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A Carne é Fraca

domingo, 28 de fevereiro de 2010


Sinopse
O documentário tenta traçar um panorama geral do consumo da carne animal nas refeições e suas implicações diretas e indiretas para o meio ambiente. Para isso, eles vão aos pastos, matadouros, frigoríficos, mercados e restaurantes, tentando acompanhar o bife do momento em que ele nasce até a hora em que ele é engolido por um satisfeito esfomeado. O objetivo do video não é transformar as pessoas em vegetarianos, mas sim apresentar uma faceta da realidade que a grande massa desconhece sobre a maneira como tratamos os animais com crueldade.

Informações
Tamanho: 389 MB
Áudio: Português
Download: Megaupload







fonte: BestDocs

Viver de Olhos Fechados

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010



É propriamente ter os olhos fechados, sem jamais tentar abri-los, viver sem filosofar; e o prazer de ver todas as coisas que a nossa visão descobre não é comparável à satisfação proporcionada pelo conhecimento daquelas que encontramos por meio da filosofia; e, finalmente, esse estudo é mais necessário para regrar os nossos costumes e conduzir-nos por essa vida do que o uso dos nossos olhos para orientar os nossos passos.

(...) Se desejamos seriamente ocupar-nos com o estudo da filosofia e com a busca de todas as verdades que somos capazes de conhecer, tratemos, em primeiro lugar, de nos libertar dos nossos preconceitos, e estaremos em condições de rejeitar todas as opiniões que outrora recebemos através da nossa crença até que as tenhamos examinado novamente; em seguida, passaremos em revista as noções que estão em nós, e só aceitaremos como verdadeiras as que se apresentarem clara e distintamente ao nosso entendimento.

René Descartes, em 'Princípios da Filosofia'

Para que serve a Filosofia?



O leitor ocupado perguntará para que serve a filosofia. Pergunta vergonhosa, que não fazemos à poética, essa outra construção imaginativa de um mundo mal conhecido. Se a poesia nos revela a beleza que os nossos olhos ineducados não vêem, e se a filosofia nos dá os meios de compreender e perdoar, não lhes peçamos mais, isso vale todas as riquezas da Terra. A filosofia não enche a nossa carteira, não nos ergue às dignidades do Estado; é até bastante descuidosa destas coisas. Mas de que vale engordar a carteira, subir a altos postos e permanecer na ignorância ingênua, desapetrechado de espírito, brutal na conduta, instável no carácter, caótico nos desejos e cegamente infeliz?

A maturidade é tudo. Talvez que a filosofia nos dê, se lhe formos fiéis, uma sadia unidade de alma. Somos negligentes e contraditórios no nosso pensar; talvez ela possa classificar-nos, dar-nos coerência, libertar-nos da fé e dos desejos contraditórios.

Da unidade de espírito pode vir essa unidade de carácter e propósitos que faz a personalidade e dá ordem e dignidade à vida. Filosofia é conhecimento harmônico, criador da vida harmônica; é disciplina que nos leva à serenidade e à liberdade. Saber é poder, mas só a sabedoria é liberdade.

Will Durant, em "Filosofia da Vida"

Mídia explorou tragédia no Haiti e ocultou solidariedade, acusam pesquisadores

O terremoto do Haiti, país visitado hoje (25) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi mais um prato cheio para a mídia internacional, dizem pesquisadores brasileiros que testemunharam a tragédia ao vivo. Pela TV, em jornais, revistas e na internet, cenas impactantes de desespero, prédios desabando, resgates surpreendentes e pessoas disputando comida foram exibidos para que o público se impressionasse com a barbárie das atitudes do povo haitiano.

Mas a verdade, segundo eles - reunidos em um debate na USP (Universidade de São Paulo) nesta quinta-feira -, é que os fatos não aconteceram desta forma. A ânsia da mídia mundial pelo drama fez as coberturas jornalísticas se limitarem às cenas de horror e ao show da ajuda internacional, aviões carregados de mantimentos e soldados da ONU retirando sobreviventes.

De acordo com o pesquisador Otávio Calegari, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em missão no Haiti desde antes do terremoto, dois dias depois do abalo a imprensa anunciava o envio de 16 mil soldados ao local "em missão humanitária". Mas, nas ruas, não se via nenhum soldado da Minustah (Missão de Paz das Nações Unidas no Haiti). Segundo Calegari, eles estavam ocupados em remover os escombros dos hotéis de luxo onde se hospedavam estrangeiros ricos.

“Era a frágil polícia haitiana que se articulava para proteger supermercados, pequenos grupos de mulheres que organizadamente tentavam manter a calma e reunir desamparados, médicos e escoteiros haitianos que prestavam socorro às vítimas e organizações locais que se preocupavam com a distribuição de alimento”, contou.

A distribuição de mantimentos, que não foi suficiente nem eficaz, provocou desespero na população. Na opinião do antropólogo Omar Ribeiro Thomaz, que também estava no local na data do terremoto, o problema foi de responsabilidade da ONU, que não soube lidar com a situação caótica. Mesmo assim, afirma, os poucos casos de violência, tumulto ou vandalismo divulgados foram isolados.

“Os soldados iam às praças onde haviam milhares de desabrigados e simplesmente descarregavam caixas de alimentos. Uma vez, vi um helicóptero jogar aleatoriamente garrafas de água de uma altura que chegava a machucar quem estava embaixo. Ao lado, havia câmeras da rede CNN registrando o desespero da população em pegar tudo que era lançado. Em casos como esse, a disputa é instintiva: se você não tem nada para comer, nada para beber e de repente chega alguma coisa, é natural que todos vão para cima”, relatou Thomaz.

Apesar disso, o que predominou foram as demonstrações de solidariedade e cooperação entre os próprios haitianos, ao contrário do que a mídia se preocupou em mostrar. “Foi tudo muito extraordinário. A população local usava da fé para manter a calma e se ajudar. De noite, ouvíamos cantorias religiosas e, à medida que a terra tremia, o volume das vozes aumentava e as pessoas ficavam cada vez mais ligadas umas às outras”, contou Calegari.

Os pesquisadores não viram a mesma atitude entre os "capacetes azuis". “Não existe laço algum entre a ONU e outras organizações internacionais e a população. Mas o povo haitiano é capaz de se mobilizar e sair de uma situação dessa, foram eles os responsáveis pela única revolução negra e escrava vitoriosa no planeta”, lembrou Eduardo de Almeida, membro do diretório nacional do PSTU e também pesquisador sobre Haiti.

Para Calegari, a força da população é intensificada porque existe uma consciência do abandono. “Eles não esperavam nada. Ao longo dos anos, estabeleceram uma relação de indiferença com a Minustah e, por isso, sabem que estão sozinhos; que, se não fizerem nada por eles mesmos, ninguém vai fazer”.

Imagens erradas

Omar Ribeiro Thomaz acrescenta que as organizações locais estão se articulando independente da ajuda internacional e de uma forma mais efetiva. “A ONU, em vez de atrasar a distribuição de mantimentos, poderia vincular-se a essas organizações, mas a ONU é racista e não acredita no potencial de associação de pretos haitianos”, acusou.

Além da espetacularização das cenas de barbárie, a mídia se aproveitou da dificuldade das operações de resgate para emocionar o mundo com a cobertura ao vivo do salvamento de vidas, que foi extremamente limitada. Estatísticas mostram mais de 200 mil pessoas morreram no terremoto, e ao todo apenas 150 foram resgatadas dos escombros.

Segundo Almeida, diferentemente do que se viu no Brasil e outros lugares do mundo em que a cobertura jornalística estava alarmada para a catástrofe, não foi o povo haitiano que demonstrou individualismo e agressividade - ao contrário, foi a comunidade internacional que demorou, se limitou e não se organizou no envio e distribuição de recursos.

Ação internacional

Presente no território haitiano desde 2004 com o objetivo de liderar a missão humanitária, o grupo de soldados do Brasil foi reforçado após o terremoto, o que reacendeu a discussão sobre seu papel e sua atuação.

“O terremoto revelou que o que ocorre no Haiti não é consequência de uma catástrofe natural, e sim efeito de uma sucessão de fatos políticos e históricos. A situação do país foi apenas agravada pelos tremores ocorridos em janeiro, e não criadas em função dele”, lembrou Thomaz.

De acordo com os pesquisadores, não há dúvidas da necessidade de ajuda financeira e humanitária vindas de outros países. O problema é como esses recursos chegam à população. “De dez em dez minutos, ouvíamos aviões pousando com ajuda internacional. Mas, na prática, esta ajuda não chegava até as pessoas. Os alimentos não eram distribuídos, os médicos não atuavam e todos continuavam naquela situação de calamidade. Mesmo assim, ainda havia respeito", disse o antropólogo.

Além da demora e dos impasses para a distribuição, há também uma limitação nas doações. “Durante os cinco anos de ocupação no Haiti, a ONU gastou cerca de 3,5 bilhões de dólares. Agora, oferece apenas 100 milhões para a recuperação do país. O mesmo aconteceu com o governo brasileiro: 600 milhões de dólares foram gastos com as tropas de ocupação e apenas 15 milhões cedidos pós-terremoto”, afirmou Eduardo de Almeida.

Contra a falta de empenho político, os pesquisadores só podiam oferecer atos individuais de solidariedade. "Eu tive a sorte de conseguir comprar 15 galinhas para alimentar os que estavam comigo. Andei vários quarteirões até onde estava hospedado e, nesse percurso, nenhuma pessoa sequer me abordou para pedir, disputar ou roubar a comida”, relatou Omar Ribeiro Thomaz.

Já os Estados Unidos disponibilizaram aproximadamente 100 milhões de dólares como auxílio - mesmo valor dado para a cidade de Nova Orleãs, atingida em 2005 pelo furacão Katrina. A diferença é que o número de vítimas nas duas situações não foi equivalente: durante o furacão, 2 mil pessoas morreram.


fonte:
Opera Mundi

O Socialismo e o Homem em Cuba. (Parte Final).

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


continuação...



A mudança não se produz automaticamente na consciência como também não se produz na economia. As variações são lentas e não são rítmicas; há períodos de aceleração, outros de estagnação e inclusive de retrocesso.

Devemos considerar também, como já dissemos antes, que não estamos diante do período de transição pura, como o descreveu Marx na Crítica do programa de Gotha, mas numa nova fase não prevista por ele; o primeiro período de transição do comunismo ou da construção do socialismo. Isto se dá em meio de lutas de classe violentas e com elementos de capitalismo em seu seio, que obscurecem a compreensão cabal de sua essência.

Se a isto acrescentamos o escolasticismo que freou o desenvolvimento da filosofia marxista e impediu o tratamento sistemático do período, cuja economia política não se desenvolveu, devemos convir que ainda estamos no berço e que é preciso dedicar-se a investigar todas as características primordiais deste período antes de elaborar uma teoria econômica e política de maior alcance.

A teoria resultante dará maior importância aos dois pilares da construção: a formação do homem novo e o desenvolvimento da técnica. Em ambos os aspectos ainda resta muito por fazer, mas é menos perdoável o atraso no que diz respeito à concepção da técnica como base fundamental, a que neste terreno não se trata de avançar às cegas, mas de seguir durante bom tempo o caminho aberto pelos países mais adiantados do mundo. Por isso Fidel insiste tanto sobre a necessidade da formação tecnológica e científica de todo o nosso povo e mais ainda de sua vanguarda,

No campo das idéias que conduzem a atividades não produtivas, é mais fácil ver a divisão entre a necessidade material e a espiritual. Faz muito tempo que o homem tenta libertar-se da alienação mediante a cultura e a arte. Ele morre diariamente oito ou mais horas por dia enquanto atua como mercadoria, para ressuscitar depois através de sua criação espiritual. Mas este remédio traz os germes da mesma doença: é um ser solitário que busca comunhão com a natureza. Ele defende sua individualidade oprimida pelo meio e reage diante das idéias estéticas como um ser único cuja aspiração é permanecer imaculado.

Trata-se apenas de uma tentativa de fuga. A lei do valor já não e um mero reflexo das relações de produção; os capitalistas monopolistas rodeiam-na de um complicado sistema que a converte numa serva dócil, mesmo que os métodos empregados sejam puramente empíricos (conhecimento popular). A superestrutura impõe um tipo de arte no qual os artistas têm que ser educados. Os rebeldes são dominados pela maquinaria e somente os talentos excepcionais poderão criar sua obra própria. Os restantes se tornam assalariados envergonhados ou são triturados.

Inventa-se a investigação artística que se dá corno definição da liberdade, mas esta pesquisa tem seus limites, imperceptíveis até o momento de se chocar com eles, ou seja, de se colocar os problemas reais do homem em sua alienação. A angústia sem sentido ou o passatempo vulgar constituem válvulas cômodas para a preocupação humana; combate-se a idéia de fazer da arte uma arma de denúncia.

Se as regras do jogo são respeitadas, pode-se obter todas as honras: as que ganharia um macaco ao inventar piruetas. A condição é não tentar escapar da jaula invisível.

Quando a revolução tomou o poder, produziu-se o êxodo dos domesticados; os demais, revolucionários ou não, viram um novo caminho. A pesquisa artística ganhou novo impulso. No entanto, os caminhos estavam mais ou menos traçados e o sentido do conceito fuga se escondeu por trás da palavra liberdade. Os próprios revolucionários mantiveram muitas vezes esta atitude, reflexo do idealismo burguês na consciência.

Em países que passaram por um processo similar, tentou-se combater estas tendências com um dogmatismo exagerado. A cultura geral se converteu em tabu e a representação formalmente exata da natureza foi proclamada o ápice da aspiração cultural, e esta se converteu logo numa representação mecânica da realidade social que se queria fazer ver; a sociedade ideal, quase sem conflitos e contradições, que se tentava criar.

O socialismo é jovem e comete erros. Nós, os revolucionários, carecemos dos conhecimentos e da audácia intelectual necessários para encarar a tarefa do desenvolvimento de um novo homem por métodos diferentes dos convencionais, e os métodos convencionais sofrem a influência da sociedade que os criou (mais uma vez se coloca o tema da relação entre forma e conteúdo). A desorientação e grande e os problemas da construção material nos absorvem. Não existem artistas reconhecidos, que por sua vez tenham autoridade revolucionária. Os homens do Partido devem assumir esta tarefa e tentar conseguir o objetivo principal: educar o povo.

Procura-se então a simplificação, que é o que todo mundo entende e que é também o que os funcionários entendem. A pesquisa artística autêntica é anulada e o problema da cultura geral é reduzido a uma apropriação do presente socialista e do passado morto (portanto, não perigoso). Assim nasce o realismo socialista sobre as bases da arte do século passado.

Mas a arte realista do século XIX também é de classe, talvez mais puramente capitalista do que esta arte decadente do século XX, onde transparece a angústia do homem alienado. O capitalismo em termos de cultura já deu tudo de si e dele não resta nada senão o anúncio de um cadáver fedorento; em arte, sua decadência de hoje.Mas por que pretender buscar nas formas congeladas do realismo socialista a única receita válida? Não se pode opor ao realismo socialista a liberdade, porque esta não existe ainda e não existirá até o desenvolvimento completo da sociedade nova, mas não se deve pretender condenar todas as formas de arte posteriores à primeira metade do século XIX, desde o trono pontifício do realismo, pois se cairia num erro proudhoniano (ver Proudhon, filósofo francês) de retorno ao passado, colocando camisa de força na expressão artística do homem que nasce e se constrói hoje.

Falta o desenvolvimento de um mecanismo ideológico e cultural que permita a pesquisa e destrua a erva daninha tão facilmente multiplicável no terreno beneficiado pela subvenção estatal.

No nosso país o erro do mecanicismo realista não ocorreu; mas sim um outro de signo contrário. Deu-se por não se ter compreendido a necessidade da criação do homem novo que não seja o representado pelas idéias do século XIX nem tampouco pelas do nosso século decadente mórbido. O homem do século XXI é aquele que devemos criar, mesmo que ainda seja uma aspiração subjetiva e não sistematizada. Este é precisamente um dos pontos fundamentais do nosso estudo e do nosso trabalho e, na medida em que consigamos êxitos concretos sobre uma base teórica ou, vice-versa, se extraiam conclusões teóricas de caráter amplo sobre a base de nossa pesquisa concreta, teremos dado uma contribuição valiosa ao marxismo-leninismo, à causa da humanidade.

A reação contra o homem do século XIX nos fez cair na reincidência do decadentismo do século XX. Não é um erro demasiadamente grave mas devemos superá-lo sob pena de abrir um largo espaço ao revisionismo.

As grandes multidões estão se desenvolvendo, as novas idéias vão alcançando ímpeto adequado no seio da sociedade, e as possibilidades materiais de desenvolvimento integral de absolutamente todos os seus membros tornam o labor muito mais frutífero. O presente é de luta; o futuro é nosso.

Resumindo, a culpa de muitos dos nossos intelectuais e artistas reside em seu pecado original; não são autenticamente revolucionários. Podemos tentar enxertar o olmo para que dê pêras, mas simultaneamente temos que plantar a pereira. As novas gerações estarão livres do pecado original. As probabilidades de que surjam artistas excepcionais serão tanto maiores quanto mais se tenha ampliado o campo da cultura e a possibilidade de expressão. Nossa tarefa consiste em impedir que a geração atual, desarticulada por seus conflitos, se perverta e perverta as novas. Não devemos criar assalariados dóceis ao pensamento oficial, nem bolsistas que vivam do amparo governamental, exercendo uma liberdade entre aspas. Logo virão os revolucionários que entoam o canto do homem novo com a voz autêntica do povo. É um processo que exige tempo.

Na nossa sociedade a juventude e o Partido Comunista desempenham um grande papel.

A primeira e particularmente importante por ser a matéria maleável com a qual se pode construir o homem novo sem nenhuma das taras anteriores.

Ela recebe um tratamento de acordo com nossas ambições. Sua educação é cada vez mais completa e não esquecemos sua integração com o trabalho desde os primeiros momentos. Nossos bolsistas fazem trabalho físico durante suas férias ou simultaneamente com o estudo. O trabalho em certos casos é um prêmio, em outros um instrumento de educação, mas nunca um castigo. Uma nova geração nasce.

O Partido e uma organização de vanguarda. Os melhores trabalhadores são propostos por seus companheiros para integrá-lo. Ele é minoritário, mas de grande importância pela qualidade de seus quadros. Nossa aspiração é que o Partido seja de massas, mas somente quando as massas tenham alcançado o nível de desenvolvimento da vanguarda; quer dizer, quando estejam educadas para o comunismo. O trabalho é dirigido para esta educação. O Partido é o exemplo vivo: seus quadros devem dar aulas de labor e sacrifício, devem levar, com sua ação, as massas até o fim da tarefa revolucionária, o que implica anos de dura luta contra as dificuldades da construção, dos inimigos de classe, as marcas do passado, o imperialismo.

Eu queria agora explicar o papel desempenhado pela personalidade. pelo homem como indivíduo dirigente das massas que fazem a história. É nossa experiência e não uma receita.

Nos primeiros anos Fidel deu à revolução o impulso, a direção, a tônica sempre, mas existe um bom grupo de revolucionários que se desenvolveram no mesmo sentido que o dirigente máximo, e uma grande massa que segue seus dirigentes porque tem fé neles; tem fé neles porque souberam interpretar seus anseios.

Não se trata de quantos quilos de carne se come ou de quantas vezes por ano alguém pode ir passear na praia, nem de quantas belezas que vêm do exterior podem ser compradas com os salários atuais. Trata-se precisamente do indivíduo se sentir mais pleno, com muito mais riqueza interior e com muito mais responsabilidade. O indivíduo do nosso país sabe que a época gloriosa em que lhe é dado viver é de sacrifício. Os primeiros o conheceram na Sierra Maestra e onde quer que se tenha lutado; depois o conhecemos em toda Cuba. Cuba é a vanguarda da América e deve fazer sacrifícios por ocupar justamente este lugar e porque indica às massas da América Latina o caminho da liberdade total.

No interior do país os dirigentes devem cumprir seu papel de vanguarda; e temos que dizê-lo com toda a sinceridade, em uma revolução verdadeira, na qual se dá tudo, da qual não se espera nenhuma retribuição material: a tarefa do revolucionário de vanguarda é ao mesmo tempo magnífica e angustiante.

Deixe-me dizer, com o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor. É impossível pensar num revolucionário autêntico sem esta qualidade. Talvez este seja um dos grandes dramas do dirigente: ele deve unir a um espírito apaixonado uma mente fria, e tomar decisões dolorosas sem contrair um único músculo. Nossos revolucionários de vanguarda devem idealizar este amor aos povos, às causas mais sagradas, e torná-lo único e indivisível. Não podem baixar com sua pequena dose de carinho cotidiano até os lugares onde o homem comum o pratica.

Os dirigentes da revolução têm filhos que em seus primeiros balbucios não aprendem a chamar o pai; mulheres que devem ser parte do sacrifício geral de sua vida para levar a revolução ao seu destino; o marco dos amigos corresponde estritamente ao marco dos companheiros de revolução. Não há vida fora dela.

Nestas condições deve-se ter grande dose de humanidade, grande dose de sentimentos de justiça e de verdade para não cair em extremos dogmáticos, em escolasticismos frios, em isolamento das massas. Todos os dias deve-se lutar para que este amor à humanidade viva e se transforme em fatos concretos, em atos que sirvam de exemplos, de mobilização.

O revolucionário, motor ideológico da revolução dentro do seu Partido, se consome nessa atividade ininterrupta, cujo único fim é a morte, a não ser que a construção se realize em escala mundial. Se sua vontade de revolucionário diminui quando as tarefas mais prementes estão realizadas em escala local, e se esquece o internacionalismo proletário, a revolução que dirige deixa de ser uma força impulsionadora e acaba numa modorra cômoda da qual se aproveitam nossos inimigos irreconciliáveis, o imperialismo, que ganha terreno. O internacionalismo proletário é um dever mas também uma necessidade revolucionária. Deste modo educamos nosso povo.

Claro que existem perigos presentes nas circunstâncias atuais. Não apenas o dogmatismo, não apenas de congelar as relações com as massas durante a grande tarefa, mas existe também o perigo das debilidades nas quais se pode cair. Se o homem pensa que para dedicar sua vida inteira à revolução ele não pode distrair sua mente com a preocupação da falta de um determinado produto produto para o filho, com o fato de os sapatos das crianças estarem acabando, com o fato de sua família carecer de determinado bem necessário, ele, com este raciocínio, deixa de infiltrar-se pelo germe da futura corrupção.

No nosso caso, estabelecemos que nossos filhos devem ter e carecer daquilo que têm e daquilo que carecem os filhos do homem comum; nossa família deve compreendê-lo e lutar por isso. A revolução se faz através do homem, mas o homem deve forjar dia a dia seu espírito revolucionário.

Assim vamos andando. À cabeça da imensa coluna, não temos vergonha nem estamos intimidados em dizê-lo. Está Fidel, depois estão os melhores quadros do Partido e imediatamente depois, tão perto que sua enorme força pode ser sentida, está o povo em seu conjunto; sólida armação de individualidades que caminham até um fim comum; indivíduos que chegaram à consciência do que e necessário fazer; homens que lutam para sair do reino da necessidade e entrar no da liberdade.

Esta imensa multidão se ordena; sua ordem corresponde à consciência da necessidade dela; já não e mais uma força dispersa, divisível em mil frações projetadas no espaço como fragmentos de granadas, procurando apenas alcançar, utilizando-se de qualquer meio, numa luta travada contra seus semelhantes, uma posição ou algo que dê uma segurança diante de um futuro incerto.

Sabemos que existem sacrifícios à nossa frente e que devemos pagar um preço pelo fato heróico de constituir uma vanguarda como nação. Nós, dirigentes, sabemos que temos um preço a pagar por ter o direito de dizer que estamos à cabeça de um povo que está à cabeça da América. Todos e cada um de nós paga pontualmente sua quota de sacrifício, conscientes de receber o prêmio na satisfação do dever cumprido, conscientes de avançar com todos até o homem novo que se vislumbra no horizonte.

Permita-me tentar avançar algumas conclusões

Nós, socialistas, somos mais livres porque somos mais plenos; somos mais plenos por sermos mais livres.

O esqueleto da nossa liberdade completa está formado; falta-lhe apenas a substância protéica e a roupagem; nós as criaremos.

Nossa liberdade e sua sustentação quotidiana têm cor de sangue e estão repletas de sacrifícios.

Nosso sacrifício é consciente; quota para pagar a liberdade que construímos.

O caminho é longo e em parte desconhecido; conhecemos nossas limitações. Faremos o homem do século XXI; nós mesmos.

Nós nos forjaremos na ação cotidiana, criando um homem novo com uma nova técnica.

A personalidade desempenha o papel de mobilização e de direção enquanto encarna as mais altas virtudes e aspirações do povo e enquanto não se afasta do caminho.

Quem abre o caminho é o grupo de vanguarda, os melhores dentre os bons, o Partido.

O alicerce fundamental da nossa obra é a juventude: depositamos nossa esperança nela e preparamo-la para tomar a bandeira das nossas mãos.

Se esta carta balbuciante esclarece alguma coisa, está cumprindo o objetivo a que me propus.

Receba nossa saudação ritual, com um aperto de mãos ou um 'Ave-maria puríssima'. Pátria ou Morte.


Ernesto "Che" Guevara de la Serna.



Os revolucionários

Para nós, não se trata de reformar a propriedade privada, mas de aboli-la; não se trata de disfarçar os antagonismos de classe, mas de abolir as classes; não se trata de melhorar a sociedade existente, mas de estabelecer uma nova...

Nosso grito de guerra tem de ser sempre: a revolução permanente!

Karl Marx


Serj Tankian - Feed Us

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Ótima música do cantor, compositor e poeta Serj Tankian (vocalista SOAD). Uma letra com um significado muito forte na minha concepção, onde Serj coloca a visão do povo que é enganado e alimentado apenas de mentiras, o povo que acredita nas reformas sociais para todos, porem são constantemente colocados de lado após serem iludidos com a promessa de progresso.



Para conferir a letra seguida da tradução clique aqui ou acompanhe abaixo.




O Socialismo e o Homem em Cuba. (Parte 2)


continuação...


Nestes países não se produziu ainda uma educação completa para o trabalho social, a riqueza está longe de poder chegar às massas através do simples processo de apropriação. O subdesenvolvimento por um lado e a habitual fuga de capitais até países civilizados por outro tornam impossível uma mudança rápida e sem sacrifícios. Resta um grande caminho a percorrer na construção da base econômica, e a tentação de seguir pelos caminhos do interesse material como alavanca impulsora de um desenvolvimento acelerado é muito grande.


Corre-se o perigo de que as árvores impeçam de ver o bosque. Perseguindo a quimera de realizar o socialismo graças às armas que nos legou o capitalismo (a mercadoria como célula econômica, a rentabilidade, o interesse material individual como alavanca, etc.), pode-se chegar a um beco sem saída. Pode-se percorrer uma longa distância na qual os caminhos se cruzam muitas vezes e onde é difícil perceber o momento em que se errou de caminho. Entretanto, a base econômica adaptada fez seu trabalho de corrosão sobre o desenvolvimento da consciência. Para construir o comunismo, paralelamente à base material tem que se fazer um homem novo.

Daí a importância de escolher corretamente o instrumento de mobilização das massas. Esse instrumento deve ser de índole moral fundamentalmente, sem esquecer uma correta utilização do estímulo material, sobretudo de natureza social.

Como já disse, num momento de perigo extremo é fácil potencializar os estímulos morais; para manter sua vigência, é necessário que se desenvolva uma consciência na qual os valores adquiram categorias novas. A sociedade em seu conjunto deve se transformar em uma gigantesca escola.

As grandes linhas do fenômeno são semelhantes ao processo de formação da consciência capitalista em sua primeira fase. O capitalismo recorre à força, mas também educa as pessoas dentro do sistema. A propaganda direta é realizada pelos encarregados de explicar a perenidade de um regime de classe, seja de origem divina ou por imposição da natureza como ente mecânico. Isso aplaca as massas, que se vêem oprimidas por um mal contra o qual não e possível lutar.

Em seguida vem a esperança, e neste ponto que se diferencia dos regimes anteriores de casta, que não apontavam saídas possíveis.

Para alguns continuará vigente ainda a forma de castas: o prêmio para os obedientes consiste no acesso, depois da morte, a outros mundos maravilhosos onde os bons são premiados, como acontece na velha tradição. Para outros há inovação: a separação em classes é fatal, mas os indivíduos podem sair da classe a que pertencem através do trabalho, da iniciativa, etc. Este processo e. o da auto-educação para o triunfo devem ser profundamente hipócritas: é a demonstração interessada de que uma mentira é verdade.

No nosso caso, a educação direta adquire uma importância muito maior. A explicação e convincente porque é verdadeira: não precisa de subterfúgios. Ela se exerce através do aparato educativo do Estado em função da cultura geral, técnica e ideológica, por meio de organismos como o Ministério da Educação e o aparelho de divulgação do partido. A educação penetra nas massas e a nova atitude preconizada tende a converter-se em hábito; a massa vai incorporando-a e pressiona quem ainda não se educou. Essa é a forma indireta de educar as massas, tão poderosa quanto a outra.

Mas o processo é consciente: o indivíduo recebe continuamente o impacto do novo poder social e percebe que não está completamente adequado a ele. Sob a influência da pressão que supõe a educação indireta, ele trata de acomodar-se a uma situação que sente como justa e cuja própria falta de desenvolvimento o tinha impedido de fazê-lo até agora. Ele se auto-educa.

Neste período de construção do socialismo podemos ver o homem novo que está nascendo. Sua imagem ainda não está acabada, nem poderia, já que o processo anda paralelo ao desenvolvimento de formas econômicas novas. Tirando aqueles cuja falta de educação os faz tender para o caminho solitário, para a auto-satisfação de suas ambições, aqueles que mesmo dentro desse novo panorama de marcha conjunta têm a tendência de caminhar isolados da massa que acompanham, o importante é que os homens adquirem cada dia maior consciência da necessidade de sua incorporação à sociedade e, ao mesmo tempo, de sua importância como motores da mesma.

Eles já não andam sozinhos por caminhos perdidos em direção a longínquas aspirações. Eles seguem a vanguarda constituída pelo Partido, pelos operários mais avançados e pelos homens da vanguarda que caminham ligados às massas e em estreita comunicação com elas. As vanguardas têm os olhos voltados para o futuro e sua recompensa, mas esta não é vista como algo individual; o prêmio é a nova sociedade, na qual os homens terão características diferentes: a sociedade do homem comunista.

O caminho é longo e cheio de dificuldades. Às vezes, por ter-se enganado de caminho, tem que, retroceder; outras vezes, por caminhar depressa demais, nos separamos das massas; em certas ocasiões, por fazê-lo lentamente, sentimos a presença próxima dos que pisam nos nossos calcanhares. Em nossa ambição de revolucionários tentamos caminhar tão depressa quanto possível, abrindo caminhos; mas sabemos que temos que nutrir-nos da massa e essa somente poderá avançar mais rápido se a animamos com nosso exemplo.

Apesar da importância dada aos estímulos morais, o fato de existir a divisão em dois grupos principais (excluindo, claro, a facção minoritária dos que não participam por uma razão ou outra da construção do socialismo) aponta a relativa falta de desenvolvimento da consciência social. O grupo de vanguarda é ideologicamente mais avançado que a massa; esta conhece os novos valores, mas insuficientemente. Enquanto nos primeiros se dá uma mudança qualitativa que lhes permite se sacrificar na sua função de vanguarda, os segundos apenas seguem e devem ser submetidos a estímulos e pressões de certa intensidade; é a ditadura do proletariado que se exerce não somente sobre a classe derrotada, mas também individualmente sobre a classe vencedora.

Tudo isto implica, para seu êxito total, a necessidade da existência de uma série de mecanismos que são as instituições revolucionárias. Na imagem das multidões marchando para o futuro se encaixa o conceito de institucionalização como o de um conjunto harmônico de canais, escalões, comportas, aparatos bem azeitados que permitam essa marcha, que permitam a seleção natural daqueles destinados a caminhar na vanguarda e que concedam o prêmio aos que cumprem e o castigo aos que atentem contra a sociedade em construção.

Esta institucionalidade da revolução ainda não foi alcançada. Buscamos algo novo que permita a perfeita identificação entre o governo e a comunidade em seu conjunto, ajustada às condições peculiares à construção do socialismo e fugindo ao máximo dos lugares comuns da democracia burguesa, transplantados para a sociedade em formação (como as câmaras legislativas, por exemplo). Foram feitas algumas experiências no sentido de se criar progressivamente a institucionalização da revolução, mas sem maior pressa. O freio maior que encontramos foi o medo de que qualquer aspecto formal nos separe das massas e do indivíduo, nos faça perder de vista a última e mais importante ambição revolucionária, que é a de ver o homem libertado da alienação.

Apesar da carência das instituições, o que deve ser superado gradualmente, as massas agora fazem a história como um conjunto consciente de indivíduos que lutam por uma mesma causa. O homem, no socialismo, apesar de sua aparente padronização, e mais completo; apesar da falta do mecanismo perfeito para isso, sua possibilidade de expressar-se e de influir no aparato social é infinitamente maior.

Mas é preciso ainda acentuar sua participação consciente, individual e coletiva em todos os mecanismos de direção e produção, e ligá-la à idéia da necessidade da educação técnica e ideológica, de maneira que sinta como estes processos são estreitamente interligados e seus avanços paralelos. Deste modo alcançará a total consciência de seu ser social, o que equivale à sua plena realização como criatura humana, uma vez quebradas as correntes da alienação.

Isto se traduzirá concretamente pela reapropriação de sua natureza através do trabalho liberado e a expressão de sua própria condição humana através da cultura e da arte.

Para que se desenvolva na primeira, o trabalho deve adquirir uma nova condição. A mercadoria homem cessa de existir e se instala um sistema, que outorga uma quota pelo cumprimento do dever social. Os meios de produção pertencem à sociedade e a máquina é apenas a trincheira onde o dever é cumprido. O homem começa a libertar seu pensamento da obrigação penosa que tinha de satisfazer suas necessidades animais através do trabalho. Ele começa a se ver retratado em sua obra e a compreender sua magnitude humana através do objeto criado, do trabalho realizado. Isto já não significa deixar uma parte de seu ser em forma de força de trabalho vendida, que não lhe pertence mais, mas significa uma emanação de si mesmo, uma contribuição à vida comum, em que se reflete; o cumprimento do seu dever social.

Fazemos todos o possível para dar ao trabalho esta nova categoria de dever social e uni-lo, por um lado, ao desenvolvimento da técnica que dará condições para uma maior liberdade e, por outro lado, ao trabalho voluntário, embasado na concepção marxista de que o homem realmente alcança sua plena condição humana quando produz sem a compulsão da necessidade física de se vender como mercadoria.

Claro que existem ainda aspectos coercitivos no trabalho, mesmo quando é voluntário; o homem não transformou toda a coerção que o rodeia num reflexo condicionado de natureza social, e produz ainda, em muitos casos, sob a pressão do meio (compulsão moral, como a chama Fidel). Ainda lhe falta conseguir a plena recriação espiritual diante de sua obra, sem a pressão direta do meio social, mas ligado a ele pelos novos hábitos. Isto será o comunismo.



continua...



Cúpula latino-americana aprova criação de nova organização sem EUA e Canadá

Após dois dias de debates, foi aprovada hoje (23) a criação de um organismo representativo para as Américas sem a participação dos Estados Unidos e do Canadá. A decisão foi aclamada pelos presidentes reunidos na Cúpula América Latina e Caribe, em Cancún, no México.

O órgão deve integrar os 33 países da região e velará "pelo respeito aos direitos humanos, ao meio ambiente, pela cooperação internacional para o desenvolvimento sustentável, a unidade e a integração, a paz e a segurança regional", disse o presidente do México, Felipe Calderón, anfitrião do evento.

Calderón disse também que o objetivo da entidade recém-criada é buscar um "melhor posicionamento da América Latina em acontecimentos de relevância internacional". Segundo ele, a criação foi feita em consenso, após “intenso debate”.

Por enquanto, a nova entidade nasce sem um nome definitivo. Fontes presentes na reunião disseram à agência de notícias espanhola Efe que vários já foram foram sugeridos. A nomenclatura provisória, “Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos”, foi proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo o presidente mexicano, o organismo terá como princípios o "respeito ao direito internacional, à igualdade soberana dos estados e ao não-uso ou ameaça do uso da força", entre outros pontos.

A criação de um novo organismo sem a participação dos EUA e do Canadá era um dos objetivos do encontro, que acontece desde ontem no balneário mexicano e deve terminar hoje.

Os termos do novo organismo e a forma como se dará a eventual substituição do Grupo do Rio e da Cúpula América Latina e Caribe pelo novo bloco ainda não foram esclarecidos.

Posicionamentos

O presidente cubano Raúl Castro chamou a decisão de "histórica" e disse que, a próxima reunião do Grupo do Rio e da Cúpula América Latina e Caribe, marcada para Caracas em 2011, será propícia para concretizar o projeto. Raúl enfatizou que Cuba "trabalhará com dedicação" pela consolidação do novo bloco.

Na prática, Cuba está afastada da OEA (Organização dos Estados Americanos), desde 1962, apesar de a suspensão ter sido revogada no ano passado. Atualmente, a OEA integra todos os países americanos, com exceção de Honduras.

Já o presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, considerou que a proposta para criar um novo órgão de integração que unifique a região "ainda não está madura" e requer "desenredar o emaranhado institucional" para impulsionar o início do funcionamento da instituição.

Segundo o presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera, "é muito importante" não tentar substituir a OEA.

Já para Lula, a criação do organismo representa fortalecimento e um grande trabalho de integração. "Não esperava chegar tão rapidamente à formação desta comunidade. Estou motivado, não há razão para sermos pessimistas”.

Liderança

A presidente do Chile, Michelle Bachelet, assumiu hoje a secretaria temporária do Grupo do Rio e fez um apelo em favor da integração regional para enfrentar a globalização.

Ao discursar, Bachelet se disse "profundamente honrada" com a responsabilidade de ser a titular do grupo e se comprometeu a "trabalhar intensamente nas tarefas para reforçar os laços de amizade e solidariedade de nossos povos".

Entretanto, ela ficará menos de um mês à frente da entidade, já que no dia 11 de março passará o cargo a Piñera. Até agora, a secretaria temporária do Grupo do Rio estava a cargo de Felipe Calderón.

Carta de um jovem brasileiro em visita a Cuba

De 24 de janeiro a 7 de fevereiro, foi realizada em Cuba a XVII Brigada Latinoamericana de Solidariedade à ilha. O jovem advogado brasileiro Alexandre Franco foi um dos membros da delegação do Brasil na Brigada. Neste relato emocionado enviado de Cuba por email a um amigo, Alexandre narra uma grande passeata que presenciou e as suas impressões sobre o país. “O povo cubano é realmente livre! Mas não é uma liberdade burguesa, individualista. É uma liberdade coletiva, que escolhe o caminho, que traça seu destino”.

Carta de um jovem brasileiro em visita a Cuba

Alexandre (ao centro) com crianças cubanas em um local de treinamento de boxe.
Alexandre (ao centro) com crianças cubanas em um local de treinamento de boxe. Foto: Viviane Tavares

Oi, tudo bem?

Olha, ontem, dia 27 de janeiro, participamos de uma marcha de tochas. Foi incrível! Vou lhe contar.

Dia 28 de janeiro, é aniversário do José Martí, um herói para os cubanos, que está completando 157 anos do seu nascimento. Esse herói foi um intelectual e militante político que dedicou sua vida pela independência dos povos da América Latina e Cuba, principalmente, na época da colonização espanhola. O Fidel sempre o cita nos discursos. Então, na noite do dia 27 fomos para Havana para participar de uma marcha que existia até mesmo antes da revolução, uma marcha, assim como o natal que se inicia no dia 24 de dezembro esperando o dia 25. Na noite do dia 27 todos vão para frente da Universidade de Havana, onde saem, incrivelmente cerca de 30 mil pessoas carregando tochas acesas e marchando pelas ruas de Havana.

Meu caro, foi a coisa mais linda que eu já vi! A juventude alegre, feliz, cantando, celebrando o natalício de um herói nacional. Não dá para acreditar que 30 mil pessoas vão às ruas, numa quarta feira, para marchar à meia noite! Essa história de que o povo cubano vai às ruas obrigado pelo governo é uma grande idiotice. Naquele dia, eu não vi sequer um policial ali, não havia nenhum agente do estado para reprimir ou coisa parecida. Milhares de pessoas com tochas na mão, marchando e cantando alegremente a oportunidade de estarem juntas celebrando uma data muito importante para eles.

Jovens cubanos em passeata pelo aniversário de José Martí. Foto: Viviane Tavares
Jovens cubanos em marcha de tochas pelo aniversário de José Martí. Cara de quem foi obrigado à marchar? Foto: Viviane Tavares

Eu fiquei na frente da marcha e quando olhava para trás via uma multidão sem fim, com os fogos acesos, num mar de gente culta, consciente, firme e resistente. Aquelas milhares de tochas acesas pareciam uma chama só. Uma gente guerreira, que está permanentemente em luta. Foi incrivel, meu caro! O povo cubano é realmente livre! Mas não é uma liberdade burguesa, individualista. É uma liberdade coletiva, que escolhe o caminho, que traça seu destino… É uma liberdade ampla, liberdade de ser culto, de compreender o momento histórico. Liberdade de ter clareza de quem são seus aliados. Liberdade de saber e ver quem é o inimigo. A educação os tornou livres! É um povo pensante, que resiste firmemente diante das dificuldades que enfrentam, e que são muitas e todos eles sabem disso. Mas acima de tudo, um povo unido pelo sentimento de pátria, algo que o povo brasileiro ainda não teve a felicidade de sentir.

Um povo que escreveu sua própria história e continua marchando, após 51 anos de triunfo revolucionário, após meio século de um criminoso bloqueio econômico que afeta suas condições de vida, mas ao mesmo tempo os tornam mais fortes e unidos para enfrentar o grande inimigo que a todo momento os ameaça. Um povo revolucionário que lembra cotidianamente seus mártires, seus lutadores que caíram na luta, seus heróis que não são duques aristocratas nem generais entreguistas. Seus heróis são outros: estudantes rebeldes, soldados revolucionários, trabalhadores, intelectuais do povo. Seus heróis são seus atletas aguerridos, seus poetas e músicos politizados…

O maior patrimônio de Cuba não é a biotecnologia, não são seus carros de meio século, não é o Capitólio, não é seu tabaco, não é seu rum. É seu povo. Digno. E dignidade coletiva se conquista não com uma lei ou uma sentença, mas com uma revolução. Só a ruptura das estruturas sociais antigas podem fazer emergir uma nova sociabilidade, que tenha na solidariedade e na valorização da dignidade do homem seus maiores princípios.

Dignidade cidadã. É isso que eu vejo aqui. O povo cubano é o povo mais digno do mundo.
É o que lhe conto.
Forte abraço!
Havana, 28/01/2010.


fonte: Fazendo Media

 

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