A inserção internacional do Brasil transformou-se de maneira visível no Governo Lula. O mundo já o trata como potência emergente e, versa o discurso oficial, é patente a sua liderança na América do Sul. Ademais, argumenta-se que as relações Sul-Sul prosperam com velocidade e que o protagonismo nacional em órgãos como a ONU, Organização Mundial do Comércio (OMC) e o G-20 financeiro faz do País um ator importante, senão fundamental, nas relações internacionais.
Alguns buscaram, na esteira das eleições presidenciais, engrossar o coro das críticas à política externa do Governo Lula. Questionou-se a maneira com que o governo brasileiro lidou com a questão de Honduras, oferecendo asilo ao presidente deposto, Manuel Zelaya. Duvidou-se da necessidade de estender a mão ao regime iraniano na questão nuclear. Tentaram atribuir ao governo o rótulo de autoritário, ao denunciar relações amistosas entre Brasil e Cuba e Venezuela. No meio disto, houve até espaço para sugerir relações íntimas entre o PT e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as FARC.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A política externa brasileira do governo Lula representa um acerto geral, repleta de equívocos pontuais de percurso. Erros que podem ser facilmente corrigidos, à medida que foram causados, em grande parte, por desvios ideológicos. Se à política externa foram dadas tintas partidárias, foi precisamente na relação com os bolivarianos e socialistas latino-americanos, cuja repercussão para a inserção internacional do Brasil é diminuta. Em todo o resto, inclusive na projeção brasileira para regiões nunca antes exploradas, como Oriente Médio, prevaleceu o pragmatismo universalista do Itamaraty, sob a batuta do já decano chanceler Celso Amorim.
É precisamente essa necessidade de "calibrar" os excessos da política externa brasileira que precisará pautar o governo da presidente Dilma Roussef. Ela provavelmente devolverá ao Itamaraty parte das prerrogativas diplomáticas que Lula, munido de um magnetismo incomum, incorporou para si, na exacerbação de sua diplomacia presidencial. O novo governo terá de conjugar as aspirações globais do País com a ausência de uma liderança marcante. Muito da projeção brasileira nos últimos anos deveu-se à empatia estabelecida com Lula, sua trajetória e seu carisma. Erros de percurso, amparados habilmente pelo atual presidente, provavelmente representarão um custo mais alto para sua sucessora. Dilma terá, portanto, de empreender uma política externa cautelosa, sabendo que não é "o cara" que, por méritos próprios, esteve estampado nas grandes revistas internacionais nos últimos anos.
Em todo caso, a palavra de ordem será "ajuste". A política externa do governo Lula, entre erros e acertos, foi responsável por projetar o Brasil a patamares "nunca antes vistos na História deste país". Fruto, não devemos esquecer, de uma soma de fatores – como estabilização econômica e desenvolvimento social – que se vêm acumulando ao longo dos últimos 16 anos. O capital político e a influência internacional alcançados pelo Brasil neste período chegaram a um ponto sem volta. Caberá à sucessora de Lula assimilar os méritos e corrigir os excessos, de modo a fazer do Brasil uma potência cada vez mais relevante na política internacional.
Por Guilherme Stolle Paixão e Casarões é professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco e pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC).
FONTE: Gazeta New
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