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Mensagens de celular pedem continuidade de manifestações contra preços altos em Moçambique

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Novas mensagens de celular começaram a circular em Maputo, capital de Moçambique, convocando a população para continuar a protestar contra o aumento do preço de produtos básicos, como pão, água e energia elétrica. As manifestações de hoje (1/9), que resultaram na morte de seis pessoas, foram convocadas via SMS enviados no início desta semana.

“Moçambicanos, o Guebuza (Armando, presidente de Moçambique) e seus lacaios estão a mentir como sempre mentiram. Não paremos com a greve até que o governo adopte medidas para a redução do custo de vida. A luta continua”, diz uma das mensagens lidas por Opera Mundi.

Amanda Rossio/Opera Mundi
Moçambicanos foram às ruas de Maputo contra o aumento do preço de produtos básicos

Ontem (31/8), propagaram-se mensagens de celular chamando a população a entrar em greve nessa quarta-feira, dia para o qual estavam previstos aumentos nos preços de água, energia e pão: "Moçambicano, prepara-te para a greve geral 01/09/2010. Reivindicamos a subida do preço do pão, água, luz e diversos. Envie para outros moçambicanos. Despertar".

Nos bairros da periferia da cidade, onde se concentraram as manifestações, a situação era tensa. À tarde, feridos não paravam de chegar aos hospitais e viaturas policiais circulavam em alta velocidade pelas ruas em direção às zonas de confronto.

As autoridades moçambicanas ainda não têm informações sobre quem seriam os autores das mensagens. Nenhuma organização reivindicou a liderança dos protestos. Até agora, tudo indica que as manifestações não tem um comando e que ganharam força devido ao descontentamento geral da população com o aumento do custo de vida.

Confrontos

Nos confrontos de hoje, homens, mulheres e até crianças portavam pedras e pedaços de madeira. As ruas de bairros da periferia estavam tomadas por barricadas montadas com troncos de árvores, pedras e pneus incendiados. Em todo lugar se ouviam gritos: "estamos a morrer de fome!".

No bairro Costa do Sol, Rua da Ana Alice, os manifestantes colocaram fogo em pneus e formaram barricadas com pedras. Pela manhã, a polícia chegou no bairro e entrou em confronto com os manifestantes. Os policiais atiraram para cima e também usaram gás lacrimôgeneo. "E agora, o que vamos fazer? A polícia luta conosco e nós lutamos por pão", gritou um manifestante para a reportagem do Opera Mundi.

"Estão a disparar arma! Como as crianças vão voltar para casa (da escola)? Estou preocupada com minha filha", gritou com a polícia Rosa Indive, de 25 anos, moradora do bairro Costa do Sol. "Por que não vai você buscar sua filha na escola?", gritou uma policial. "Com vocês a nos ameaçarem com essas armas, o que eu posso fazer?", respondeu Indive.

O centro da cidade ficou vazio, pessoas, carros e chapas, meio de transporte mais usado pela população moçambicana, não circularam. A maior parte do comércio fechou. Nas rádios, a polícia moçambicana recomendava que a população não saísse de casa.

O dia começou tranquilo em Maputo, muitas pessoas conseguiram chegar aos locais de trabalho e crianças foram para a escola. "Lá pelas 8h ouvimos carros de polícia com alarmes e ao longo do dia as pessoas foram se aglomerando nas ruas", conta Celso Durão, músico morador do bairro Unidade 7, onde houve confronto entre os manifestantes e a polícia. "O povo está reivindicando seus direitos, todo o preço aumenta de qualquer maneira. O povo estava agitado, lançava pedras contra polícia, que lançava gás lacrimogêneo e balas de borracha para afugentar o povo para casa".

A polícia moçambicana reagiu violentamente às manifestações. O porta-voz do Comando Geral da Polícia, Pedro Cossa, disse em coletiva de imprensa na tarde de hoje que os policiais usaram balas de borracha e gás lacrimogêneo e que não tem informação sobre uso de munição real, apesar do grande número de filmagens realizadas pela imprensa moçambicana provando o contrário.

Segundo o Comando Geral da Polícia, houve quatro vítimas fatais e 27 feridos. No entanto, o número de feridos chegava a 46 apenas no Hospital Central por volta de 15h. Cossa também disse não ter informação sobre as quatro mortes. O País, maior jornal não estatal de Moçambique, informa que duas crianças foram alvejadas pela polícia.

Amanda Rossio/Opera Mundi
Cidadãos denunciaram que a polícia usou força excessiva no controle das manifestações

Em toda a cidade houve saques. No bairro de Xiquelene, muitas pessoas corriam com sacos de arroz de 20 quilos. Dados oficiais da polícia divulgados no final da tarde apontam que foram saqueados 32 estabelecimentos comerciais e três vagões carregados de milho. Segundo dados da polícia, foram incendiados três ônibus, dois carros e um posto de gasolina. Foram detidas 142 pessoas.

Governo

As autoridades não haviam se manifestado sobre o episódio até o final da manhã desta quarta-feira. No fim da tarde, o presidente Armando Guebuza fez um pronunciamento oficial dizendo que o aumento dos preços é agravado por fatores externos. Segundo ele, o governo deu subsídios para combustíveis e importação de trigo na tentativa de controlar a situação.

Guebuza também salientou que episódios como o vivido hoje em Maputo afastam investimentos nacionais e estrangeiros que “contribuem para a geração de mais postos de trabalho”.

“Nossos compatriotas que são usados nessa manifestação estão a contribuir para trazer luto e dor no seio da família moçambicana e para o agravamento das condições de vida da população”. O Ministro do Interior, José Pacheco, chamou os manifestantes de "aventureiros, bandidos, malfeitores", em pronunciamento oficial na tarde de hoje.

Em Maputo, as manifestações públicas são raras. A última grande onda de protestos ocorreu em fevereiro de 2008, motivada pelo anúncio do aumento do chapa de 5 para 7,5 Meticais (de 0,25 para 0,37 reais). Na ocasião, manifestantes também queimaram pneus e formaram barricadas e houve confronto com a polícia. Mas a dimensão do confronto foi menor que a verificada hoje, segundo jornalistas que cobriram os protestos de 2008.

O rapper moçambicano Azagaia se inspirou nos protestos de 2008 para compor a música “O Povo no Poder”. Na época do lançamento, foi chamado a depor na Procuradoria Geral da República sob a acusação de incitação à violência. Nos protestos de hoje, o refrão da música virou grito de guerra ecoado pelos manifestantes. “O povo no poder, é o povo no poder”. “Salário mísero, o povo sai de casa e atira para o primeiro vidro / Sobe o preço do transporte, sobe o preço do pão / Agora pedem ponderação”, diz a letra da música.


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