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Não trabalhe.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

           Nesse mês de Janeiro eu decidi trabalhar. Queria ver como é acordar com a cidade e seguir a rotina daqueles que estão mantendo a sobrevivência. Queria ver como é ter meu próprio dinheiro, não importando a quantidade, apenas que seja meu, e não do meu pai. Não queria ser igual meus amigos, malandros que iam dormir na alta madrugada e acordavam na baixa tarde. Não queria ser igual aqueles que reclamam dos problemas políticos e sociais e não pegam no batente, seja lá o que isso significa. Eu queria contato, queria pisar no asfalto. Mas na verdade, eles não perdem muita coisa.
            Ou as pessoas realmente acordam para trabalhar, ou ainda estão completamente dormindo... tudo o que elas falam enquanto trabalham, é sobre o trabalho. A impressão que tive, era que todo dia era o primeiro dia de trabalho. A “necessidade” das pessoas desabafarem seu cansaço é irritante. Todos os dias, eu ouvia os mesmos suspiros, as mesmas exclamações, os mesmos “aiai”, sendo que nada doía. Ninguém realmente sente dor, ou realmente está cansado. Quem realmente sente um dos dois, não exclama, não solta gemidos. Quem sofre de verdade, sofre em silêncio. Não é a toa que só fazem esses barulhos quando tem alguém por perto. Querem atenção. Isso não me afeta em dois sentidos: sempre que chegavam perto de mim, me diziam o quanto eles estavam cansados, o quanto tinham trabalhado, o quanto estavam de saco cheio... eu não respondia, era evidente que não esperavam essa reação de mim. Esse seria meu jeito delicado de dizer um foda-se. E eu também não soltava esses sons. Desde que percebi isso nas pessoas, decidi tentar parar de falar um pouco. Todos falam muito.
            Trabalho é perigoso. Eu acordava todo dia, quase inconformado de ter que ir trabalhar, poderia ficar dormindo. Mas, infelizmente, eu chegava no trabalho e sentia um certo conforto. É o conforto da obediência. Eu iria ficar sentado o dia inteiro, fazendo o que me pediam para fazer. Não questionava. Apenas obedecia, e isso alivia bastante. Os que lá estão trabalhando, questionam as coisas erradas.
            Me dei bem no trabalho. Recebi elogios. Trabalhar é bem fácil. É só turvar os objetivos. Talvez eu, por estar consciente, tenha trabalhado tão bem. Ou na verdade, deveria ser o contrário.
            Era tudo bem estranho para mim. Espero que isso nunca se apegue a mim um dia. Queria que alguém me explicasse essas novas leis da Natureza, e por que elas mandam a favor da própria derrota. Por que as pessoas cantam a favor da própria derrota? Tudo me lembra de um certo pesadelo que costumo ter: tudo fica girando, tudo fica longe, mas está perto, tudo fica pequeno, mas é grande. Tudo dilata, tudo lateja. Tudo cresce na minha mão, tudo escorrega da minha mão. Quando acordo, eu continuo assim. E realmente tudo está assim pra mim. Tudo é estranho, tudo é longe, nada é real. Tudo é a tal cópia da cópia da cópia, de que uma vez ouvi falar.
            As pessoas são chatas no trabalho. Elas gostam de provocar, e fazem de tudo pra isso. E não sei quem são os piores, se são esses, ou se são os que se deixam ser provocados. Me lembro de uma mulher que me ligou. Não consegui resolver o problema dela. Ela disse “é complicado”, umas vinte vezes. Devia ta esperando eu explodir de raiva e cair na provocação. Mas eu decepcionei ela, fiquei em silêncio a ligação inteira, e usei a voz mais rabugenta que consegui. No fim ela pagou o que devia.
            Eu recebi, tenho 750 reais guardados. Não sei por que eu tenho eles. É como tentar preencher um quarto vazio com poeira. E mesmo que colocamos as mobílias mais bonitas, ele sempre terá espaço vazio. Trabalhamos em empregos que não gostamos, para comprarmos coisas que não precisamos, desejamos ser completos um dia, sermos perfeitos.
            Por um tempo eu tentei entender essa idéia de aperfeiçoamento x perfeição. A perfeição é inatingível, não dá para ser perfeito. Agora o aperfeiçoamento, além de ser o objetivo, é o próprio caminho. E na verdade é muito fácil, é só manter a cabeça aberta e o livro em cima da estante.
            Eu que o diga:
            Que eu jamais seja completo.
            Que eu jamais seja perfeito.
            A solução não é auto-aperfeiçoamento.
            A solução é auto-destruição.
            É uma geração criada de forma errada.
            Deus criou nossos ancestrais, nossos avós, nossos pais. E todos eles falharam. Agora o que isso nos diz sobre Deus? Já chegou na hora de aceitarmos a idéia de que Deus não liga para a gente, ele não gosta da gente, e ele provavelmente odeia a gente. Então ele que se dane, não precisamos dele. Não iremos desperdiçar a dor.
            A solução é fácil. Vá em shows de hardcore, e se bata com quem não conhece. Beba até não conseguir andar. Não tenha amor ou respeito-próprio. Esqueça tudo o que pensa que sabe sobre amizade, amor, família ou qualquer coisa. Não trabalhe. Não tenha filhos para sustentar. Ah, inferno! Não tenha nem um “você mesmo” para sustentar. Pare tudo e escolha a personalidade que quiser, arrisque tudo e seja quem você quer ser. Não tenha nada, não seja nada. Aceite seu destino, você vai morrer. E quem sabe um dia andaremos nas ruínas das cidades, caçando para sobreviver. Ah... a anarquia. Eu por exemplo, ando falando pouco. Quase não me irrito mais, tentar me provocar é em vão. Como rápido, porque assim não tenho que ficar na mesa ouvindo as merdas que uns têm para dizer aos outros.
             Não é tão fácil. Precisamos esquecer os dias vergonhosos do passado. Queimar a memória. Todos temos nossa Marla Singer para arruinar nosso plano.
             Na minha vida eu fiquei procurando algo, algo nunca vem, só vem o nada. Eu não sou mais idiota, não quero mais ficar recomeçando, em algum lugar novo.
            Acho que ta todo mundo confundindo o conceito de igualdade, se for para sermos iguais, não é para vivermos todos numa casa confortável, é para ficarmos todos na mesma merda. Zeraríamos tudo, voltaríamos aos primórdios, evolução natural tudo de novo, acabaria com todo e qualquer pedaço de História que restasse. Usaríamos a mesma camisa de flanela e calça jeans e botas até o dia que morrermos. Viveríamos uma vida real.
            Simplifique, a fome só é real uma vez por dia. Durma pouco. A vida não é sobre o carro que você dirige, nem quanto dinheiro tem, nem sobre a cor do seu cabelo, e nem sobre a marca da porra da sua calça.
            Está na hora de viver intensamente, enfrentar somente os fatos essenciais da vida e ver se não poderia aprender o que ela tinha a ensinar, em vez de, vindo a morrer, descobrir que não tinha vivido. Não quero viver o que não for vida, tão caro que é viver.
Quero lapidar a vida, remover tudo o que não for vida. Pois muitos por aí, vivem em desespero, na duvida de saber se a vida é uma obra do demônio ou de Deus, e todos têm concluído de forma muito apressada que a vida seja sobre “glorificar Deus e goza-lo para sempre”.
            Não preciso de um trabalho para ser completo. Não preciso de roupa para ser completo. Não preciso nem de um pai para ser completo.
            Pare de tentar controlar tudo.
            Escorregue.

1 comentários:

Luccas M. disse...

somente depois de perder tudo, voce é livre pra fazer o que quiser,
"deixe seu coração bater, por liberdade e mais ação" ;)

6 de fevereiro de 2011 às 15:23

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