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Mockus, o azarão que lidera na Colômbia

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Filósofo, irreverente, criador de factóides, ex-prefeito de Bogotá e fundador do Partido Verde em seu país, Antanas Mockus é a surpresa da campanha eleitoral e deve disputar o segundo turno com o governista Juan Manuel Santos, favorito de Uribe

A primeira imagem que os colombianos tiveram de Antanas Mockus foram suas nádegas brancas. Era 28 de outubro de 1993 e 500 estudantes faziam algazarra para interromper um discurso do então reitor da Universidade Nacional, em protesto contra sua decisão de aumentar o valor da matrícula. Mockus largou o microfone, deu meia-volta, baixou as calças e mostrou o traseiro pálido aos estudantes. Obtida a atenção, retomou seu pronunciamento. Naquela noite, toda a Colômbia já o conhecia. Começara sua carreira política.

Pouco depois, Gustavo Petro, hoje seu rival na disputa presidencial, enxergou em Mockus um político promissor e propôs que ele concorresse à prefeitura de Bogotá. O atual candidato do Partido Verde às eleições colombianas nada mais é do que um político tradicional. É tímido, muitas vezes não cumprimenta, não se lembra dos nomes, não agita as massas, demora bastante para responder e, quando o faz, fala em um nível abstrato demais para ser atraente.

Carlos Ortega/Efe (28/04/2010)
Mockus conversa com estudantes da Universidade do Pacífico, em Buenaventura, Colômbia

Por isso recorre a símbolos, como naquele 28 de outubro, mas também se rodeia de pessoas que lhe servem de intérpretes, que traduzem sua mensagem, como fazem agora Lucho Garzón – ex-prefeito de Bogotá – e Sergio Fajardo, companheiro de chapa de Mockus.

Esse extravagante político-clown conseguiu ser eleito duas vezes prefeito de Bogotá e teve um desempenho bem avaliado na capital. Quando foi eleito pela primeira vez, em 1994, Bogotá era tão violenta que figurava como a única capital sul-americana que os guias turísticos recomendavam não visitar.

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Durante seu governo, o índice de homicídios passou de 82,1 para 64,9 por 100 mil habitantes. E ao fim de seu segundo governo, em 2003, depois de um mandato intermediário do companheiro Enrique Peñalosa, o índice havia baixado para 23,4 homicídios por 100 mil habitantes.

Esses resultados foram possíveis com a combinação de políticas tradicionais e ações altamente simbólicas. A violência foi enfrentada com uma ação incomum: os cidadãos foram convidados a desenhar em um balão o rosto da pessoa que lhes fizera mal, e então golpeá-lo para desabafar. Participaram 45 mil pessoas. A isso somaram-se políticas mais tradicionais, como a criação de conselhos de todas as forças da ordem e o aumento dos gastos da polícia.

Quando a guerrilha ameaçou matá-lo se ele não renunciasse à prefeitura, Mockus, em vez de reforçar o esquema de segurança, mandou fazer um colete branco com um furo em formato de coração no lugar correspondente ao órgão. Assim, mostrou com um gesto o absurdo que seria um ataque a uma pessoa que se negava a se defender.

Quando Mockus decidiu desarmar seus guarda-costas e colocou as armas dentro de uma urna, convenceu cerca de três mil bogotanos a trocar seus revólveres e punhais por bônus em mercados no Natal. Do mesmo modo enfrentou o trânsito, demitindo 3,2 mil guardas e posicionando mímicos nos cruzamentos. Os artistas não multavam, mas zombavam de quem infringia as regras. O prefeito acreditava que os colombianos tinham mais medo do ridículo que do castigo e parecia estar certo: as mortes por acidentes de trânsito caíram pela metade desde o início de seu primeiro mandato até o fim do segundo (de 1.287 em 1995 a 585 em 2002).

Na economia, o prefeito seguiu um esquema bastante neoliberal, privatizando os serviços públicos da cidade, com a diferença de que as estatais não se dissiparam em corrupção e gastos inúteis. Isso gerou os recursos que possibilitariam muitas das melhorias de infraestrutura iniciadas por Peñalosa ou das reformas sociais de Garzón, ex-prefeitos que hoje pertencem ao mesmo Partido Verde.

Corrida presidencial
Hoje, o colombiano-lituano Aurelijus Rutenis Antanas Mockus Šivickas parece ser o candidato com mais chance de se tornar o próximo presidente colombiano. Pesquisa divulgada na sexta-feira (30/4) indica que Mockus detém 39% das intenções de voto, enquanto o candidato governista Juan Manuel Santos tem 34%. O terceiro lugar é da conservadora Noemí Sanín, com 11%. No segundo turno, Mockus ganharia com 53%, contra 42% de Santos.


Mockus e Juan Manuel Santos (direita) se cumprimentam após debate feito pelo canal colombiano RCN

O alcance de Mockus no panorama político colombiano mudou os termos da campanha eleitoral, surpreendendo todo os políticos tradicionais e alterando os equilíbrios preexistentes.

Santos parecia o candidato mais forte, como herdeiro de Álvaro Uribe, mas as coisas mudaram. A analista política Claudia López confirma a tese: "Na atual situação Santos não está necessariamente atraindo toda a popularidade do presidente e de seu governo."

Uribe mantém níveis muito altos de popularidade, mas o mesmo não ocorre com o congresso e a percepção do país. Em fevereiro, só metade dos colombianos achava que seu país seguia um bom caminho, enquanto 70% aprovavam Uribe.

Em outras ocasiões, o patrimônio político de Uribe se mostrou intransferível. Por exemplo, nas duas últimas eleições para a prefeitura de Bogotá, os candidatos uribistas perderam para o Polo Democrático. Em 2004, Juan Lozano, apoiado pelo presidente, perdeu de Lucho Garzón, e em 2008 Peñalosa, candidato de Uribe, perdeu de Samuel Moreno.

O peso dos problemas dos oito anos de governo de Uribe parece estar sobre as costas de Santos, que nos debates presidenciais é constantemente obrigado a se defender. "O uribismo versus o antiuribismo", continua a analista, "já não é o eixo da política colombiana e não definirá as próximas eleições. Já está claro que, apenas com a bandeira do uribismo, nenhum candidato conquistará a presidência".

De acordo com ela, existe um novo eleitorado de centro suficientemente grande para ser indispensável na vitória eleitoral. Além disso, o candidato dos verdes tem a seu favor o fato de não ser percebido pela opinião pública como um adversário do uribismo, pois não tem feito críticas verticais ao governo.

No entanto, para López, a disputa entre Mockus e Santos será uma luta de Davi e Golias. “Santos não apenas aglutina toda a máquina política e o poder uribista, como também é atraente para todos os políticos tradicionais conservadores e liberais, mesmo que Noemí Sanín e Rafael Pardo queiram aliar-se pessoalmente a Mockus ".

“Onda verde”
A onda verde, por sua vez, tem tido grande alcance. A campanha de Mockus começou no dia em que dois milhões de colombianos votaram na eleição interna de seu partido e ele foi nomeado candidato. No mesmo dia, nas eleições legislativas, os verdes conseguiram eleger cinco representantes, um resultado importante que demonstrou a existência de espaço para o voto de opinião na Colômbia. Pouco depois, Sergio Fajardo, cujo movimento, ao contrário, não elegeu nenhum representante, aceitou integrar a chapa presidencial de Mockus. Fajardo, diferentemente de Mockus, é um político pragmático, um executor, e é muito popular na região de Antioquia, onde obteve sua força política como prefeito de Medellín.

Os dois se transformaram em símbolos da honestidade e da luta contra a corrupção. Como exemplo, os verdes renunciaram a 4,5 bilhões de pesos (mais de dois milhões de dólares) de reembolso eleitoral, declarando que não haviam gastado o dinheiro e preferiam que ele fosse usado para construir uma escola.

Mockus também admitiu publicamente sofrer do mal de Parkinson. Os colombianos responderam demonstrando uma forte solidariedade, tanto que o número de seus fãs no Facebookdobrou, colocando a página do candidato entre as primeiras dez mantidas por políticos na rede social, com quase 500 mil fãs. Como a doença está na fase inicial, Mockus poderá viver uma vida normal no mínimo pelos próximos 12 anos.


fonte: Opera Mundi

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