbucios não aprendem a chamar o pai; mulheres que devem ser parte do sacrifício geral de sua vida para levar a revolução ao seu destino; o marco dos amigos corresponde estritamente ao marco dos companheiros de revolução. Não há vida fora dela.

Nestas condições deve-se ter grande dose de humanidade, grande dose de sentimentos de justiça e de verdade para não cair em extremos dogmáticos, em escolasticismos frios, em isolamento das massas. Todos os dias deve-se lutar para que este amor à humanidade viva e se transforme em fatos concretos, em atos que sirvam de exemplos, de mobilização.

O revolucionário, motor ideológico da revolução dentro do seu Partido, se consome nessa atividade ininterrupta, cujo único fim é a morte, a não ser que a construção se realize em escala mundial. Se sua vontade de revolucionário diminui quando as tarefas mais prementes estão realizadas em escala local, e se esquece o internacionalismo proletário, a revolução que dirige deixa de ser uma força impulsionadora e acaba numa modorra cômoda da qual se aproveitam nossos inimigos irreconciliáveis, o imperialismo, que ganha terreno. O internacionalismo proletário é um dever mas também uma necessidade revolucionária. Deste modo educamos nosso povo.

Claro que existem perigos presentes nas circunstâncias atuais. Não apenas o dogmatismo, não apenas de congelar as relações com as massas durante a grande tarefa, mas existe também o perigo das debilidades nas quais se pode cair. Se o homem pensa que para dedicar sua vida inteira à revolução ele não pode distrair sua mente com a preocupação da falta de um determinado produto produto para o filho, com o fato de os sapatos das crianças estarem acabando, com o fato de sua família carecer de determinado bem necessário, ele, com este raciocínio, deixa de infiltrar-se pelo germe da futura corrupção.

No nosso caso, estabelecemos que nossos filhos devem ter e carecer daquilo que têm e daquilo que carecem os filhos do homem comum; nossa família deve compreendê-lo e lutar por isso. A revolução se faz através do homem, mas o homem deve forjar dia a dia seu espírito revolucionário.

Assim vamos andando. À cabeça da imensa coluna, não temos vergonha nem estamos intimidados em dizê-lo. Está Fidel, depois estão os melhores quadros do Partido e imediatamente depois, tão perto que sua enorme força pode ser sentida, está o povo em seu conjunto; sólida armação de individualidades que caminham até um fim comum; indivíduos que chegaram à consciência do que e necessário fazer; homens que lutam para sair do reino da necessidade e entrar no da liberdade.

Esta imensa multidão se ordena; sua ordem corresponde à consciência da necessidade dela; já não e mais uma força dispersa, divisível em mil frações projetadas no espaço como fragmentos de granadas, procurando apenas alcançar, utilizando-se de qualquer meio, numa luta travada contra seus semelhantes, uma posição ou algo que dê uma segurança diante de um futuro incerto.

Sabemos que existem sacrifícios à nossa frente e que devemos pagar um preço pelo fato heróico de constituir uma vanguarda como nação. Nós, dirigentes, sabemos que temos um preço a pagar por ter o direito de dizer que estamos à cabeça de um povo que está à cabeça da América. Todos e cada um de nós paga pontualmente sua quota de sacrifício, conscientes de receber o prêmio na satisfação do dever cumprido, conscientes de avançar com todos até o homem novo que se vislumbra no horizonte.

Permita-me tentar avançar algumas conclusões

Nós, socialistas, somos mais livres porque somos mais plenos; somos mais plenos por sermos mais livres.

O esqueleto da nossa liberdade completa está formado; falta-lhe apenas a substância protéica e a roupagem; nós as criaremos.

Nossa liberdade e sua sustentação quotidiana têm cor de sangue e estão repletas de sacrifícios.

Nosso sacrifício é consciente; quota para pagar a liberdade que construímos.

O caminho é longo e em parte desconhecido; conhecemos nossas limitações. Faremos o homem do século XXI; nós mesmos.

Nós nos forjaremos na ação cotidiana, criando um homem novo com uma nova técnica.

A personalidade desempenha o papel de mobilização e de direção enquanto encarna as mais altas virtudes e aspirações do povo e enquanto não se afasta do caminho.

Quem abre o caminho é o grupo de vanguarda, os melhores dentre os bons, o Partido.

O alicerce fundamental da nossa obra é a juventude: depositamos nossa esperança nela e preparamo-la para tomar a bandeira das nossas mãos.

Se esta carta balbuciante esclarece alguma coisa, está cumprindo o objetivo a que me propus.

Receba nossa saudação ritual, com um aperto de mãos ou um 'Ave-maria puríssima'. Pátria ou Morte.


Ernesto "Che" Guevara de la Serna.



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