Lembremos alguns episódios:
O caso da fazenda Cutrale
A TV Globo e sua rede de influências utilizou todo seu arsenal para criminalizar os militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), criar um clima na opinião pública, como se a derrubada de alguns de pés de laranja fosse um crime hediondo. Mas não disse nada sobre a invasão de terras públicas pela empresa. E também não disse nada sobre o processo que a Polícia Federal move contra a empresa por prática de cartel e destorção de preços pagos aos agricultores, que levou milhares deles à falência. Tudo isso foi o pano de fundo para que a Polícia Civil e Militar de São Paulo, do governo do tucano José Serra, fizessem um verdadeiro carnaval; deslocaram oito delegados, 150 homens fortemente armados, para prender nove militantes do MST, 45 dias depois da ordem judicial, emitida, pasmem, sem ouvir ninguém, no dia 10 de dezembro de 2009. Felizmente, o Tribunal de Justiça de São Paulo recolocou as coisas no seu devido lugar e deu liberdade aos militantes presos. Mas a Globo não comentou nada.
Cinco anos de impunidade dos assassinos da irmã Dorothy
No dia 12, completou-se cinco anos do assassinato da militante da causa da reforma agrária Dorothy Stang. Desde então, apenas dois pistoleiros foram presos. Os dois fazendeiros mandantes estão impunes.
O Tribunal de Justiça do Pará sempre foi conivente com a causa dos fazendeiros. Foi célere em pedir prisão de dois dirigentes do MST, por presunta responsabilidade indireta de ocupações de terras na região sul do Estado. Os companheiros continuam perseguidos pela polícia. Esse mesmo Tribunal não condenou ninguém pelo assassinato de 19 sem-terra no massacre de Carajás, desde 1996. Mesmo com a repercussão na imprensa mundial, pelo fato de ser nascida nos Estados Unidos, é bem provável que o caso irmã Dorothy terá o mesmo destino: a impunidade, acobertada pelo Poder Judiciário e pela imprensa burguesa.
O desastre ambiental em Ilha Grande
A natureza se vingou sobre as falcatruas de licenças compradas no Ibama etc. para a construção de mansões e casas nas encostas da Ilha Grande. Alguns meses antes, o governador do Rio de Janeiro havia baixado um decreto, por encomenda pessoal de seus amigos, funcionários da Globo, o casal Luciano Huck e Angélica, que precisavam fazer reformas na sua mansão em Ilha Grande, mas o Ibama não permitia. Prontamente o governador fez um decreto autorizando reformas em casas das encostas. Mas a natureza o traiu e o caso veio a público. E a Globo não comentou nada.
Convênio da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) com o Conselho Nacional de Justiça
A imprensa burguesa reproduziu sem nenhuma crítica um convênio firmado entre o senhor Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), e a senhora Katia Abreu, presidenta da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), para monitorar o que eles chamam de insegurança jurídica no campo. Uma afronta! Que moral terá o Judiciário para julgar os conflitos no campo provocados pelos latifundiários daqui para frente? O primeiro caso que deveria analisar na verdade deveria ser a grilagem de terras públicas praticada pela senhora Kátia Abreu, ao se apoderar e expulsar posseiros com mais de 40 anos, em terras públicas de Tocantins. A Constituição brasileira, o direito dos trabalhadores terem terra, a condição da função social da propriedade e a apropriação indevida de terras pelo latifúndio, nada disso interessa a esses senhores. Apenas seus lucros e vaidades.
O caso Arruda
Foram três meses de fotos com dinheiro na meia, na cueca, no bolso, no paletó, e a Justiça calada. Foi preciso que a Procuradoria Geral da República pedisse a prisão do governador José Roberto Arruda (ex-DEM e PSDB) para que o STJ se manifestasse.
O governador foi então preso. Quando estiverem lendo este editorial provavelmente ele já estará solto. Esperamos que os deputados distritais, os que ainda não pegaram dinheiro, tenham vergonha na cara e aprovem o impeachment ao governador corruptor.
Todos esses episódios das últimas semanas revelam, cada vez com maior nitidez, a sórdida aliança de classes que existe em nosso país, que une grandes empresas e seus interesses econômicos, com o Poder Judiciário e o monopólio dos meios de comunicação.
E, ao nos aproximarmos do calendário eleitoral, a classe dominante brasileira vai usar cada vez mais esse tripé: empresas capitalistas, Poder Judiciário e meios de comunicação, para fazer a verdadeira luta de classe. Proteger seus interesses econômicos e ideológicos por um lado e, por outro, criminalizar a luta social, os movimentos e seus militantes.
Duras jornadas teremos pela frente, na construção de uma sociedade mais democrática e justa. E certamente a democracia brasileira passa necessariamente pelo enfrentamento ao monopólio dos meios de comunicação, as formas de controle social sobre o Judiciário e ao controle das grandes empresas e bancos.
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