O primeiro grande planejamento visando o transporte sobre trilhos foi publicado em 1999 com o nome de Pitu (Plano Integrado de Transportes Urbanos) 2020. Ele foi a base de três planos do Metrô: Rede Densa, que concentrava um número maior de linhas cortando o centro da cidade; Rede Aberta, em que mais trilhos cortavam as periferias da capital paulista; e uma espécie de meio termo entre esses dois projetos. Seguindo projeções estatísticas, os técnicos do governo concluíram que o Rede Aberta seria o plano que melhor atenderias às necessidades da população, apesar de ser o mais caro. Em dezembro de 2010, o R7noticiou que, para cumprir o Rede Aberta até 2020, o governo teria que aumentar em 11 vezes seu ritmo de construção.
Em 2006, foi a vez do Pitu 2025, que apesar de ter sido apresentado como uma revisão do Pitu 2020, diminuiu as metas da extensão total do Metrô e passou a considerar com base o planejamento do Rede Densa (com mais trilhos concentrados na região central da cidade de São Paulo). Para o arquiteto Fábio Pontes, o Pitu 2025 foi "completamente diferente do Pitu 2020".
Ao mesmo tempo em que o Pitu 2025 era elaborado pela STM (Secretaria de Transportes Metropolitanos), o Metrô planejava, à parte, sua Rede Essencial. Na época, houve disputa entre os técnicos dos dois órgãos, de acordo com apuração do R7. A Rede Essencial se baseava em outros planos prévios: o Pitu 2020, a Rede Azul e a Rede Distributiva - esses dois últimos nunca chegaram a ser publicados. A principal característica da Rede Essencial era o enfoque às estações em pontos de congestionamento e a integração do Metrô com as linhas da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
Pouco tempo depois, foi a vez do Plano de Expansão, que engavetou todos os projetores anteriores. A principal característica desse plano foi a elaboração do atual trajeto de ampliação da linha 2-Verde. Ele foi seguido pelo Expansão SP, que passou a considerar monotrilhos e deu ênfase à linha 6-Laranja, a chamada "linha universitária".
"Uma linha e meia"
Nesse meio tempo, apenas uma linha nova foi inaugurada, a 5-Lilás, com apenas uma conexão com as outras linhas do sistema do Metrô; e parte da linha 4-Amarela, com apenas duas estações em funcionamento (Paulista e Faria Lima) e em fase de testes. Fora isso, a linha 2-Verde foi expandida até a Vila Prudente, mas também está em fase de testes, com horário reduzido em relação ao resto do sistema.
Para Pontes, o problema do não cumprimento e reformulação sucessiva dos planos é que eles são "para inglês ver". O especialista diz acreditar que as metas do Expansão SP também não serão alcançadas.
– Eles [os planos] simplesmente são prometidos, mas não são cumpridos.
Levantamento feito pelo arquiteto e urbanista do escritório 23sul Moreno Zaidan Garcia mostra que o Metrô inaugurou, em média, 2,6 km de obras entre os anos de 2002 e 2011. Nível bem abaixo daquele verificado em cidades como Seul, Nova Delhi e Madri, cujas médias em período similar ficaram entre 16,7 km e 31,5 km.
Para o arquiteto e consultor na área de transportes de alta capacidade Marcos Kyioto, a sobreposição de planos é um demonstrativo da descontinuidade das políticas públicas e da falta de prioridade dada ao Metrô.
– Os planos estão mudando mais rápido do que as linhas estão sendo construídas.
Mercado imobiliário
Os especialistas são unânimes em dizer que a ampliação da malha do Metrô atual é importante não só para a melhoria dos transportes em São Paulo, mas até para a da moradia. Garcia afirma que se as estações de Metrô fossem mais comuns, a especulação imobiliária seria menor, e um terreno próximo a uma estação não seria tão valorizado como é hoje.
Ainda de acordo com Garcia, outro benefício seria a distribuição do trabalho em mais polos.
– Dificilmente o centro de São Paulo vai deixar de ser o maior polo de atração de pessoas. Não creio que um dia chegaremos a um empate em 50% de gente indo e 50% de gente vindo do centro. Mas essa distribuição poderia ser de 40%-60%, por exemplo, em vez dos 90%-10% atuais.
Outro lado
A reportagem do R7 entrou em contato diversas vezes com o Metrô de São Paulo, mas a assessoria da instituição não quis se manifestar sobre o assunto.
Em nota, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos disse que as "obras que estavam em andamento na gestão passada continuam sendo executadas" [...] As demais linhas da expansão dos transportes metropolitanos, como a linha 6-Laranja (Brasilândia - São Joaquim), o monotrilho linha 17-Ouro (Jabaquara - Congonhas - Paraisópolis) e a linha 15-Branca (Vila Prudente - Tiquatira) também estão nos planos da Secretaria dos Transportes Metropolitanos".