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Não haverá vencedores

segunda-feira, 29 de novembro de 2010


MARCELO FREIXO



Pode parecer repetitivo, mas é isso: uma solução para a segurança pública do Rio terá de passar pela garantia dos direitos dos cidadãos da favela




Dezenas de jovens pobres, negros, armados de fuzis, marcham em fuga, pelo meio do mato. Não se trata de uma marcha revolucionária, como a cena poderia sugerir em outro tempo e lugar.


Eles estão com armas nas mãos e as cabeças vazias. Não defendem ideologia. Não disputam o Estado. Não há sequer expectativa de vida.


Só conhecem a barbárie. A maioria não concluiu o ensino fundamental e sabe que vai morrer ou ser presa.


As imagens aéreas na TV, em tempo real, são terríveis: exibem pessoas que tanto podem matar como se tornar cadáveres a qualquer hora. A cena ocorre após a chegada das forças policiais do Estado à Vila Cruzeiro e ao Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro.


O ideal seria uma rendição, mas isso é difícil de acontecer. O risco de um banho de sangue, sim, é real, porque prevalece na segurança pública a lógica da guerra. O Estado cumpre, assim, o seu papel tradicional. Mas, ao final, não costuma haver vencedores.


Esse modelo de enfrentamento não parece eficaz. Prova disso é que, não faz tanto tempo assim, nesta mesma gestão do governo estadual, em 2007, no próprio Complexo do Alemão, a polícia entrou e matou 19. E eis que, agora, a polícia vê a necessidade de entrar na mesma favela de novo.


Tem sido assim no Brasil há tempos. Essa lógica da guerra prevalece no Brasil desde Canudos. E nunca proporcionou segurança de fato. Novas crises virão. E novas mortes. Até quando? Não vai ser um Dia D como esse agora anunciado que vai garantir a paz. Essa analogia à data histórica da 2ª Guerra Mundial não passa de fraude midiática.


Essa crise se explica, em parte, por uma concepção do papel da polícia que envolve o confronto armado com os bandos do varejo das drogas. Isso nunca vai acabar com o tráfico. Este existe em todo lugar, no mundo inteiro. E quem leva drogas e armas às favelas?


É preciso patrulhar a baía de Guanabara, portos, fronteiras, aeroportos clandestinos. O lucrativo negócio das armas e drogas é máfia internacional. Ingenuidade acreditar que confrontos armados nas favelas podem acabar com o crime organizado. Ter a polícia que mais mata e que mais morre no mundo não resolve.


Falta vontade política para valorizar e preparar os policiais para enfrentar o crime onde o crime se organiza -onde há poder e dinheiro. E, na origem da crise, há ainda a desigualdade. É a miséria que se apresenta como pano de fundo no zoom das câmeras de TV. Mas são os homens armados em fuga e o aparato bélico do Estado os protagonistas do impressionante espetáculo, em narrativa estruturada pelo viés maniqueísta da eterna “guerra” entre o bem e o mal.


Como o “inimigo” mora na favela, são seus moradores que sofrem os efeitos colaterais da “guerra”, enquanto a crise parece não afetar tanto assim a vida na zona sul, onde a ação da polícia se traduziu no aumento do policiamento preventivo. A violência é desigual.


É preciso construir mais do que só a solução tópica de uma crise episódica. Nem nas UPPs se providenciou ainda algo além da ação policial. Falta saúde, creche, escola, assistência social, lazer.


O poder público não recolhe o lixo nas áreas em que a polícia é instrumento de apartheid. Pode parecer repetitivo, mas é isso: uma solução para a segurança pública terá de passar pela garantia dos direitos básicos dos cidadãos da favela.


Da população das favelas, 99% são pessoas honestas que saem todo dia para trabalhar na fábrica, na rua, na nossa casa, para produzir trabalho, arte e vida. E essa gente -com as suas comunidades tornadas em praças de “guerra”- não consegue exercer sequer o direito de dormir em paz.


Quem dera houvesse, como nas favelas, só 1% de criminosos nos parlamentos e no Judiciário…



MARCELO FREIXO, professor de história, deputado estadual (PSOL-RJ), é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

retirado do blog do Juca

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O texto de Marcelo nada mais é do que a realidade, nua e crua. E toda essa problemática nos volta para a incapacidade, ou a falta de vontade, do governo de resolver tudo isso. As dificuldades que essas pessoas passam hoje, a necessidade (de algumas) de se aliar às milícias a fim de sobreviver, e a aceitação da população das comunidades ao tráfico são reflexos diretos do sistema corrupto e sujo em que vivemos, reflexos de um passado de exploração e colonização que deixou profundas marcas sociais no Brasil.


O tráfico que a TV não mostra

domingo, 28 de novembro de 2010

A raiva mal dirigida nos EUA

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Tomando emprestadas as palavras de Fritz Stern, o famoso estudioso da história alemã: tenho idade suficiente para lembrar-me daqueles dias ameaçadores nos quais os alemães despencaram da decência para a barbárie nazista. Em um artigo de 2005, Stern indica que tem o futuro dos EUA em mente quando repassa um processo histórico no qual o ressentimento contra um mundo secular desencantado encontrará a liberação no êxtase da fuga da razão. O mundo é demasiado complexo para que a história se repita, mas de todo modo há lições que devem ser relembradas. O artigo é de Noam Chomsky.

Nunca havia testemunhado tamanho grau de irritação, desconfiança e desencanto como o que presenciamos nos Estados Unidos por ocasião das eleições de metade de mandato. Desde que os democratas chegaram ao poder, estão tendo que lidar com nosso monumental incômodo pela situação social, econômica e política do país. Em uma pesquisa da empresa Rasmussen Records, realizada em outubro, mais da metade da cidadania americana assegura ver com bons olhos o movimento Tea Party: esse é o espírito do desencanto.

Os motivos de queixa são legítimos. Nos últimos 30 anos, os salários reais da maioria da população estancaram ou diminuíram, enquanto que a insegurança trabalhista e a carga de trabalho seguiram aumentando, do mesmo modo que a dívida. Acumulou-se riqueza, mas só em alguns bolsos, provocando desigualdades sem precedente.

Estas são as consequências derivadas da financeirização da economia, que vem se desenvolvendo desde os anos 70, e do correspondente abandono da produção doméstica. Recordando esse processo: a mania da desregulamentação defendida por Wall Street e apoiada por economistas fascinados pelos mitos da eficiência do mercado.

O público adverte que os banqueiros, responsáveis em boa parte pela crise financeira e que tiveram que ser salvos da bancarrota, estão desfrutando de lucros recordes e suculentas bonificações, enquanto os índices do desemprego continuam em torno de 10%. A indústria encontra-se em níveis similares aos da Grande Depressão: um de cada seis trabalhadores está desempregado, e o cenário indica que os bons empregos não vão voltar.

O povo, com razão, quer respostas e ninguém as dá, com exceção de umas poucas vozes que contam histórias com certa coerência interna: desde que se suspenda a incredulidade e se adentre em seu mundo de disparate e engano.

Mas ridicularizar as travessuras do Tea Party não é o mais acertado. Seria muito mais apropriado tentar compreender o que sustenta o encanto desse movimento popular e nos perguntar por que uma série de pessoas irritadas estão sendo mobilizadas pela extrema direita e não pelo tipo de ativismo construtivo que surgiu nos tempos da Depressão (como, por exemplo, o Congresso das Organizações Industriais, CIO).

Neste momento, o que os simpatizantes do Tea Party ouvem é que todas instituições (governo, corporações e corpos profissionais) estão apodrecidas e que nada funciona. Entre o desemprego e outros inúmeros problemas, os democratas não têm tempo para denunciar as políticas que conduziram ao desastre. Pode ser que o presidente Ronald Reagan e seus sucessores republicanos tenham sido os grandes culpados, mas essas políticas iniciaram já com o presidente Jimmy Carter e se intensificaram com o presidente Bill Clinton. Durante as eleições presidenciais, entre o eleitorado principal de Barack Obama estavam as instituições financeiras, que afiançaram sua primazia sobre nas últimas décadas.

Aquele radical incorrigível do século XVIII, Adam Smith, referindo-se a Inglaterra, diria que os principais arquitetos do poder eram os donos da sociedade (naqueles dias, os mercadores e industriais), e estes se asseguravam que as políticas do governo se ativessem religiosamente a seus interesses, por mais penoso que fosse o impacto sobre a população inglesa, ou pior, sobre as vítimas da “selvagem injustiça dos europeus” em outros países.

Uma versão mais moderna e sofisticada da máxima de Smith é a teoria do investimento em partidos políticos, do economista político Thomas Ferguson, que considera as eleições como eventos nos quais grupos de investidores se unem para poder controlar o Estado, selecionando para isso os arquitetos daquelas políticas que atendem aos seus interesses.

A teoria de Ferguson é útil para antecipar as estratégias políticas para longos períodos de tempo. Isso não é nenhuma surpresa. As concentrações de poder econômico procurarão de maneira natural estender sua influência sobre qualquer processo político. O que ocorre é que, nos Estados Unidos, essa dinâmica é extrema.

E ainda assim pode-se argumentar que os desperdícios empresariais têm uma defesa válida frente às acusações de avareza e desprezo pelo bem comum. Sua tarefa é maximizar os lucros e o “bem-estar” do mercado. De fato, esse é seu dever legal. Se não cumprissem essa obrigação, seriam substituídos por alguém que o fizesse. Também ignoram o risco sistemático: a possibilidade que suas transações prejudiquem a economia em seu conjunto. Esse tipo de externalidade não é de sua incumbência, e não é por que sejam más pessoas, mas sim por razões de tipo institucional.


Quando a bolha estoura, os que correram os riscos correm para o refúgio do Estado. As operações de resgate, uma espécie de apólice de seguro governamental, constituem um dos perversos incentivos que magnificam as ineficiências do mercado.

Cada vez está mais ampliada a ideia de que nosso sistema financeiro percorre um ciclo catastrófico, escreveram, em janeiro deste ano, os economistas Peter Boone e Simon Johnson, no Financial Times. Toda vez que ele sucumbe, confiamos que seja resgatado por políticas fiscais e dinheiro fácil. Esse tipo de reação mostra ao setor financeiro que ele pode fazer grandes apostas, pelas quais será generosamente recompensado, sem ter que se preocupar com os custos que possa vir a ocasionar, porque será o contribuinte quem acabará pagando por meio de resgates e outros mecanismos. E, como consequência, o sistema financeiro ressuscita outra vez, para apostar de novo e voltar a cair.

O dia do juízo final é uma metáfora que também se aplica fora do mundo financeiro. O Instituto do Petróleo Americano, respaldado pela Câmara de Comércio e outros grupos de pressão, intensificou seus esforços para persuadir o público a abandonar sua preocupação com o aquecimento global provocado pelo homem e, segundo mostram as pesquisas, obteve bastante êxito nesta tarefa. Entre os candidatos republicanos ao Congresso nas eleições de 2010, praticamente todo mundo rechaça a ideia de aquecimento global.

Os executivos responsáveis pela propaganda sabem de sobra que o aquecimento global é verídico e nosso futuro incerto. Mas o destino das espécies é uma externalidade que os executivos têm que ignorar, pois o que se impõe é o sistema de mercado. E o público não poderá sair em operação de resgate quando finalmente se confirme o pior dos cenários possíveis.

Tomando emprestadas as palavras de Fritz Stern, o famoso estudioso da história alemã: tenho idade suficiente para lembrar-me daqueles dias ameaçadores nos quais os alemães despencaram da decência para a barbárie nazista. Em um artigo de 2005, Stern indica que tem o futuro dos EUA em mente quando repassa um processo histórico no qual o ressentimento contra um mundo secular desencantado encontrará a liberação no êxtase da fuga da razão.

O mundo é demasiado complexo para que a história se repita, mas de todo modo há lições que devem ser relembradas quando verificamos as consequências de outro ciclo eleitoral. Não é pequena a tarefa diante de quem deseje apresentar-se como uma alternativa à indignação e à fúria enlouquecida, ajudando a organizar os não poucos descontentes e sabendo liderar o caminho para um futuro mais próspero.


Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Fonte: CartaMaior

A política externa no Governo Dilma

A inserção internacional do Brasil transformou-se de maneira visível no Governo Lula. O mundo já o trata como potência emergente e, versa o discurso oficial, é patente a sua liderança na América do Sul. Ademais, argumenta-se que as relações Sul-Sul prosperam com velocidade e que o protagonismo nacional em órgãos como a ONU, Organização Mundial do Comércio (OMC) e o G-20 financeiro faz do País um ator importante, senão fundamental, nas relações internacionais.

Alguns buscaram, na esteira das eleições presidenciais, engrossar o coro das críticas à política externa do Governo Lula. Questionou-se a maneira com que o governo brasileiro lidou com a questão de Honduras, oferecendo asilo ao presidente deposto, Manuel Zelaya. Duvidou-se da necessidade de estender a mão ao regime iraniano na questão nuclear. Tentaram atribuir ao governo o rótulo de autoritário, ao denunciar relações amistosas entre Brasil e Cuba e Venezuela. No meio disto, houve até espaço para sugerir relações íntimas entre o PT e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as FARC.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A política externa brasileira do governo Lula representa um acerto geral, repleta de equívocos pontuais de percurso. Erros que podem ser facilmente corrigidos, à medida que foram causados, em grande parte, por desvios ideológicos. Se à política externa foram dadas tintas partidárias, foi precisamente na relação com os bolivarianos e socialistas latino-americanos, cuja repercussão para a inserção internacional do Brasil é diminuta. Em todo o resto, inclusive na projeção brasileira para regiões nunca antes exploradas, como Oriente Médio, prevaleceu o pragmatismo universalista do Itamaraty, sob a batuta do já decano chanceler Celso Amorim.

É precisamente essa necessidade de "calibrar" os excessos da política externa brasileira que precisará pautar o governo da presidente Dilma Roussef. Ela provavelmente devolverá ao Itamaraty parte das prerrogativas diplomáticas que Lula, munido de um magnetismo incomum, incorporou para si, na exacerbação de sua diplomacia presidencial. O novo governo terá de conjugar as aspirações globais do País com a ausência de uma liderança marcante. Muito da projeção brasileira nos últimos anos deveu-se à empatia estabelecida com Lula, sua trajetória e seu carisma. Erros de percurso, amparados habilmente pelo atual presidente, provavelmente representarão um custo mais alto para sua sucessora. Dilma terá, portanto, de empreender uma política externa cautelosa, sabendo que não é "o cara" que, por méritos próprios, esteve estampado nas grandes revistas internacionais nos últimos anos.

Em todo caso, a palavra de ordem será "ajuste". A política externa do governo Lula, entre erros e acertos, foi responsável por projetar o Brasil a patamares "nunca antes vistos na História deste país". Fruto, não devemos esquecer, de uma soma de fatores – como estabilização econômica e desenvolvimento social – que se vêm acumulando ao longo dos últimos 16 anos. O capital político e a influência internacional alcançados pelo Brasil neste período chegaram a um ponto sem volta. Caberá à sucessora de Lula assimilar os méritos e corrigir os excessos, de modo a fazer do Brasil uma potência cada vez mais relevante na política internacional.


Por Guilherme Stolle Paixão e Casarões é professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco e pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC).

FONTE: Gazeta New

Entrevista com Tom Morello do Rage Against the Machine

terça-feira, 23 de novembro de 2010


Nascida em 1991 na Califórnia, EUA, a banda Rage Against The Machine (RATM) se consolidou no cenário mundial da música com uma rara mescla de rap, variantes do rock and roll pesado e crítica política furiosa e constante.

Na trajetória da banda, pedradas ao capitalismo, ao belicismo estadunidense, ao racismo, ao etnocídio dos nativos da América, à violência machista. Homenagens aos zapatistas, à Liga Anti-Fascista da Europa, à organização Women Alive, aos presos políticos Leonard Peltier e Múmia Abu-Jamal.

Para todos estes, a banda realizou shows, revertendo todo o dinheiro para a defesa das causas. O RATM também tocou em protestos contra o Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio) e a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), fez dois shows contra à guerra (2000 e 2008) às portas da Convenção Nacional do Partido Democrata, provocou o fechamento da Bolsa de Valores de Nova York por algumas horas ao tentarem gravar um clipe, dirigido por Michael Moore, em frente à instituição, e, também, foi censurado pela emissora NBC por exibirem a bandeira dos EUA de cabeça para baixo em uma apresentação.

Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, a emissora Clear Channel criou a lista de “músicas com letras questionáveis”, na qual o RATM foi a única banda a ter todas as suas músicas incluídas.

De 2000 a 2007, a banda esteve separada, mas, em outubro deste ano, aterrissou e “aterrorizou” pela primeira vez em solo sul-americano, passando por Brasil, Argentina e Chile, homenageando o MST, as Mães da Praça de Maio, Víctor Jara e Salvador Allende. Passada a turnê, o guitarrista do RATM, Tom Morello, concedeu uma entrevista exclusiva ao Brasil de Fato.

Brasil de Fato – Os fãs da América do Sul esperaram muito tempo por uma apresentação do RATM. Vocês gostaram da recepção do público?

Tom Morello – Nós ficamos muito extasiados com o público brasileiro. Nós temos grandes fãs no Brasil e é uma vergonha termos demorado 19 anos para tocar no país. Mas valeu a espera. Foi realmente uma noite para ser lembrada.

O RATM é uma banda claramente anticapitalista. Porém, percebemos, no show do Brasil, que parte considerável dos seus fãs não se interessa pelo conteúdo político ou até mesmo tem aversão a posicionamentos de esquerda. Como vocês interpretam isso?

O RATM é uma banda que se preocupa em agir amplamente. Tocamos nossa música para atingir uma ampla variedade de pessoas, independentemente de suas inclinações ideológicas. Estou tranquilo com isso. Nós não somos uma banda elitista que toca exclusivamente para pessoas que compartilham exatamente nossa pauta política. O que nós percebemos ao longo destes anos é que muitos jovens que antes eram apáticos ou possuíam opiniões políticas diferentes foram expostos a um novo conjunto de ideias através de nossa música e, em alguns casos, isso os ajudou a mudar sua forma de pensar.

Um jornalista chegou a publicar que vocês foram usados pelo MST no Brasil, colocando-os como “gringos bonzinhos nas mãos de pessoas más”. O que você tem a dizer sobre isso?
Minha hipótese é que o jornalista que diz sermos marionetes nas mãos do MST possivelmente discorda da postura política do movimento. Isto é uma crítica comum que encontramos aqui nos Estados Unidos. Quando a mídia de direita critica artistas por se posicionarem politicamente é geralmente porque eles discordam do ponto de vista dos artistas. Eu aprendi sobre o MST com o Zack, que conhece bastante sobre os movimentos políticos de toda a América Latina e nós temos orgulho de prestar solidariedade ao MST na sua luta por justiça no Brasil.

Você faz parte de algum movimento político?

Sou cofundador, junto com Serj Tankian, da banda System of a Down, da Axis of Justices, uma organização sem fins lucrativos determinada a reunir músicos, fãs de música e organizações políticas de base para lutar por paz, direitos humanos e justiça econômica. Também sou membro do IWW (Trabalhadores Industriais do Mundo, por sua sigla em inglês), uma organização de trabalhadores radical, fundada no início do século 20 e que engloba trabalhadores de todos os tipos. Trabalhadores da indústria do sexo, estudantes, músicos, metalúrgicos, camponeses etc.

Qual a importância para vocês que os jovens apoiem movimentos sociais, como o MST? No Brasil, atualmente, a juventude raramente se engaja em lutas sociais. Como ela se comporta nos EUA?

É a juventude que muda o mundo e eu acredito ser de crucial importância que eles ganhem perspectiva numa larga variedade de ideias e movimentos políticos que estão abertos para a participação deles em seus próprios países. Nos Estados Unidos, a juventude foi muito energizada pela campanha presidencial do Obama e muitos se desiludiram com suas ações desde que ele foi eleito. Existe muito descontentamento nos Estados Unidos com a economia e com o prosseguimento das guerras no Oriente Médio e, infelizmente, os semideuses da direita têm manipulado esse descontentamento para os seus próprios propósitos.

A vitória dos republicanos nas últimas eleições nos parece um fiel exemplo disso. Existem movimentos populares nos Estados Unidos capazes de reverter esse quadro?

Durante a administração Bush, houve um fortíssimo movimento antiguerra. Muito da energia desse movimento foi canalizada para a campanha do Obama, quem eu considero uma pessoa decente. Mas acredito que a alta cúpula do governo está repleta de compromissos. A política nos Estados Unidos é dominada e operada pelo grande capital e não me surpreende este giro à direita que tivemos depois de dois anos com Obama. E não é porque sua política ameaçava a elite em qualquer aspecto. Seu apoio contínuo à guerra do Afeganistão e o resgate criminoso oferecido aos bancos e à indústria financeira são uma clara indicação de sua fidelidade de classe. Mas o que sublinhou o movimento da extrema direita na política estadunidense foi o desafio às convenções culturais que o Obama representa. Existem muitos racistas nos Estados Unidos que sequer podem dormir bem sabendo que existe um presidente negro na Casa Branca. A extrema direita usou temas como raça, sentimentos antigay e anti-imigrantes para reavivar a animosidade para com o centrista Partido Democrata, deixando sua pauta econômica e de poder por detrás e, assim, convencendo a maioria da classe trabalhadora branca a votar contra os seus próprios interesses.

Que visão vocês tem sobre o recente processo político latino-americano?
Parece-me que, enquanto os Estados Unidos focaram sua atenção em nossas guerras imorais e ilegais no Oriente Médio, a América Latina foi deixada para seguir seu próprio destino. Eu estou muito satisfeito que, ao longo do curso da última década, movimentos realmente populares tenham começado a influenciar a política do Estado e, eventualmente, tenham ascendido ao poder na América Latina. Governos que explicitamente estão ao lado dos pobres e da classe trabalhadora, ao mesmo tempo em que a população de qualquer país deve estar atenta contra a corrupção. Eu acredito que é um sinal encorajador que os oprimidos tenham, mais do que nunca, voz na política latino-americana.

Entrando na música, mas sem sair tanto da política, como uma banda como o RATM lida com a indústria cultural?

Bom, é bem possível que ninguém no Brasil jamais tivesse escutado o RATM ou que ninguém se interessasse em ler esta entrevista se não fosse o fato da música do RATM ser veiculada pela Sony Music. Logo no início da banda, nós tomamos uma decisão de forma extremamente consciente sobre como tentaríamos divulgar nossa mensagem revolucionária para o maior número de pessoas possíveis ao redor do mundo. E, ainda que eu respeite as decisões de outros artistas em lidar exclusivamente com gravadoras independentes, nossos objetivos políticos são muito maiores. Nós queremos que nossa música tenha um impacto mundial.

A influência musical de vocês é bastante vasta. Do RAP ao Rock, passando pela música negra e até o heavy metal. Ela sempre se pautou pela atividade política?

Minhas preferências musicais são muito amplas e certamente nem sempre existe um componente político nelas. Eu adoro heavy metal, como Black Sabbath, Iron Maiden e Rush, assim como o hip-hop contemporâneo de DMX e Jay-Z e, obviamente, também gosto de grupos políticos, como Public Enemy e The Clash. No RATM, nós sempre sintetizamos nossas várias influências musicais para então preencher com o nosso compromisso político.

Algo na música sul-americana é referência para você?
Um dos meus maiores heróis musicais é Víctor Jara, o tremendamente talentoso mártir do golpe de 1973 no Chile. Sua vida como músico e ativista é muito inspiradora, especialmente no meu projeto solo, que leva o nome de The Nightwatchman.

Você apontaria novos talentos na música?
Eu sou um grande fã de Gogol Bordello, The Arcade Fire, Bright Eyes e de uma banda pouco conhecida fora da cidade de Nova York, que se chama Outernational.

O RATM voltou para ficar? Há previsão para novos trabalhos?
Bem, nós estamos juntos de verdade, como nosso show no Brasil demonstrou. Atualmente, não existem planos para um novo disco, mas nós continuamos amigos e fazendo shows. Mas o futuro não está escrito.

Vocês têm planos para retornar à América do Sul?
Eu adoraria voltar em breve para tocar mais vezes e explorar o continente. Nessa viagem, nós estivemos na América do Sul por menos de dez dias, o que não foi nem de longe suficiente. Eu fui inspirado pelo público daí, pelo encontro com o MST, pelo ensaio que nós vimos da escola de samba Vai Vai, por visitar os túmulos de Víctor Jara e Allende no Chile, por marchar com as Mães da Praça de Maio em Buenos Aires. Essas coisas serão absorvidas por minha música no futuro. Finalmente, gostaria de agradecer muito aos fãs do Brasil. Levamos dezenove anos para ir pela primeira vez, mas garanto que não levaremos outros dezenove anos para voltar. Nos veremos em breve.


QUEM É

Nascido em 1964 no Harlem, em Nova York, formado em ciências políticas na Universidade de Harvard, Tom Morello foi incluído pela revistaRolling Stone como um dos 100 maiores guitarristas de todos os tempos.





Fonte: Brasil de Fato

Eduardo Marinho - Supertramp brasileiro

Eduardo Marinho já foi morador de rua, dormiu nas estradas, pedindo comida num espírito de luta contra a injustiça e o Estado anti-democrático brasileiro. Teve uma vida jovem privilegiada, mas decidiu viver na miséria para se manter longe de toda a falsa segurança e excesso material servidos pelo acumulo supérfluo de privilégios.



Link para o blog de Eduardo: http://observareabsorver.blogspot.com/

Carta ao Prates (o ódio, versão RBS de S. C.)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Após os comentários preconceituosos, sórdidos e completamente tendenciosos feitos por Luiz Carlos Prates no Jornal do Almoço de Santa Catarina em 15/11/2010. Um professor, Plínio Ferreira Guimarães resolveu rebater o discurso infeliz feito por esse "jornalista" elitista e superficial.

O discurso de Prates e a carta em resposta de Plínio seguem abaixo:




Para ler a carta clique em "Leia Mais" abaixo:





Esse problema só nos mostra que ainda vivemos numa sociedade com sobras do pensamento escravista de outrora. Uma pessoa como Prates, com a influência que um jornalista exerce sobre o público, dizer tamanha bobagem acaba por alienar telespectadores que poderão partilhar da mesma infeliz e preconceituosa opinião que esse senhor elitista, conversador e preconceituoso.

Enquanto tivermos pessoas que pensam dessa forma, nunca alcançaremos a humanidade de fato, e continuaremos a presenciar injustiças e desigualdades provenientes daqueles que tem mais do que precisam ter.



Agradecimento a dica do Pedro.

Carta disponível em: ConversaAfiada


Tiros em Columbine

domingo, 21 de novembro de 2010

Sinopse

Documentário que investiga a fascinação dos americanos pelas armas de fogo. Michael Moore, diretor e narrador do filme, questiona a origem dessa cultura bélica e busca respostas visitando pequenas cidades dos Estados Unidos, onde a maior parte dos moradores guarda uma arma em casa. Entre essas cidades está Littleton, no Colorado, onde fica o colégio Columbine. Lá os adolescentes Dylan Klebold e Eric Harris pegaram as armas dos pais e mataram 14 estudantes e um professor no refeitório. Michael Moore também faz uma visita ao ator Charlton Heston, presidente da Associação Americana do Rifle..

Informações
Tamanho: 816 MB
Áudio: Ingles
Legenda: Português
Download: Megaupload


O download do filme também pode ser feito por torrent, ou em 4 partes no Rapidshare, segue o link abaixo.


Fontes: Bestdocs, DocVerdade


Por que participar da política?

quinta-feira, 18 de novembro de 2010


Estive presente hoje (dia 17/11) no lançamento do novo livro do candidato à presidência pelo PSOL, Plínio de Arruda Sampaio. Não sou muito chegado em grandes aproximações partidárias, acredito que de certa maneira elas podem acabar nos tornando um tanto quanto "cabeças-duras", mas confesso que fiquei muito encantado com o pessoal do partido. Os que estiveram no lançamento, se mostraram muito humildes e receptivos, inclusive a atração principal, que ao chegar convocou a sua tão amada turma do twitter, ou como ele diz, seus twitteiros.

Da mesma forma que Plínio é convidativo com os presentes, é também em seu livro. Aliás, essa é a grande proposta, atrair um publico diferente de leitores que nem sempre consegue entender política devido ao baixo número de livros que tem uma linguagem acessível, sem todos aqueles jargões que são corriqueiros em livros acadêmicos. Além de uma linguagem mais dinâmica, o livro é um trabalho curto, de apenas 74 páginas e está sendo vendido por apenas 10 reais.

Admiro profundamente esse novo projeto do Plínio, e hoje após ter conversado diretamente com ele, também o admiro mais. É impressionante a esperança que ele transborda, a felicidade ao ver diversos jovens que abraçam a sua ideia e como ele pontuou, vão levar essa ideia adiante. É magnífico ver um senhor de 80 anos que ainda luta por um mundo mais justo e tem sinceras expectativas de que isso aconteça, apostando tudo nos mais jovens. Indico à todos que puderem, passem em qualquer livraria mais perto de vocês e comprem o livro, muito importante para entender "O que perdemos por nos desinteressar da política e o que ganhamos procurando entendê-la?".



Paulo Souza, 17/11/2010



RATM, Tom Morello e Roger do Ultraje a Rigor.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010


Recebi o link de uma matéria muito boa, escrita e postada no blog do Marcel Bittencourt. O texto, escrito pelo próprio Marcel, retrata a posição política que Tom Morello se colocou diante do quadro eleitoral brasileiro, e a represália sofrida por Roger da banda Ultraje a Rigor. Recomendo a visita/leitura do blog, além dessa, muitas outras postagens excelentes.

Segue a matéria:

Rage Against The Machine, Tom Morello, Roger do Ultraje, Socialismo e Coerência.

"Na ultima semana houve muita polêmica envolvendo o Rage Against the Machine e o Brasil. Começou com uma reportagem da Globo onde o repórter perguntou sobre o fato de a banda só viajar de primeira classe. A pergunta foi polemista, intencional, e, na minha opinião, infundada. Na seqüência explico o porquê.

Em sua passagem pelo Brasil, a banda se encontrou com pessoas do MST, movimento que tem o apoio declarado da banda.

Ontem, através do Twitter o guitarrista Tom Morello declarou apoio à candidata Dilma Rouseff, do PT, definindo-a como “candidata dos pobres, da classe trabalhadora e dos jovens”. No mesmo dia, veio uma reação extremamente imprevisível e agressiva de Roger da Rocha Moreira, do Ultraje à Rigor, que respondeu “What the fuck you know, you asshole?” (algo como “que porra tu sabe ô cuzão?”).

Hoje Morello reafirmou sua posição dizendo “O Brasil está aprendendo o que os outros sabem há anos: Rage não é apenas uma banda para bater cabeça, também temos ideias. Apoio Dilma Rousseff e o MST, convivam com isto!”

Ok. Diante de todas essas informações, aqui vai minha opinião:

O Rage Against the Machine sempre foi uma banda políticamente engajada. Quem conhece a história do Rage Against the Machine sabe que sempre foram uma banda bastante ligada aos movimentos revolucionários. A estrela vermelha (um dos símbolos do comunismo) sempre esteve presente no material gráfico e nos shows da banda (como pode ser visto no SWU). A banda relmente sempre levou a mensagem de que uma revolução é necessária para que tenhamos um mundo mais igualitario e socialmente responsável. Tom Morello é declaradamente socialista e nada mais coerente a se esperar de um socialista do que apoio à um movimento que luta pela reforma agrária em um país continental que NUNCA se preocupou em estabelecer uma política nesse sentido.

Quanto ao apoio à Dilma, não se trata de petismo. Trata-se do olhar do cara sobre as políticas que cada um representa. Um socialista pode apoiar o não Dilma e o PT. Um socialista nunca apoiaria o Serra e o PSDB. Opinião pessoal. Uma coisa que hoje em dia está muito difícil respeitar. Coisa que, aliás, demonstrou o Roger.

Sempre fui fã do Roger. E do Ultraje. Roger foi um dos primeiros caras que segui no Twitter. Sempre achei um cara inteligente e sagaz. Até ontem. A atitude dele de simplesmente ofender diante de um posicionamento político diferente do seu foi, como bem definiu meu irmão Murilo, “atitude de moleque”. Feio.

Outro amigo meu defendeu fortemente a idéia de que Morello como estrangeiro não pode tecer opiniões desse tipo e que isso seria entrar na casa dos outros cagando ditando regras. Entendo o posicionamento, mas discordo. Acho que o fato de não morarmos em um país não nos impossibilita de criticar quando discordamos de algo. O exemplo Estados Unidos x Iraque ilustra perfeitamente isso. Acho que o Rage Against na posição de uma grande banda tem sim o direito de dar sua opinião e tentar fazer sua parte seja qual for a questão.

Mas isso não é nada. Tem uma coisa que está me incomodando mais que tudo nessa história toda.

Estou vendo muita gente (como, por exemplo, o repórter que entrevistou a banda) usar o argumento de que o Rage Against the Machine não tem o direito de posicionar assim ou nem mesmo de defender o socialismo pelo fato de serem RICOS.

Pelo amor de Deus. Desde quando a pessoa que ficou rica não pode querer um mundo melhor? Ou um mundo com mais igualdade? Ou um sistema socialista? Mesmo que fosse muito rico eu ia querer um mundo mais igualitário por um motivo simples: Não me preocupo só comigo. E é assim que, provavelmente, o Rage Against the Machine pensa.

Se determinada pessoa é rica, bom pra ela que pode aproveitar sua riqueza. Doar esse dinheiro não vai mudar o problema central, que é o sistema. Mesmo que se faça muita caridade o sistema vai continuar alimentando a desigualdade. Seria paleativo. As pessoas deveriam entender que o socialismo não prega a pobreza, e sim a igualdade. Quem faz voto de pobreza é monge.

A única certeza nisso tudo é que eu sou, cada vez mais, fã do Rage Against the Machine."



http://eraoquetinha.wordpress.com/2010/10/16/rage-against-the-machine-tom-morello-roger-do-ultrage-socialismo-e-coerencia/

Agradecimento a dica do Thales.

Subprodutos - Dead Fish

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Música:Subprodutos
Banda: Dead Fish







A felicidade é para poucos
Todos nós sabemos: o mundo é ruim
A ironia é desejar e nunca ter
A propaganda diz: você precisa!

Angústia na virada da estação
Um produto pra te tornar especial
Consumo necessário and very cool
Não seja um perdedor

A grande solução
Vamos resolver
Uma pra dormir, duas pra acordar
Bem adaptados
Todos passam bem
Belo novo mundo

Buscando sempre o diferencial
O importante é nunca se deixar levar
Intransigente diferença torna igual

A ironia é desejar e nunca ter
A propaganda diz: você precisa!

O desejo sempre se parece o mesmo
Massificado ou customizado
Vanguarda exigente
Mercado especial
Leve a cópia como se fosse original

A grande solução
Veja como é simples
Uma grade aqui, um alarme lá
Bem resolvidos
Todos preparados
Em nossa igualdade

(Pros mais iguais obviamente. Paz pra mim e guerra pra todos vocês!)

Subproduto do subproduto
De todo conceito que cria a cultura
Do subproduto da massa ou da elite
O que somos nós?

De toda histeria de estar inserido
Mesmo outsider ou très impotent
No final das contas quem come a bosta de quem?

Cientistas criando novas soluções
Artistas sendo originais
Médicos fazendo pílulas legais

Escolha!
Escolha!


OBS: Para aqueles que tiverem gostado do som e da letra, vale a pena baixar o álbum completo Contra Todos (2009). Nessa coletânea constam letras de forte crítica social e política, em minha opinião, o melhor CD dessa excelente banda.


Revolução cubana se move criticamente sobre si mesma

Em 2011 se completarão 30 anos da minha primeira visita a Cuba. Eu trabalhava no Brasil com o método de Paulo Freire. Queria trazer a Cuba essa contribuição, estava convencido da importância política da metodologia da educação popular. Quando cheguei, havia preconceitos não só para com esta metodologia, mas também em relação à figura de Freire. Seu primeiro livro tinha causado certo receio entre os companheiros do Partido Comunista de Cuba.

Um marxista cristão, soava então contraditório: o marxismo era considerado uma fé e não se podia ter duas.

Então propus em Havana um Encontro Latino-Americano de Educação Popular. Os cubanos prepararam tudo; mas no encontro não havia nem um cubano. Dois anos depois, consegui que a Casa das Américas organizasse um segundo encontro. Vários cubanos compareceram como meros assistentes, diziam que em Cuba tudo era educação popular e não havia necessidade de ter uma equipe para isso. No terceiro encontro, a participação cubana já foi ativa. Assim surgiu a equipe do Centro Martin Luther King.

Mas Paulo Freire não é o primeiro latino-americano a falar dessa metodologia. Para fazer justiça com a história, o primeiro que praticou educação popular foi José Martí. Martí dizia que era necessário levar os professores aos campos. E com eles, a ternura que faz falta aos homens. Seguramente o Che tinha lido essa frase quando disse que havia que endurecer, mas sem perder a ternura. Para Martí, “popular” não o era no sentido de pobre, mas de povo. A distinção rígida que se aplicava na Europa entre classe operária e burguesia, não se aplicava à América Latina. A luta aqui era entre aqueles que lutavam pela justiça e aqueles que tentavam manter a injustiça. Tudo não se explica por origem de classe. Se todos os pobres fossem revolucionários, não haveria capitalismo na América Latina.

Talvez vocês não saibam que é um fato biológico que as águias podem viver 70 anos no máximo. Mas quando chegam aos 30 ou 40, propendem à morte porque suas garras e seu bico já não são fortes para destruir as carnes com que se alimentam. E quando sentem que podem morrer, voam para o alto de uma montanha e arrancam as próprias garras e o bico. Esperam meses ali, até que voltem a nascer. Assim vivem outros 30 ou 40 anos mais. Hoje, a águia é Cuba. Digo-o porque acabo de ler os Lineamentos para o 6º Congresso do Partido Comunista: a Revolução Cubana tem a capacidade de mover-se criticamente sobre si mesma para sair adiante. Suas redes de educação popular têm muita importância nisso.

Assisti muito de perto a queda do Muro (de Berlim) e hoje muitos se perguntam: como é possível que depois de 70 anos de socialismo, a Rússia seja um país conhecido pela extrema corrupção? Algo não funcionou: o socialismo cometeu ali o erro de construir uma casa nova sem saber fazer novos habitantes. Não se fazem homens e mulheres automaticamente. Os que nascem numa sociedade socialista, não nascem necessariamente socialistas. Todo bebê é um capitalista exemplar: só pensa en si mesmo. O socialismo é o homem político do amor. E o amor é uma produção cultural. Seu objetivo final é criar uma comunidade amorosa entre si e o mundo. Às vezes olvidamos um princípio marxista. Eu, frade, fui professor de marxismo e não é a única contradição de minha vida. O ser humano não é mecânico. Há duas coisas que não podem ser previstas matematicamente: o movimento dos átomos e o comportamento humano.

O trabalho político deve ir para cada um dos homens. Por isso a Revolução Cubana resiste, porque não é uma peruca que vai de cima para baixo, mas um cabelo que cresce de baixo para cima. Aqui houve uma revolução de caráter eminentemente popular. A vitória estratégica, de Fidel, não fala de educação popular; mas se fez.

Termino com uma parábola: havia um homem muito formado ideologicamente, poderoso em seu sistema; mas muito infeliz. Saiu pelo mundo na busca da felicidade. Chegou a um país árabe – onde se dão sempre as boas lendas – e quis comprá-la em seus mercados. Disseram-lhe que essa mercadoria não existia, mas por um jovem soube de uma tenda no deserto onde podia encontrá-la. Saiu em sua caravana de camelos, atravessou o deserto e viu a tenda com um cartaz que dizia: “aqui se encontra a felicidade”. Disse à vendedora: “diga-me quanto custa”. E ela respondeu: “não, senhor, aqui não vendemos felicidade, aqui a damos gratuitamente”. E lhe trouxe uma pequena caixa de fósforos com três pequenas sementes: a semente da solidariedade, a da generosidade e a do companheirismo. “Cultive-as – disse – e será feliz”. Muito obrigado.


Por Frei Beto ao Brasil de Fato

Tendências Alienativas

segunda-feira, 15 de novembro de 2010






A informação transmitida diariamente pelos veículos de comunicação é realmente confiável? Você está sendo mais uma vítima do poder alienativo midiático? Como combater esse fato?


Estamos expostos todos os dias a meios de comunicações diferentes, notícias chegam até nós através de internet, rádio, televisão. Porém, vez ou outra, nos deparamos com um mesmo fato mostrado de forma controversa por dois veículos comunicativos. Isso se deve à parcialidade nas notícias, as emissoras de rádio, de televisão e os grandes sites de notícias são nada menos do que corporações, e, por serem “máquinas em busca do lucro, custe o que custar”, podem facilmente distorcer um fato de forma que favoreça sua fonte de capital (como seus patrocinadores, por exemplo). Faz-se essencial o estabelecimento de uma visão angular por parte de nós, receptores de notícias, de forma que filtremos o conteúdo, lendo mais do que uma fonte, a fim de extrair a verdade das possíveis mentiras e sujeiras que vêm embutidas.


Devemos ser capazes de localizar essa alienação, qualquer seja sua fonte. Hoje, somos expostos “ao que os outros querem que pensemos” de muitas formas, não somente em notícias de fato, mas em filmes, músicas e até videogames. Se analisarmos a quantidade de filmes tendenciosos que subjugam pessoas de religiões, etnias e culturas consideradas diferentes veremos que muitos de nossos pensamentos e opiniões em relação a essas pessoas são errôneos. Filmes como Guerra ao Terror (2009), Impensável (2010) são só alguns dos muitos que nos fazem considerar todos os muçulmanos perigosos e passíveis de repressão. Jogos como Call Of Duty: Black Ops também reforçam a visão negativa que muitos já têm em relação a Cuba. Todos esses retratos expressos nos meios de comunicação são formas de induzir nossos pensamentos a partilhar das mesmas crenças e dos mesmos medos que o mundo capitalista e globalizado. Somos apenas subprodutos do regime conservador.


O combate a essa “lavagem cerebral” torna-se essencial para que não criemos ainda mais medo do desconhecido. Esse combate dá-se pela visão angular, citada anteriormente, que proporciona uma melhor busca da verdade, analisando inteiramente um fato, olhando-o de vários ângulos diferentes a fim de extrair a imparcialidade nos argumentos e criar uma opinião própria a respeito. O início desse processo de libertação das tendências dogmáticas dá-se primeiramente com a educação, que proporcionará aos jovens liberdade de pensamento e expressão; e posteriormente com a leitura e compreensão profunda de notícias que exigirão mais do que olhos para ler, e sim, visão racional.


“Os governos suspeitam da literatura porque é uma força que lhes escapa”. A frase de Emile Zola já nos dá uma idéia do poder que temos em mãos para estabelecer um regime de plena liberdade de pensamento, que quebre os grilhões que nos prendem à vontade de outros.


Luccas M.

Não - Dead Fish


Música: Não
Banda: Dead Fish






Não, não quero ouvir o que você diz
E nem ler as suas regras
Testando minha paciência ao limite de explodir
Eu quero fazer no meu tempo
Chegou minha hora de falar
Cansei de ouvir sua perfeição
Sua higiene me insulta
E seu medo e pudor me fazem rir
É assim, a partir de agora
Poder em minhas mãos

Sim!!
Se a sua voz ainda é mais alta
O que você tem de certo se tornou isso aqui
Sim, o meu caminho é diferente
E sou eu quem vai trilhar

http://www.vagalume.com.br/dead-fish/nao.html#ixzz15MlymTgi
 

2009 ·Axis of Justice by TNB