Muitos ativistas e leitores que acompanham as publicações do CMI Brasil certamente já ouviram falar de uma intensa rebelião mexicana que veio a se tornar conhecida como a "Comuna de Oaxaca". Oaxaca é, junto com Chiapas e Guerrero, um dos estados mais pobres do México, e concentra, com esses e outros estados do sul do país, a maior parte da população indígena mexicana. Em 2006, após a iniciativa do movimento sindical dos professores de Oaxaca, este estado protagonizou uma das mais ousadas insurreições não armadas que se tem notícia, formando a Assembléia Popular dos Povos de Oaxaxa (APPO), declarando a desaparição dos poderes instituídos em Oaxaca. O movimento foi objeto de uma brutal repressão, tanto por parte do governador Ulises Ruiz quanto por parte do presidente Felipe Calderón, o que fez de Oaxaca uma das referências mais emblemáticas e dramáticas nas discussões dos recentes fóruns de direitos humanos.
No ano que seguiu à repressão mais forte e o desmantelamento da APPO, um município indígena, da etnia triqui, inspirado pelo impacto da APPO e a experiência zapatista, se declarou em autonomia e iniciou um processo comunitário de auto-organização e criação de um poder popular não estatal. Isso implicava uma ruptura com as estruturas formais do estado oaxaqueño, e em especial com o partido que governou o país por mais de 70 anos, e detinha o total controle das instituições públicas em Oaxaca, o PRI (Partido Revolucionário Institucional). Como reação a essa ruptura, e temendo que o caso desse munícipio pudesse se alastrar pelo estado, tal como passou com a APPO, o governador estimulou a formação de grupos paramilitares e iniciou um conjunto de ações para deslegitimar a proclamação de autonomia do povo triqui, culminando ao que hoje podemos considerar um verdadeiro cerco de caráter militar ao município.
San Juan Copala é o nome desse município, e desde 2007 vem sofrendo ações sistemáticas de violação dos direitos humanos dos seus habitantes por parte do governo estadual e dos grupos paramilitares, o que inclui o assassinato de várias de suas lideranças. Em virtude do cerco que está vivendo esse município que se declarou autônomo, no início desse ano um grupo de 100 ativistas mexicanos e estrangeiros organizou uma caravana humanitária para levar alimentos e medicamentos para o povo triqui, registrar as denúncias mais recentes de violações de direitos humanos e levar um pouco de solidariedade para amenizar a tragédia vivida pelo habitantes de Copala. Mas no dia 27 de abril, a caravana foi recebida no munícipio a balas por um grupo de 15 paramilitares. Do saldo desse ataque, faleceram dois ativistas: a mexicana Beatriz Alberta Cariño Trujillo e o finlandês Tyri Antero Jaakkola. Uma dezena de habitantes do local, incluindo mulheres e crianças, também foram tomados como reféns pelo grupo paramilitar poucos dias depois desse episódio, e se encontram sequestrados até o momento. E no dia 20 de maio, para aumentar o nível da tensão, foram assassinados mais dois dos líderes históricos da região.
Ativistas e organizações do México e de várias partes do mundo estão se articulando para iniciar uma série de ações globais. A primeira, já convocada para os dias 7, 8 e 9 de junho, consistirá em manifestações públicas nas imediações das embaixadas mexicanas ao redor do mundo, cartas diplomáticas, ações de solidariedade e cobertuda por meios alternativos da nova caravana de solidariedade que estará saindo da Cidade do México para San Juan Copala. Através do e-mail libertadparacopala@gmail.com é possível obter mais informações e contatos para a realização de ações de solidariedade. Por meio da cobertura da rádio Planton (autonomiaradial@gmail.com e http://giss.tv:8001/plantonsonoro.ogg.m3u), podem ser feitas audições e retransmissões por parte de rádios livres e comunitárias. Apesar das dificuldades na organização de atividades dessa natureza, e os problemas e lutas específicos em que está inserido cada ativista brasileiro que poderá vir a ler essa convocatória, é importante que não deixemos de demonstrar nossa solidariedade aos habitantes do município autônomo de San Juan Copala, bem como aos compas que tombaram no dia 27 de abril e 20 de maio, em defesa dos direitos de autodeterminação do povo triqui.
ABAIXO A REPRESSÃO AO MUNICIPIO AUTONOMO SAN JUAN COPALA!
VIVA A LUTA POR AUTONOMIA DE TODOS OS POVOS DO MUNDO!
AÇÃO GLOBAL CONTRA O GOVERNO FASCISTA DE OAXACA E SEUS SERVIS GRUPOS PARAMILITARES!
Sítio Autonomia em San Juan Copala | Sítio Todos Com a Caravana
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fonte: CMI
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